A VOLTA DO ESTADO

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes.

Como ocorreu nos anos 90, o Estado voltou a ser discutido na imprensa, na academia e pelos economistas, entretanto, sem a ênfase dada naquela época. Em voga estava o fim ou não do Estado. Várias correntes eram contrárias a abertura das fronteiras entre as nações para o livre domínio de mercado, que passaria a regulador da sociedade. Na outra linha, os chamados neoliberais, defendiam o funcionamento da economia com pleno vapor sem fronteiras que permitisse um mundo desenvolvido, com uma sociedade à mercê das regras estabelecidas pelos bancos centrais mundiais.

Para dar início a essa aventura foi realizada, no início daquela década, uma reunião em Washington nos Estados Unidos – o chamado consenso de Washington - para se decidir as novas metas para a economia globalizada. Um verdadeiro embate de idéias envolvendo a opinião pública, intelectuais e autoridades políticas. Chegou-se a ventilar, com grande repercussão, o fim do Estado.

Com a quebradeira na economia estadunidense, com reflexo na Europa, passadas quase duas décadas, finalmente chegou-se ao consenso de que cada nação deveria regular suas fronteiras e principalmente ser responsável por suas economias que têm características peculiares. A globalização não poderia formar uma sociedade homogênea, simplesmente, afinal, a regras estabelecidas não diziam respeito aos interesses de países pobres, na periferia do sistema global. Um mundo sem fronteiras, com crescimento atrelado entre nações, numa clara referência ao sistema integrado, não condizia inteiramente com a realidade cultural e social, como se pode perceber atualmente, com a crise econômica envolvendo os mercados centrais. Pois, sem dúvida, o princípio da globalização se baseia na centralização de poder – seja econômico, político ou militar -, numa clara estratégia de avanço dos Estados centrais com bloco formado pelos Estados Unidos, alguns países da Europa e Japão. Nos dias atuais, ao contrário de uma economia sem Estado, aparecem na lista de globalizados a China e a Índia.

O que ressalta nos tempos atuais é a falta de percepção do importante papel do Estado como ordenador, voltado para o bem-estar social, que foi contestado pela grande mídia e por inúmeros intelectuais brasileiros no passado e ainda hoje. Se, de fato, as nações, principalmente os países periféricos, tivessem seguindo as propostas liberalizantes apregoadas, certamente conviveríamos com mais concentração econômica para uma inconseqüente desterritorialização social e cultural imensurável, com graves reflexos no mundo. O que se percebeu de algum modo foi a materialidade de outro caminho, sobremaneira na América Latina, com governos eleitos que deveriam se posicionar em favor de um Estado regulador, com construção de fronteiras para a defesa dos interesses locais. Logo, torna-se forçoso afirmar que um sistema não funciona sem a participação efetiva dos diferentes ambientes sociais, apesar da força do discurso externo, universalizante.

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes. Casos de xenofobia aparecem com freqüências nas páginas dos jornais, com aparente crise entre centro e periferia. No que se refere à tecnologia continuamos a importar, principalmente, da comunicação, sem reunir (estrategicamente) as condições devidas de produção localmente. Os meios de comunicação de um modo geral refletem informações obtidas pelas grandes agências noticiosas com direcionamente a repercussões que agendam os assuntos tratados pela opinião pública a cada dia.


Paradoxalmente, entretanto, as novas tecnologias oferecem condições para um mundo mais informado e com desenvolvimento econômico que atenda a exigência do homem moderno, que no seu cotidiano, convive com mais qualidade de vida, principalmente devido aos avanços da ciência no campo da medicina; maior difusão de conhecimento e aumento da produção de alimentos, apesar de insuficientes, em conseqüência do aumento do número de pessoas que passam a se alimentar, na periferia, embora ainda milhares permanecem excluídos.


Finalmente, o capitalismo – essencialmente globalizante - não vive os melhores de seus dias, passa por enfermidade que vai levar tempo para se curar, o que trará reflexos para todos. A dúvida é o que virá depois. Os Estados, fundamentalmente, ganham destaque nessa ordem sistêmica global, apesar da construção de senso comum sobre um mundo sem fronteiras.

1 comentários:

Rafael Alencar Rodrigues disse...

Caro ex-professor, você simplesmente tocou no ponto chave que ultimamente me norteia, a globalização econômica e, consequentemente, política, cultural e afins.

Além dos pontos levantados por seu texto, sabe o que mais me preocupa é o desinteresse de todos e, principalmente de nós, jovens.

Essa inércia é mais clara ainda em épocas de eleição, momentoem que grande parte dos jovens se negam a eleger seus representantes.

Se não nos preocupamos nem na configuração de nossas cidades, saberemos quem está nos guiando nessa tendência globalizante, será que os nossos representantes pensam convergentemente com os anseios de quem os elegeu?

E é por isso tudo que pergunto, a população tem noção dos benefícios e perdas qua a globalização trará, antes de discutí-la?

Por fim só tenho de engrandecer seu blog.

Parabéns.
Rafael Alencar

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