Editorial conservador

Jornalismo - O jornal paulista no seu editorial do dia 31 de janeiro (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz3101200901.htm) não deixa dúvida sobre o seu posicionamento sobre a estrutura social: um conservadorismo que foge a realidade de uma sociedade que passou muitos anos convivendo com as diferenças sociais gritantes, com exclusão e corrupção em várias esferas institucionais. O Brasil, deve pensar o seu lugar neste sistema global e se organizar no sentido de se defender de um sistema bancário que levou a bancarrota países muito mais estruturados, como os Estados Unidos e nações européias.

Não dá para afirmar que as reuniões de Davos e de Belém do Pará são exatamente pessimistas, mas realmente chegou a hora das lideranças sociais pensarem em alternativa para o modelo vigente que realmente chegou no seu limite. A continuação deste sistema em pleno século XXI, com o avanço das novas tecnologias da informação e redução das distancias entre pessoas nesta aldeia global seria a aceitação da ignorância. A rigor, as mudanças estruturais são inevitáveis, e transformações de discurso devem também perpassar os veículos de comunicação que há muito insistem na sociedade do espetáculo, como se vê na televisão e se estende para os demais meios como as revistas e jornais.

O debate, portanto, não é somente necessário, mas deve apresentar resultados em ações, no sentido de promover alterações nos governos e mercado que vêem pela frente somente recursos econômicos, sem se importar com a realidade de milhões de pessoas no mundo. Preciso lembrar que a fome continua uma realidade, a falta de educação ainda assola homens e mulheres. Uma economia centralizada possivelmente não será possível, considerando as crises que surgiram e levam a todos, mesmo aqueles que vivem em lugares distantes.

À Folha de S. Paulo, cabe ressaltar, deveria ser menos conservadora e valorizar os interesses de seus leitores, seres que vivem em meio ao imbróglio do mercado especulativo, sem alma e coração.

Estados Unidos e a raça negra

Internacional - Os negros em estão em alta nos Estados Unidos, pois desta vez o Partido Republicano de George W. Bush elegeu como presidente do partido Michael Steele. Ele será responsável, de fato, por amenizar a força dos democratas que tem Barack Obama como figura ilustre.

A grande questão a saber é exatamente se esta estratégia de valorizar notoriamente o negro serve aos propósitos de liberdades raciais no país americano, ou por trás disto está apenas interesses políticos e econômicos. A rigor, a participação efetiva da sociedade vem promovendo transformações importantes no cenário político mundial, o que poderá levar a mais reflexos nas instituições conservadoras e excludentes no mundo.

Salário mais que mínimo

Economia - O aumento do salário mínimo que passa a valer R$465,00 a partir de fevereiro sempre gera debates. De um lado o trabalhador que não se conforma com uma diferença de renda tão grande no Brasil, e com razão. Para tanto basta lembrar o faturamento de alguns bancos brasileiros que chega a casa dos 6 bilhões de reais líquidos (lucros) ao ano, algo em torno de meio bilhão ao mês.

Por outro lado, os empresários sempre preocupados com a folha de pagamento que vai onerar o seu caixa. Entretanto, o aumento nem é tão satisfatório assim, cabe lembrar que são apenas R$50,00 a mais, talvez nem dê para ir a uma pizzaria com os amigos. A crise brasileira, sempre lembrada neste momento como argumento, não serve como referência, pois o brasileiro-trabalhador vem pagando a conta da gastança deste país desde a sua descoberta.

Na realidade, a distribuição de renda no Brasil deve ser pensada com seriedade, afinal, não é possível uma nação em que uma minoria, iluminada, tenha milhões, enquanto que o restante, ignorante, padeça na miséria. O salário mínimo, nesta conjuntura, está para lá de mínimo, embora tenha melhorado substancialmente nos últimos anos.

Eleições no Senado

Política - A discussão em torno da eleição da presidência do Senado sinaliza para a redução de importância do partido, que fica em segundo plano, sendo que as estratégias políticas superam as ideologias partidárias. O governo não quer interferir nesta eleição em razão de entender que o peemedebista José Sarney será uma autoridade que serve aos interesses do governo federal. Com a sua eleição, Luiz Inácio Lula da Silva poderá transitar com mais facilidade no PMDB, com lastros em todo país. Diga se de passagem que Lula se apresenta desvencilhado das indicações petistas em suas decisões políticas.

Tião Viana (PT) - o outro candidato -, por sua vez, carrega o peso partidário dos petistas, sempre reivindicando do governo mudança de posicionamento político e fortalecimento do partido. Portanto, o presidente sofreria mais pressão do PT, o que será diferente com os peemedebistas, que passam a aliado, efetivamente, com Sarney na liderança. Afinal, o PT é governo e deve agir como tal.

A atitude do PSDB de se aliar ao petista Tião Viana vem no sentido de descer do muro, atitude sempre criticada pela sociedade. Entretanto, no fundo, a negociação com a Sarney não serviu aos interesses do partido que vê à sua frente apenas as eleições de 2010, com José Serra como candidato. Lula continua dizendo que Dilma Rousseff será a candidata do governo.

As eleições do ano que vem já começam a se definir a partir da eleição da Câmara e Senado. Todo movimento político serve para marcar território e ganhar terreno numa disputa com muitos lances, em um lugar onde não há santo.

RESUMO

Polícia - O fechamento de bares em Goiânia gera uma discussão acirrada que de alguma forma vem sendo feita na imprensa e sociedade. O resultado é que a administração municipal resolveu participar da questão que é, de fato, de sua responsabilidade. Contudo, alguma perguntas ficam no ar: será que o fechamento destes estabelecimentos vai realmente reduzir a criminalidade a médio e longo prazos? As pessoas ditas violentas e "marginais" somente freqüentam determinados tipos de lugares, conforme crê o estado, nas regiões periféricas?

Sem respostas convincentes, o que resta a sensação de poder da política e que nos faz relembrar, inevitavelmente, o tristes tempos da ditadura militar. A responsabilidade da sociedade - leia-se estado - é zelar pelo seu bem-estar, mas não pode discriminar pessoas conforme a região que mora e aparência física. A violência é causada pela própria sociedade que, com o uso da força, sem condições de resolver os seus efeitos, prefere a sua invisibilidade.

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Contraste - Os jornais estampam esta semana a greve dos sindicatos na França, um país que promoveu uma mudança política ao eleger o conservador Nicolas Sarkozy. Um governo que se aproximou das potências econômicas, no sentido de promover mudanças substanciais na estrutura de uma nação que promoveu por muitos décadas política voltada para os interesses sociais - o que resultou em tempos liberais em perda econômicas.

Esta não é a primeira revolta francesa nos últimos anos. A primeira, que envolvia jovens com idade de iniciar sua vida profissional, quis chamar a atenção para a falta de trabalho e a discriminação contra os imigrantes.

Mas o que chama mais a atenção é o rouba das jóias da ex-mulher de Sarkozy, avaliadas em R$1,5 milhões, retiradas de seu apartamento. Na verdade um constraste entre as duas informações: a greve dos trabalhadores por melhores condições de trabalho em meio a uma crise que atinge milhões de pessoas pelo mundo e a notícia sobre o assalto a ex-primeira dama francesa. De um lado trabalhadores em busca de melhores condições de vida, o tostão, de outro as jóias da ex-Senhora Sarkozy, o milhão.

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FSM - Esta semana foi marcada pelo Fórum Social Mundial realizado em Belém, reunião que traz discussões sobre a crise mundial que causou desemprego e fechamento de várias instituições financeiras, algumas famosas, sempre em evidência na mídia. Um dos pontos importantes em debate é a participação efetiva do Estado na economia, pois nas últimas décadas, com o ascendente liberalismo, apregou-se que o setor público seria maléfico para os interesses dos mercados, fundamentais para o desenvolvimento social.

A contradição veio exatamento com a crise imobiliária nos Estados Unidos e se espalhou por todo mundo, o que deixou transparente a incapacidade do mercado de se auto-regulamentar. Assim, o Estado passa a ganhar importância no sentido de evitar catastrofes maiores na sociedade. Contudo, o ponto a ser analisado é qual será esta participação estatal? Afinal, nem sempre o Estado esteve do lado simplesmente do bem-estar-social, mas aliado ao sistema financeiro numa econômia globalizada e sem regulamentação efetiva. O homem comum sabe onde, no final, a corda arrebenta.

ORDEM SEM PROGRESSO

Aumentar juros na contramão dos interesses da sociedade significa demonstrar como funciona um sistema que se apresenta sólido na injustiça e na forma de tratar a coletividade.

As transformações no modelo sociais são necessárias no sentido de adequar o sistema ao espaço de vida das pessoas – o espaço vivido. O socialismo/comunismo teve papel importante para a polarização de idéias e ideais entre dois sistemas com grandes diferenças de percepção do homem. O capitalismo triunfou pelas lógicas da força intrínseca dos pequenos grupos organizados, com estratégias que vai além da força intelectual particulares, a rigor, perpassa os meio de comunicação e educação. A princípio, se mostrou mais eficiente com efeito de igualdade , no entanto, não pôde esconder a desigualdade social, a centralização econômica exacerbada. A injustiça econômica reluz de maneira que ficam claras as diferenças entre aqueles detentores do capital e os marginalizados em guetos, em meio à pobreza financeira e de conhecimento.

Se um dia houve esperanças de mudanças a partir de cima para baixo, ou seja, um sistema que se transformasse para a inclusão parece que não ocorreu, de fato. Contudo, há algumas transformações emergindo na base deste sistema, devido à ineficiência na gerência do capital sem concorrência ideológica e da participação do próprio homem da margem no cenário político.

Numa análise simples é possível perceber que o acúmulo imensurado dos grupos econômicos levou a uma crise no próprio capitalismo, pois a bolha imobiliária nos Estados Unidos refletiu o anseio exagerado pelo resultado financeiro a qualquer custo, mesmo considerando levar a reboque um mundo inteiro, a bancarrota. Não é possível dizer que governo e investidores não conheciam os lastros de seus negócios e o resultado de seu fracasso, mesmo numa visão a longo prazo. Atitude que demonstra a segurança de especuladores em um sistema que os apóiam intransigentemente.

As discussões que surgem nas diversas mídias, na realidade, não passam de teatro, ao considerar que além da perda de bens de alguns, ninguém sofreu penalidades e ainda os especuladores espertos mantêm-se donos de grandes e vultuosas somas de recursos. Muitos ainda contam com apoio financeiro do Estado americano e dos vários países atingidos, inclusive no Brasil. A dívida chega a dois trilhões de dólares somente nos Estados Unidos, epicentro da crise, que será paga indubitavelmente pela população que não participou da farra especulativa.

No entanto, apesar do interesse de mudanças na forma de se organizar o sistema de poder político e econômico, há movimentos que continuam se posicionando contra as alternativas a um modelo que não serviu a algum propósito de liberdade e igualdade. Neste sentido, dois exemplos. O primeiro, a Bolívia de Evo Morales vem sendo criticada nos últimos dias justamente porque aprovou uma nova constituição que valoriza a cultura indígena em detrimento das regiões ricas, que, evidentemente, votou contra a aprovação as mudanças constitucionais – afinal, a mudança significa perda de poder das minorias. Estranho imaginar que o discurso hegemônico revela que a maioria não tem competência de propor mudanças, por considerar que as regiões que desaprovam a carta magna são habitadas por pessoas de alto padrão econômico, portanto, deve prevalecer a sua vontade em relação a da maioria, teoricamente incompetente para tomar decisões legítimas.

Um segundo exemplo vem do Brasil. Pois no país há uma grande discussão sobre a redução da taxa de juros por parte do governo - a Selic - e o aumento da cobrança de juros dos bancos particulares. Ressalta aos olhos a injustiça com a sociedade brasileira que a cada dia vê o aumento do índice de desemprego e deve conviver com os interesses mercantis dos bancos de aumentar seus rendimentos com altas taxas de juros, mesmo considerando o esforço da sociedade em se organizar no sentido de minimizar a crise vinda exatamente dos países ricos – Estados Unidos e Inglaterra, Japão principalmente.

Ora, onde está o bom senso? A chamada inadimplência é responsabilidade também da ordem financeira que fez quebrar grandes bancos que exploraram com ganância o mercado imobiliário, sobremaneira. Aumentar juros na contramão dos interesses da sociedade significa demonstrar como funciona um sistema que se apresenta sólido na injustiça e na forma de tratar a coletividade.

Apesar de tudo, a discussão, embora inevitável, se revela tímida, e quando se apresenta sobre estes temas o destaque é no sentido de consolidar uma prática que interessa a ordem, mesmo considerando que o modelo precisa sofrer mudanças em sua estrutura. O que deverá ocorrer mais cedo ou mais tarde, conforme se vê na participação mais efetiva do homem social, principalmente na política de Estado. Como exemplo a existência do Fórum Social Mundial, realizado este ano em Belém - diante das belezas da Amazônia- , num confronto de idéias com a reunião de Davos, na Europa. O debate ainda é tímido, mas sem dúvida já é um começo.

ESTRATÉGIAS PÓS-MOERNAS

O salto aos olhos neste momento o grande apoio popular dado a Barack Obama, conforme relato da imprensa, cerca de 80%. Assim, o país-império atinge um de seus ideais: não ser odiado como na, impopular, era Bush, o que poderá render uma relação menos conflituosa com o mundo.


A data da posse do novo presidente dos Estados Unidos se transformou numa grande apoteose, com transmissão que atingiu o mundo todo, ao vivo, sem deixar nenhum detalhe dos momentos da grande festa. Cabe no entanto não deixa de lado o racional e avaliar sem emoção as grandes questões que envolvem o momento atual do país-império nesta pós-modernidade. A princípio não se pode esquecer das estratégias econômicas, políticas e culturais que estão por trás das mudanças que envolvem a condução do sistema social mundial. De fato, não se pode afirmar que George Bush seja o grande culpado pela decadência do país americano e Barack Hussein Obama o grande salvador da pátria.

Escolher pode expiatório e deuses parece ser um lugar comum quando se quer evitar discutir a estrutura de um sistema que tem na sua formação instituições hegemônicas. Sobretudo, as grandes empresas, bancos, poder militar, organizações sociais. Os Estados Unidos, como todo país que se vê como império, têm seu tempo de prosperidade e decadência, como ocorreu com a Inglaterra, por exemplo. Os excessos cometidos na formação desta estrutura devem ser avaliados, afinal, não é possível imaginar um presidente ser eleito simplesmente pelo desejo dos cidadãos, sendo negros ou brancos. Por detrás da formação de um grupo dirigente há pessoas de poder financeiro que movimenta o espaço político. Não será diferente com nenhum presidente dos países mundiais capitalistas. Verdade é que Obama conta com apoio de grandes empresas, políticos e organizações que deram base para sua vitória, o que culminou no final com a aceitação da sociedade, formada por pessoas saturadas com um sistema imperialista criticado e odiado globalmente – um erro para uma economia imperialista.

Neste sentido é preciso analisar as estratégias, que muitas vezes, simplesmente, servem ao propósito de permitir mudanças para, no fim, manter a estrutura ou evitarem grandes perdas. A rigor, a decadência financeira dos Estados Unidos vem sendo formada ao longo dos últimos anos, com sucessivas crises do capitalismo, invitáveis, diga-se de passagem, devido à complexidade do próprio sistema conduzido por interesses de grupos, que, mesmo agindo no “coletivo” na defesa de um modelo, paradoxalmente, de maneira particular, cada um, busca enriquecimento egoisticamente.

O salto aos olhos neste momento o grande apoio popular dado a Barack Obama, conforme relato da imprensa, cerca de 80%. Assim, o país-império atinge um de seus ideais: não ser odiado como na, impopular, era Bush, o que poderá render uma relação menos conflituosa com o mundo. Mas será que com a troca de poder político o capital centralizador será menos hostil com os países pobres? Haverá mudanças no tratamento com os parceiros mundiais tidos estrategicamente como “eixo do mal”? As trocas econômicas envolvendo Estados Unidos e o resto do mundo não serão de imposição, algumas vezes com apoio militar – como é o caso do Iraque, Coréia do Norte, palestina e Cuba?

A torcida pelo sucesso social de Obama é claro nos quatro cantos do planeta. Inteligência e perfil de uma grande liderança são expressivos no novo presidente, entretanto, é preciso entender a dinâmica do capitalismo que de crise em crise vai construindo sua base para superar os entraves e manter-se na direção de mentes e corações. O que não se sabe é até quando a reação as mudanças vai ocorrer, pode ser este o momento de o mundo conhecer nova alternativa de sistema social. É aguardar para ver.

Em resumo, todavia, um império para continuar hegemônico precisa mudar suas estratégias de domínio e o seu discurso para manutenção de um sistema. Contudo, cabe aos leitores e debatedores procurar entender o que está por trás dos movimentos – verdade é que muitos intelectuais conhecem as nuances do poder, mas evitam a dissonância discursiva aparente. De fato, embarcar nas análises simplistas significa fazer parte de uma massa ainda passiva diante da realidade contemporânea, paradoxalmente, na era da informação.

FIM DA HISTÓRIA E DO NEOLIBERALISMO?

A sociedade pode não estar simplesmente mais bem informada, entretanto, sente mais rapidamente o descontrole de um sistema que exige passividade diante da necessária atividade produtiva constante – num ritmo alucinante.

A vitória de Barack Obama gerou uma discussão na imprensa brasileira e internacional sobre a sua capacidade ou não de mudar a ordem mundial, estabelecida a partir das ênfases econômicas e beligerantes. A rigor o grande debate que se apresenta é se haverá alterações na estrutura social e financeira do mundo, globalizado. Para esta questão os enunciados nem precisam de verbo simplesmente, pois está explícito: o resultado das eleições do país mais rico do mundo leva a alguma mudança. Não exatamente porque determinados grupos hegemônicos tenham este tipo de desejo, mas simplesmente em função de atitudes políticas que não mais se sustentam numa realidade que atemoriza pessoas pelo mundo. A rigor, uma nação isolada, com discurso único, em período de globalização possivelmente põe fim a qualquer grande império. Desta forma, eis uma questão difícil de analisar e não deve ser percebida a partir apenas de visões pragmáticas, como se a realidade fosse uma conta exata. Os defensores da ordem capitalista ortodoxa precisam buscar novas estratégias de condução do espaço social, que se movimenta numa dinamicidade, decidida a partir da própria mediatização.

Para aqueles que olharem para trás vai perceber referências importantes das mudanças, afinal, na história as mudanças de paradigmas (modelos políticos e econômicos) sempre existiram, todavia, as rupturas passam a ser esquecidas exatamente como forma de fazer surgir a imagem de uma história dinâmica. Entretanto, perder de vista os momentos importantes das rupturas, torna-se ponto de alienação, ou melhor, perda de identidade, pois se esquecemos o passado nos tornamos sem origem. Com efeito, a esfera social vem sofrendo alterações em sua estrutura, a começar das duas grandes guerras que promoveram reorganização do sistema, com inserção de novas tecnologias com mais investimento na ciência, principalmente na área bélica, além do recrudescimento das políticas de determinados países que gerou a chamada guerra fria envolvendo duas poderosas nações – teoricamente, de um lado capitalismo e de outro socialismo. O Brasil vive de rupturas, ainda mais na política. Poderíamos dizer que há permanentemente uma luta entre grupos hegemônicos e classe desprivilegiada que com muita mágica passa despercebida do imaginário social. Estratégias para este fim não faltam.

O fim da história não se efetivou como muitos pensaram, ao contrário, a história continua sendo contada, que neste fluxo de comunicação contínuo aumentou sua dinâmica. A sociedade pode não estar simplesmente mais bem informada, entretanto, sente mais rapidamente o descontrole de um sistema que exige passividade diante da necessária atividade produtiva constante – num ritmo alucinante. As trocas informacionais são inevitáveis e inexoráveis no sentido de promover alavancas nas relações entre o desejo e o permitido, no seio da sociedade. A rigor, o efeito latente forma no homem globalizado o sentimento de pertencimento e participação – mesmo que seja apenas um simulacro - num mundo que muitas vezes não lhe diz respeito. Como não é possível construir uma estrutura única, as alterações promovidas lentamente levam a todos para rumos antes desconhecidos e não esperados. Eis a essência.

A eleição nos Estados Unidos ressalta essa dinâmica, de uma sociedade pertencente ao espaço global público mediatizado submetido às práticas locais com suas identidades. Logo, vale dizer, o que menos importa neste momento é saber se Barack Obama vai ou não ser eficiente, pois neste sentido, cabe uma análise pragmática complexa. Possivelmente vai repetir fórmulas anteriores e arriscar alterações na ordem estabelecida. O que importante, entretanto, é perceber a resposta da sociedade as negociações na esfera pública. Afinal, como poderia se imaginar um negro na Casa Branca, cosmopolita, de origem Africana? E mais, um intelectual, com carisma e capacidade de convencimento, o que vai contra determinados princípios norteadores de exclusões que apregoavam questões genéticas para definir os melhores, com a palavra os positivistas.

Se alguém pensou o fim da história equivocadamente, não cabe aos exaltados imaginar o fim do neoliberalismo, entretanto, cabe ressaltar a necessidade de repensá-lo, pois, na sua essência há fissuras, se não vistas rapidamente haverá sua implosão e novos paradigmas serão inevitáveis. O que de fato não será negativo, pois, os excessos contaminaram a única fórmula de pensamento existente. As estratégicas são disfuncionais, as engrenagens estão bambas, que em alta velocidade ganha estabilidade, mas não há nada que se equilibra sem “reparar” algumas peças vitais, uma delas é a razão humana.

UM ÍCONE NA CASA BRANCA

As mudanças não midiáticas são inexoráveis ao redor do globo e no centro. Se confirma a vitória de Obama, o mundo terá um ícone da alternância de idéias no comando, mesmo considerando que as mudanças sejam somente virtuais.

Analisar a sociedade como dinâmica certamente é uma tarefa árdua para quem deseja manter um modelo eternamente. Evidentemente que aqueles que estão no comando do poder, seja econômico ou político, não têm razão para apear do status quo e viver perigosamente em meio às dificuldades que assolam a grande maioria, alijada do jogo em que as regras lhe são desfavoráveis. Entretanto, o número faz a diferença, embora não seja, de fato, uma soma simples, com resultados previstos. Afinal, no social se forma o chamado efeito latente, idéias que ao longo dos anos vão se desenvolvendo, as quais provocam mudanças na estrutura, que não seria possível imaginar imediatamente, mas com o passar do tempo se tornam possíveis e necessárias. Neste propósito estão as eleições nos Estados Unidos, que provavelmente levarão ao poder um homem de origem simples, cujos requisitos faz emergir preconceitos que remontam a períodos tenebrosos da história ocidental.

Como não é possível conceber a idéia de que o governo de um império econômico, como os Estados Unidos, seja dirigido por apenas um homem, faz ressaltar a razão que há estratégias das lideranças econômicas e políticas na elevação ao poder de um homem que representa, de alguma forma, os menos afortunados, para não dizer muitos marginalizados. As mudanças de representação certamente vêm embasadas de sinais que se apresentam para os grupos líderes da nação americana e, desta forma, prevêem os anseios sociais, os quais demonstram necessidade de trocas de comando no poder. Neste sentido, muitos que deixaram transparecer conservadorismo quanto às mudanças, apostam na necessidade de trocas - é o que evidenciam os números das pesquisas eleitorais que apontam vitória de Barack Obama, democrata, e derrota de John MacCain, republicano e conservador, um homem conhecedor da guerra.

Afirmar que o democrata é progressista seria um erro, pois num império o conservadorismo é indispensável para manter a ordem. A rigor, o sistema precisa se estruturar não apenas internamente, como externamente; daí as medidas sempre adotadas na economia e no poder coercitivo (bélico) no sentido de ampliar o terror aos fora da lei imperial e a publicização dos prêmios para os conservadores dos bons costumes do país ordenador. Neste sentido, seria lúcido avaliar que os governos se tornam marionetes diante da força das leis tácitas que se apresentam na organização de um sistema global, com economia mundializada. Os meios de comunicação de massa se apresentam, nesta lógica, como o elo mediador para punições e premiações. Nada pode ficar às escondidas, tanto o sofrimento quanto a alegria em função dos resultados econômico e político. Obama tem o apoio de tradicionais empresas de comunicação e de grandes multinacionais americanas, o que fortalece a tese da manutenção da ordem econômica, pelo menos.

Entretanto, cabe ressaltar que o candidato democrata, diferentemente do republicano, tem mais a cara do popular. O que indica alterações na forma do núcleo ordenador de perceber a importância de valorizar o pensamento de uma maioria, que nem sempre foi ouvida, com exceção em alguns espasmos, devido à falta de controle, o que não parece ser a questão no momento, diante das mudanças de poder ocorridas em diversas nações globalizadas, principalmente nos países periféricos. Exemplos não faltam, a começar pela América Latina que não segue integralmente os desejos estruturantes dos países centrais. Assim como, o enfrentamento do oriente médio contra as determinações centrais e o crescimento econômico e participação das decisões mundiais de China e Índia, vistos como socialistas, ou comunistas radicais, dependendo do enfoque dado no momento.

As mudanças não midiáticas são inexoráveis ao redor do globo e no centro. Se confirmada a vitória de Obama, o mundo terá um ícone da alternância de idéias no comando, mesmo considerando que as mudanças sejam somente virtuais. Mas como todo signo tem a potencialidade de símbolo, isto nos arremete a alterações no modelo vigente. Caso isto não ocorra devemos esperar mais crises latentes, com resultados mais próximos.

QUEM VAI PAGAR A CONTA?

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil.

Com a crise cravada no coração da principal potência econômica mundial, nos países ricos seguem um debate, simulado, na mídia sobre as formas de “salvar” o mundo da grande depressão econômica. Embora, o governo de George W. Bush tenha se decidido – embora isto já estava em curso nos bastidores políticos, com apenas aparência de discussão social – pela ajuda de bilhões aos bancos e agências financeiras atolados no pântano da economia global. Terreno movediço que se formou depois de várias décadas de resultados astronômicos e enriquecimento de um número reduzido de investidores nas bolsas de valores. Neste momento, entretanto, cabe uma pergunta: com o fim da festa – com um prejuízo incalculável – com a gastança exagerada na manutenção de status e riqueza, quem vai pagar a conta? Pelo que se percebe será a sociedade, de preferência global-periférica. A velha máxima de lucros particulares e prejuízos socializados. A festança é privada, a conta é pública.

Nos Estados Unidos e Europa a socialização dos prejuízos está definida, o que gerou descontentamento no país norte-americano, acontecimentos públicos que não receberam destaque da mídia, embora ocorressem manifestações populares nas ruas da nação vista pela mídia como um lugar de paz, ordem e desenvolvimento permanente – um porto seguro devido ao liberalismo econômico. Na verdade, o resultado será o aumento do número de pobres que serão responsáveis pela conta salgada que deve chegar a trilhões de dólares.

No país mais rico do mundo, agora em crise, resta esperar a tomada pelo poder de um governo capaz de resolver a aparente depressão econômica. Duas alternativas: um conservador, com pensamento parecido com o do atual governo, John McCain ou Barack Obama, um intelectual que se mostra liberal, embora de origem humilde, filho de pai africano. O fato é que qualquer um deles terá que prestar conta aos grandes donos do capitalismo mundial, certamente numa infindável discussão que resultará numa solução simples: a manutenção do modelo econômico vigente. Cabe a sociedade aceitar ou não, desta forma, responsável pelas mudanças indispensáveis para um modelo que se apresenta esgotado.

No Brasil, torna-se assustador o discurso recorrente dos meios de comunicação de massa, puxado pela revista Veja e Folha de S. Paulo, veículos de grande audiência, sobre a necessidade do governo de custear a derrocada de empresários “empreendedores” que investiram pesadamente no mercado financeiro, e, agora, tem uma conta a ser quitada.

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil. Pessoas responsáveis pela luta diária para manter-se viva em um país cuja estrutura de tão capenga que os nativos já se acostumaram com as enormes filas nos hospitais públicos, humilhação cotidiana a ser destaque nos grandes centros financeiros como pela falta de educação de qualidade, infraestrutura básica. A rigor, convivem com a falta de recursos para se adquirir o básico necessário. Mas diante da crave crise que assola tais empresários visionários, o resultado apresentado pela mídia é o endividamento do Estado, ou seja, dinheiro público para financiamento da crise edificada nos espaços particulares.

A cada dia os enunciadores midiáticos aprofundam o problema, com alarde de uma crise que deverá chegar aos subdesenvolvidos, que, de fato, não está imune a quebradeira, embora em melhores condições que há décadas. No caso do Brasil numa situação menos dramática daquela sob gestão do Fundo Monetário Internacional (FMI) – instituição criticada devida a incapacidade de prever a crise, possivelmente partícipe do jogo que culminou com a depressão.

Talvez os meios de comunicação, produzido por jornalistas que conhecem a realidade melhor que muitos dos cidadãos do país, e suas respectivas fontes, devessem esclarecer melhor a real situação da derrocada financeira global, sem os simulacros que além de desnecessários, pode aprofundar a situação de penúria que vive milhares de pessoas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, em benefício daqueles que sempre tiveram a proteção do Estado, com gastança do dinheiro público.

O PENSAMENTO ÚNICO RUIU

Embora tenhamos muitas questões a serem analisadas neste momento de quebradeira dos bancos, ícones da globalização, devemos analisar como as informações continuam na direção de ratificar o pensamento único, advindo de uma realidade que nunca existiu.

O sistema global começa a implodir, finalmente, depois de várias décadas de expansão exagerada do setor financeiro e a disseminação da desigualdade social. Na verdade este é o resultado de um mundo que se tornou excessivamente homogêneo, numa visão singularmente econômica, com grandes dificuldades de estar nele para uma população que se tornou refém das redes financeiras, sustentada pelo discurso dos meios de comunicação de massa, sempre em expansão, como suporte de informação e publicização de imagem de força, ordem, igualdade e crescimento. Infelizmente, a realidade que se mostrou e que se mostra não é esta como se vê, mais nitidamente agora, com a crise dos mercados globais, o motor deste sistema de fluxo financeiro contínuo e imediato está com a engrenagem avariada.

Embora tenhamos muitas questões a serem analisadas neste momento de quebradeira dos bancos, ícones da globalização, devemos analisar como as informações continuam na direção de ratificar o pensamento único, advindo de uma realidade que nunca existiu, sempre construída a partir de interesses tão-somente particulares de grandes grupos centrados no financeiro e político. Neste sentido, até mesmo os representantes simbólicos desta estrutura, que por ora está em xeque, são colocados como bode expiatório. Como exemplo o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aparece para a mídia brasileira como uma figura do fracasso, incapaz de dar suporte para a resolução do problema, como se fosse o responsável pela crise que abate o setor bancário e países centrais. Se um dia representou a figura capaz de liderar uma ordem global, livrando o mundo do caos, cujo epicentro viria das regiões periféricas, agora o chefe estadunidense aparece como incapaz, uma autoridade sem carisma e competência. O líder liberal impopular jogado a própria sorte, de um destino inevitável.

O surgimento dos chamados bode expiatório se faz uma estratégia muito simplista, para não dizer maldosa, que visa apresentar para a sociedade pessoas culpadas pelos erros que assola comunidades inteiras espalhadas pela aldeia global. A rigor, estratégia se mostrou eficiente no Brasil por muitos momentos, como no caso Collor de Melo, governos militares, crises no parlamento brasileiro, com emblemático caso Renan Calheiros. No final, apenas uma atitude de agradar pessoas atingidas pela crise, como forma de compensação por algo que sensibiliza negativamente a opinião pública. O problema continua do mesmo tamanho, ou talvez mais complexo, entretanto, com o alento público. Indubitavelmente, Bush não é o único culpado pela crise, afinal, não existe país de apenas uma pessoa que o dirige. Por trás de qualquer governo há grupos que representam interesses os mais diversos. No mundo globalizado liberal, na base de um governo está o setor financeiro, primordialmente – consensualmente, o que representa o desenvolvimento e as grandes transformações sociais. No Brasil não é diferente.

As grandes questões que se surgem neste instante: a rigor, estamos ou não numa grave crise? Haverá mudanças na estrutura do sistema liberal que, ao longo das últimas décadas, quis um estado submetido aos interesses econômicos, simplesmente? Continuará a pressão política pela redução do Estado do bem-estar social? Questões difíceis de responder, entretanto, na mídia é possível perceber a busca de relatos de personalidades do setor financeiro para reforçar que se trata apenas de uma crise passageira, que no final estaremos todos muito bem, e, certamente, melhores, numa sociedade dirigida por pessoas da mais alta competência, até porque as crises no capitalismo são inevitáveis. O que não se mostra tão simples é imaginar que muitos ficarão na miséria enquanto aqueles os quais sempre foram privilegiados continuarão bem financeiramente e em condições para liderar a passagem para um sistema que se mantém como antes, ou seja, centralizador, sistematizador. Como discurso tal afirmação pode não se materializar.

Os discursos, ou melhor, as notícias estampadas nos meios de comunicação de massa, salvo exceção, dão conta da crise, mais apresenta o terror de uma sociedade diferente daquela idealizada como a ideal, ou seja, de mercados liberais. Deste modo, a mídia se torna, como sempre se apresentou, como importante veículo para difundir os mesmos ideais, apesar da aparência de mudanças. Ademais, mantém-se como o importante meio para evitar tensões e estabelecer manutenção da ordem, apesar do derretimento de um sistema que se passa por eficiente, mas determinante. Depois da turbulência, o pensamento econômico não continuará único, pois, a comunicação fora das redes tem seu fluxo.

MÍDIA, DISCURSO E LIBERALISMO


A revista Veja, encarnando o discurso do liberalismo, teve mais trabalho diante dos caos e da realidade incontestável. Destampou em sua capa uma imagem emblemática.


Nas últimas semanas o mundo econômico tremeu com a avalanche das empresas do mercado financeiras, a começar pelos bancos dos centros econômicos mundiais. O que já era esperado por analista, de fato, ocorreu deixando as bolsas de valores em polvorosa, e não somente isto, os tradicionais meios de comunicação de massa se viram numa situação delicada: como sustentar, apesar das evidências, discurso de um Estado mínimo e instrumento de um mercado livre regulador da sociedade? A tarefa realmente não se mostrou fácil. No final, as capas das revistas e as manchetes dos jornais não deixavam dúvidas, quantas dificuldades teriam para construir um discurso que reduzisse o pessimismo de uma sociedade que poderia despertar – ou já estava desperta - para o problema.

Todo sistema que se preze precisa de reajuste permanentemente, afinal a sociedade é dinâmica, e as mudanças são inevitáveis. Considerando uma condição extrema, a revolução de uma estrutura se faz necessária, afinal, a alternância de um modelo depende de sua eficiência, enquanto resultados na vida prática e sua capacidade de gerar informações que o sustente. Nestas últimas semanas as duas coisas não ocorreram: o símbolo máximo do liberalismo econômico ruiu, e as informações não conseguiam convencer as pessoas, que percebiam, nas imagens globais, o fracasso do governo dos Estados Unidos de conter a quebradeira e a queda acentuada das bolsas de valores.

O mais irônico disso tudo é que os países subdesenvolvidos – na verdade os países periféricos, a margem dos países centrais - não sofreram grandes perdas de capitais e conseguiam se sustentar, sem muitos desgastes. Ou seja, a avalanche não atingia os pobres, que depois de muito sofrer com os espirros do centro resolveram imunizar-se das doenças de um sistema centralizador e dominante. Em outras palavras, lentamente a periferia resolver buscar seus medicamentos e se revigorou contra os vírus que inexoravelmente deveria espalhar a curto ou longo prazo.

Nesta batida, os meios de comunicação de massa globalizados precisavam estampar em suas capas e no seu interior, símbolos (imagem) e texto (discurso) que dessem exemplos de força e capacidade de tomar medidas razoáveis para salvar o sistema.
A rigor, a crise não passou e a pergunta que não se cala é: o liberalismo econômico se mantém ou finalmente sucumbe aos eventos de uma economia sem controle que envolve os interesses de grandes empresas e cifras de trilhões, numa chamada bolha especulativa. Na linguagem econômica créditos apresentados como bons que na verdade não tem liquidez. Em outras palavras são cifras milionárias em créditos não têm valor, o que resulta em pura mágica do mercado financeiro – no final todos os americanos pagarão a conta. Como ninguém quer ficar com prejuízos todos correm se salvar – o que não ocorre com os contribuintes. Um salve-se quer puder de um grupo que sempre foi privilegiado pelo Estado liberal.

A revista Veja, encarnando o discurso do liberalismo teve mais trabalho diante dos caos e da realidade incontestável. Destampou em sua capa uma imagem emblemática. Tio Sam aparece com o dedo apontado para o leitor – neste contexto para milhares de brasileiros – dizendo “Eu Salvei Você!”, como subtítulo: “O governo americano evita o colapso financeiro mundial e nunca mais Wall Street será a mesma”. Talvez devesse dizer: o liberalismo, depois do último colapso deverá sofrer mudanças. De fato, o Estado deverá tomar o seu lugar, ou seja, o regulador da economia sem regras, e, evidentemente, se preocupar com o bem-estar-social, pois a doença que atinge bancos é diferente daquela que deixa enferma milhares de pessoas que vivem na miséria – não somente de alimentos, mas de informação, conhecimento e educação. Contudo, fica uma lição, o mercado muito concentrador certamente não tem condições de se responsabilizar pela vida em sociedade.

Ressalta aos olhos a dificuldades de alguns meios de comunicação de massa ao perceber a realidade não fazem jus a sua função, que é a de informar com isenção. Maquiar informações talvez não seja uma boa saída para uma sociedade que se informa por outros meios. A notícia tem mais rapidez que nos tempos de Gutemberg – o inventor da prensa no século XV -, com os adventos tecnológicos. Apesar do monopólio para o comércio global, a comunicação em rede também abre caminho para fluxo de trocas de informação.

Contudo, vale uma ressalva, a questão da enfermidade ainda não está resolvida, ainda será necessário muito medicamento para tratar a doença. Embora lentamente pode chegar a outros lugares. Afinal, estamos numa aldeia global.

JORNALISMO E JUSTIÇA

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral.

A sociedade a cada dia vive a reboque do poder judiciário, que define as regras no espaço público, muitas vezes sem considerar o espaço vivido social. Não se pode esquecer que a ordem do sistema deve estar numa relação direta com os interesses da maioria, conforme equilíbrio que permita a liberdade de escolhas dos indivíduos. As eleições que passaram pelo crivo dos coronéis e os votos de cabresto, podem estar sendo definidas a partir de um centro que talvez desconheça as características peculiares das relações humanas. A decisão para o voto deve ser do eleitor bem informado, caso contrário, se estabelece a eleição de quem tem mais visibilidade, obtida fora do período eleitoral, por conta da capacidade financeira ou relações políticas. Neste sentido, nos pequenos municípios brasileiros o excesso de restrição da justiça intimida os meios de comunicação a exercer sua prática: a informação. O resultado é um leitor mal informado e a dificuldade de surgirem novas lideranças políticas. Um mundo que gira sem sair do lugar.

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral. Afinal, o que não é divulgado não é público. Desta maneira, quem se apresenta como candidato a um pleito deve se mostrar à sociedade, com liberdade, desde que não infrinja contra o bem público. Logo, deverá estar aberto ao crivo da crítica e ser questionado pelos mediadores sociais – ao contrário de cooptar líderes de opinião -, maneira pela qual será conhecido por suas propostas e enquanto autoridade capaz de exercer um cargo representativo. Infelizmente o Brasil continua sendo pensado e organizado a partir de determinados grupos de líderes institucionais, o que torna o homem social, em um sistema fechado, apenas participante de uma massa, avaliado como um ser, por natureza, incompetente para definir as suas próprias escolhas.

Sem dúvida, em muitos momentos as mídias locais preferem se ausentar da responsabilidade pela informação, com cuidado excessivo, temendo as pesadas multas. Entretanto, torna-se importante a sua participação no espaço que lhe é conferido pelo público, qual seja, a de informar os fatos ocorridos na sociedade, inclusive, no caso de período eleitoral, que diz respeito à vida pregressa, relacionamentos partidários e projetos apresentados pelos candidatos. Evidentemente, tendo como base a ética e isonomia entre os pleiteadores de cargos públicos.

Todavia, o entendimento de uma visão funcionalista continua na ordem do dia. Ou seja, a melhoria da sociedade passa pelas lideranças pensantes e capazes, as quais devem ser seguidas pelo homem ainda alienado, incapaz de decidir por suas escolhas. Sendo assim pessoas iluminadas devem zelar pelo excesso de estímulos que pode contaminar o seu parco conhecimento do homem-massa, caso contrário, o resultado será uma sociedade pouco funcional e ludibriada por espertalhões que usam da inocência alheia para atingir os seus interesses particulares. Não se pode esquecer que o excesso de ordem pode levar a desordem ou mesmo à disfunção. Cabe destacar que mudanças de paradigmas, ao longo do tempo, existem, o que, de fato, é importante no equilíbrio social, causando rupturas nos modelos autoritários. Exemplos não faltam.

Finalmente, a rigor, não existe outra forma de sociedade democrática sem a participação popular – neste ínterim estão os mediadores sociais no que se refere à comunicação - que resulta em decisões e escolhas com liberdade, considerando, sobretudo, que a sociedade está sempre em transformação, pois a comunicação é permanente.

PÓS-MODERNIDADE SEM JORNALISTAS

A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas.

A discussão sobre o fim do diploma para jornalistas novamente vem à tona em debate público que se arrasta por décadas, sem muita visibilidade, embora diga respeito a uma categoria e a toda sociedade. A comunicação midiática, afinal, perpassa toda sociedade que depende dela para seu equilíbrio e funcionamento. A grande questão é exatamente entender a importância e o que representa a sua desestabilização, considerando que há interesses os mais diversos no fim da obrigatoriedade do diploma para profissionais que se dedicam as notícias da cotidianidade, estrutura basilar para manutenção da ordem em um sistema de instabilidades. A grande questão é saber se por trás do tema agendado está realmente o desejo pela liberdade de expressão, impedida pela exigência do diploma, como advogam alguns juristas e empresários; interesses econômicos das empresas de comunicação pelo aumento do número de pessoas disponível para o trabalho; ou realmente a preocupação está na manutenção da estrutura do sistema social capitalista, que freqüentemente passa por crises.

Mesmo considerando que o diploma não seja uma exigência de todas as nações mundiais ditas democráticas, não se pode confundir a realidade brasileira com as demais, sob pena de errar nas análises, pois, há peculiaridades aqui que não se acham acolá. A história brasileira deve ser observada inclusive pela sua colonização que macula muitos espaços importantes da sociedade moderna, a começar pela corrupção política, as leis que se originaram pelos interesses coloniais, dentro da ordem política e econômica. O jornalismo tem suas raízes, no Brasil, neste imbricado meio, não de maneira passiva como se imagina, mas muito ao contrário. Transformou-se ao longo do governo monárquico como ponta de lança das mudanças sociais que culminaram com o fim do absolutismo e começo do governo republicano. Importante destacar que nesta época nem se pensava em diploma, nem os incipientes jornais lembram a imprensa que conhecemos. Evidentemente que são tempos de uma sociedade em que se discutia a situação de milhares de pessoas sem escolas boas ou ruins. Os chamados jornais pasquins – tratados de maneira pejorativa e pouco conhecidos pela historiografia - serviram ao propósito: apoiar necessárias mudanças da ordem estabelecida em meio às grandes diferenças sociais que, vergonhosamente, persistem no País.

Nesta mesma análise o jornalismo passa a ter importância efetiva, a começar nos Estados Unidos, exatamente com as crises sociais causadas pelas guerras mundiais atingindo a instabilidade das lideranças nacionais. A comunicação passa a ser a preocupação das autoridades econômicas e políticas no sentido de buscar o equilíbrio e estabilidade social, daí as primeiras pesquisas, na década de 30, sobre os meios de comunicação e sua atuação na formação do consciente coletivo, a então, denominada, de maneira equivocada, sociedade de massa. A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas. Os quais são responsáveis pela angulação das notícias publicadas, que no mundo do jornalismo os pensadores chamam de Gatekeeper. Isto é, o jornalista tem papel sumário na definição do que será publicado pelo meio de comunicação – uma espécie de filtro -, embora a linha editorial do veículo seja definida pela direção da empresa conforme suas relações comerciais e ideológicas.

Sem entrar nos termos técnicos, o fato é que o diploma no Brasil, seja ele para que área for, deve ser pensado pela sua capacidade de expressar o seu papel, qual seja, permitir que pessoas qualificadas exerçam sua função que resulta em reflexos para toda a sociedade. Neste ínterim está o campo jurídico, com pessoas preocupadas com a ordem, a justiça. Para tanto, o profissional deve passar pelo crivo de uma rigorosa seleção, para obter a tradicional Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). São operadores do direito selecionados por uma organização que representa uma classe, como conseqüência os interesses sociais. Neste sentido, os brasileiros além de exigirem jornalistas diplomados deveriam pensar na qualidade da formação destes profissionais. Pois, a democracia - ainda mais neste mundo globalizado - passa pela comunicação midiática, que deverá se relacionar com ética, honestidade, com o claro propósito de permitir ao homem sistêmico conhecer os seus diferentes espaços. Impossível na atualidade o indivíduo sobreviver sem as informações advindas dos meios de comunicação. Os tradicionais líderes de opinião responsáveis pela defesa de grupos sociais, hoje, dependem do agendamento midiático para definirem caminhos, principalmente nas comunidades ainda distantes dos modernos aparatos comuncacionais.

As empresas de comunicação, apesar dos investimentos tecnológicos, não reúnem condições efetivas de formar profissionais competentes, numa visão ética, com capacidade reflexiva e percepção apurada de um mundo complexo em que sobressaem os enfrentamentos simbólicos. A academia ainda é o lugar para formar pessoas com vigor reflexivo e com conhecimento transformador, que emergem das teorias e práticas, que, de fato, são indissociáveis. O resultado na prática eficiente do jornalismo, cabe ainda lembrar, depende da formação de pensamento crítico, inovador e responsável. Indubitavelmente, para tanto, têm papel importante as universidades e faculdades com professores competentes, em que a pesquisa seja um dos pilares destas instituições, responsáveis, sobremaneira, pela existência de profissionais competentes e vitais para a sociedade, inclusive para as empresas de comunicação de massa. Caso contrário, que se acabe com todos os diplomas, inclusive de advogados, médicos e engenheiros.

A VOLTA DO ESTADO

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes.

Como ocorreu nos anos 90, o Estado voltou a ser discutido na imprensa, na academia e pelos economistas, entretanto, sem a ênfase dada naquela época. Em voga estava o fim ou não do Estado. Várias correntes eram contrárias a abertura das fronteiras entre as nações para o livre domínio de mercado, que passaria a regulador da sociedade. Na outra linha, os chamados neoliberais, defendiam o funcionamento da economia com pleno vapor sem fronteiras que permitisse um mundo desenvolvido, com uma sociedade à mercê das regras estabelecidas pelos bancos centrais mundiais.

Para dar início a essa aventura foi realizada, no início daquela década, uma reunião em Washington nos Estados Unidos – o chamado consenso de Washington - para se decidir as novas metas para a economia globalizada. Um verdadeiro embate de idéias envolvendo a opinião pública, intelectuais e autoridades políticas. Chegou-se a ventilar, com grande repercussão, o fim do Estado.

Com a quebradeira na economia estadunidense, com reflexo na Europa, passadas quase duas décadas, finalmente chegou-se ao consenso de que cada nação deveria regular suas fronteiras e principalmente ser responsável por suas economias que têm características peculiares. A globalização não poderia formar uma sociedade homogênea, simplesmente, afinal, a regras estabelecidas não diziam respeito aos interesses de países pobres, na periferia do sistema global. Um mundo sem fronteiras, com crescimento atrelado entre nações, numa clara referência ao sistema integrado, não condizia inteiramente com a realidade cultural e social, como se pode perceber atualmente, com a crise econômica envolvendo os mercados centrais. Pois, sem dúvida, o princípio da globalização se baseia na centralização de poder – seja econômico, político ou militar -, numa clara estratégia de avanço dos Estados centrais com bloco formado pelos Estados Unidos, alguns países da Europa e Japão. Nos dias atuais, ao contrário de uma economia sem Estado, aparecem na lista de globalizados a China e a Índia.

O que ressalta nos tempos atuais é a falta de percepção do importante papel do Estado como ordenador, voltado para o bem-estar social, que foi contestado pela grande mídia e por inúmeros intelectuais brasileiros no passado e ainda hoje. Se, de fato, as nações, principalmente os países periféricos, tivessem seguindo as propostas liberalizantes apregoadas, certamente conviveríamos com mais concentração econômica para uma inconseqüente desterritorialização social e cultural imensurável, com graves reflexos no mundo. O que se percebeu de algum modo foi a materialidade de outro caminho, sobremaneira na América Latina, com governos eleitos que deveriam se posicionar em favor de um Estado regulador, com construção de fronteiras para a defesa dos interesses locais. Logo, torna-se forçoso afirmar que um sistema não funciona sem a participação efetiva dos diferentes ambientes sociais, apesar da força do discurso externo, universalizante.

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes. Casos de xenofobia aparecem com freqüências nas páginas dos jornais, com aparente crise entre centro e periferia. No que se refere à tecnologia continuamos a importar, principalmente, da comunicação, sem reunir (estrategicamente) as condições devidas de produção localmente. Os meios de comunicação de um modo geral refletem informações obtidas pelas grandes agências noticiosas com direcionamente a repercussões que agendam os assuntos tratados pela opinião pública a cada dia.


Paradoxalmente, entretanto, as novas tecnologias oferecem condições para um mundo mais informado e com desenvolvimento econômico que atenda a exigência do homem moderno, que no seu cotidiano, convive com mais qualidade de vida, principalmente devido aos avanços da ciência no campo da medicina; maior difusão de conhecimento e aumento da produção de alimentos, apesar de insuficientes, em conseqüência do aumento do número de pessoas que passam a se alimentar, na periferia, embora ainda milhares permanecem excluídos.


Finalmente, o capitalismo – essencialmente globalizante - não vive os melhores de seus dias, passa por enfermidade que vai levar tempo para se curar, o que trará reflexos para todos. A dúvida é o que virá depois. Os Estados, fundamentalmente, ganham destaque nessa ordem sistêmica global, apesar da construção de senso comum sobre um mundo sem fronteiras.