COMO EXPLICAR A VIOLÊNCIA

Sobra estranhamento a quantidade de discussão em torno da violência definindo-a como simplesmente uma questão de educação, religiosidade, moralismo, enquanto que os índices sígnicos não deixam dúvidas quanto a sua origem.

Comum imaginar que a violência seja o resultado da barbárie humana, ou seja, a falta de civilidade do homem que atravessa os tempos sem atingir o grau intelectual desejado. Entretanto, as revoltas humanas modernas podem estar relacionadas com as lutas travadas na construção do espaço social. Seria estranho imaginar que em uma grande cidade não aparecessem os problemas peculiares como o trânsito caótico, a falta de estrutura para uma população cada vez mais volumosa, a falta de educação para todos com qualidade, os crimes cada mais freqüentes, etc. À medida que se têm avanços surgem, por sua vez, os reflexos das mudanças no meio ambiente em que as pessoas vivem. Notoriamente, o sistema não é justo como se faz mostrar, ao contrário, há neste contexto diferentes espaços de enfrentamentos que se estabelecem pela necessidade de se definir o lugar de ordenação. Dito de outra forma, os enfrentamentos são o reflexo da ordenação deste sistema. A violência pode estar nesta frágil relação de poder.

A cultura, na verdade, apresenta-se complexa em virtude de se formar a base para contestações e percepção da realidade, longe de querer evidenciar aqui que o letrado tem mais conhecimento que o não escolarizado. Afinal, a formação da sociedade passa pelo conhecimento das relações dos espaços sociais. Desta maneira, é possível perceber na política as contradições que se explicam dentro deste campo de enfrentamentos. O atual presidente brasileiro foi eleito pela classe menos abastada deste país que contava – e, certamente, ainda conta – com um governo que atendesse os seus interesses, de pessoas distantes do centro de poder - seja político, social e econômico. Entretanto, o governo de esquerda tendeu ao centro em decorrência de estrutura formada, que tem suas prioridades estabelecidas conforme organização prevista.

As pérolas dos políticos neste ínterim são inevitáveis, como foi o caso de Fernando Henrique Cardoso ao afirmar para a imprensa a emblemática frase “esqueçam o que eu escrevi”, quando os jornalistas apontavam incoerência entre suas atitudes políticas e os textos acadêmicos publicados em livro. Ou mesmo de Luís Inácio Lula da Silva que era vociferante contra a dívida externa brasileira no período em que militava no sindicalismo. Entretanto, na sua gestão , o país cumpriu rigorosamente o compromisso de pagamento ao Fundo Monetário Internacional.

Recentemente, os embates na Argentina deixam claras as diferenças sociais entre agricultores e a família Kirchner. Exatamente, o vice, quem deveria zelar pelos interesses de cúpula partidária, definiu a derrota dos companheiros em nome de grandes exportadores de produtores agrícolas, que venceu – dentro das regras estabelecidas - a batalha contra o poder político, tido como de esquerda.

Mas onde entra a violência nesta discussão? Grande parte da sociedade, embora desmobilizada no que se refere a solidificação de regras para condução da sociedade entra no campo de luta, demonstrando as diferenças e a não aceitação. Isto resulta em dizer que a pobreza não leva à violência, de fato, entretanto, resulta da concentração exagerada, que no final torna a sobrevivência em sociedade impossível, dentro do estabelecido, apenas racionalmente. Como exemplo, os mais notórios casos midiáticos de corrupção que assalta o país a cada dia em bilhões, sendo que, paradoxalmente, os agentes condenados recebem premiação posterior em circunstancia de uma aposentadoria vitalícia de plena fartura. Ao contrário da maioria, que se vê diante de regras cada vez mais rígidas que devem ser cumpridas conforme o rigor da lei.

Sobra estranhamento a quantidade de discussão em torno da violência definindo-a como simplesmente uma questão de educação, religiosidade, moralismo, enquanto que os índices sígnicos não deixam dúvidas quanto a sua origem. A concentração de riqueza regional, nacional e global torna a sociedade moderna sem saída. Talvez a solução esteja exatamente na comunicação, embora se fale muito, mas falta o mais importante: diálogo. O qual somente se efetivará caso o controle esteja na relação recíproca da fala, na alteridade.


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