O QUE FAZER?

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A razão de uma grande maioria pobre que vive em um país rico está na essência equivocada deste pensamento dos homens públicos e na falta de percepção do homem comum.


POLÍTICA - Nos últimos dias a imprensa agenda em suas páginas o escândalo de Brasília, que envolve o Governador democrata do Distrito Federal, José Roberto Arruda – que antes passou pelo PSDB e agora é o ilustre representante do DEM. O grande problema das coberturas midiático é exatamente focar em um único lugar, sem estrategicamente (acredito) observar a estrutura como um todo. A sensação que se tem é a do bode expiatório, ou seja, se este alguém for retirado do poder o problema está resolvido. Entretanto, com esta visão não haverá avanço na política e o sistema - político, econômico e social - continuará do mesmo jeito.

O Jornal Estado de São Paulo, desde domingo (6/12) destaca em sua matéria principal, o título: “Patrimônio de Arruda cresceu mais de 1.000%”. Certamente esta é a condição de muitos representantes brasileiros há séculos, e possivelmente continuará sendo até que a sociedade tenha consciência dos seus direitos e necessidade de participação. Pois, conforme o diário paulista: "Acossado por denúncias de corrupção e filmado recebendo dinheiro vivo no escândalo do "mensalão do DEM", o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, tem hoje um patrimônio que, em apenas sete anos, cresceu 1.060%. Nas declarações apresentadas à Justiça Eleitoral, em 2002 e 2006, a soma dos bens do governador não passava de R$ 600 mil. Agora, o patrimônio real da família Arruda, só em imóveis, em Brasília, acumulou um valor de mais de R$ 7 milhões."

Exemplos como estes são vistos muito perto, não precisa ir à Brasília. Comum, afinal, imaginar que alguém ficará rico quando entrar para a política, se acaso ascender ao poder e obtiver o resultado apregoado faltou-lhe inteligente, não poderia ser sequer um verdadeiro representante popular. Em resumo, política se torna um lugar de poder e riqueza, o que não é verdade, absolutamente. A razão de uma grande maioria pobre que vive em um país rico está na essência equivocada deste pensamento dos homens públicos e na falta de percepção do homem comum. Entretanto, como venho insistindo há mudanças ocorrendo nesta estrutura, devido aos movimentos na base da pirâmide. Se vai demorar ou não é está é outra conversa.

TROCAS PERIGOSAS


JORNALISMO - A utopia de uma sociedade participativa ao que parece vai se materializando mundialmente, com reflexos nos países em desenvolvimento como o Brasil. Entretanto, se o próprio sistema capitalista permite o aumento de percepção do homem sobre a realidade, ao torná-lo consumidor de bens para a informação, há uma força contrária, no sentido de estruturar o espaço social para não fugir de um controle determinante. O fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo vem nesta direção.

Como o Supremo Tribunal Federal entendeu de forma equivocada que o documento poria em perigo a liberdade de imprensa, cabe agora ao parlamento brasileiro analisar e votar a retomada do direito a expressão pela sociedade. A rigor, não há dúvida de que se os donos das grandes empresas de comunicação passam a definir os critérios de escolha de quem é jornalista, evidentemente que a informação será privatizada sem o posicionamento daqueles profissionais formados nos espaços universitários, o qual cabe zelar pela ética e conhecimentos das relações sociais, espaços culturais e democracia, de fato.

Visível, no entanto, a definição política de alguns parlamentares que se posicionam em favor dos proprietários dos grandes conglomerados de informação, como foi o caso de senador que defendeu a manutenção do fim da obrigatoriedade do diploma em votação de PEC no Senado Federal. Atitude que pressupõe interesse de visibilidade nos grandes jornais e revistas brasileiras, num processo de negociação que visa atender interesse destas corporações. Assim, em resumo, determinados políticos de direita ortodoxa, defensor de uma sociedade individualista em detrimento do coletivo, reage à participação efetiva da sociedade nos espaços públicos, estrutura pelo qual, acredita, o manterá no poder de maneira perene.

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Correio Braziliense

DEM, EIS O EFEITO BORBOLETA

A rigor, mexer na base da pirâmide, possível com o avanço capitalista, pode significar efeitos na estrutura global.

POLÍTICA DO ESCÂNDALO - A crise que ocorre no setor econômico mundial, de alguma forma, se instalou no sistema de representação social de maneira geral. Na realidade, numa sociedade em que a economia é a vedete e protagonista do palco em que os atores se movimentam, a sua instabilidade gera abalo em todo universo com reflexos prolongados. Entretanto, estas rupturas não ocorrem por acaso, se há mudanças nas lógicas de negociações, principalmente, na base da pirâmide, formada pelo grosso da sociedade, inevitavelmente, o efeito será sentido no topo, com graves consequências. No Brasil, por exemplo, os partidos políticos que sustentam ideologicamente o pensamento liberal, de fato, parecem perder a hegemonia e sentem abalos na sua estrutura.

A vitória de Barack Obama, nos Estados Unidos, a intransigência de países como Irã e Coréia do Norte aos interesses de nações hegemônicas mundiais, além do crescimento econômico da China, um país com modelo socialista, revelam um processo de negociação em que não se pode apostar em vencedores e vencidos. A globalização virou uma faca que corta dos dois lados: permite as muitas classes socais se dialogarem para movimentos muito rápidos. Em contrapartida, Estados ricos ganham agilidade na difusão de conhecimento nas periferias. Uma guerra de discursos e com reflexos na manutenção da ordem.

A América Latina, serve como análise, pois, continua formando governos populares, embora haja reações, aqui e ali, de enfrentamentos institucionais e manutenção temporária da estrutura. O Brasil, a exemplo, do que vem ocorrendo na região, promove mudanças substanciais no espaço político, com queda de partidos tradicionalmente de direita. Como saída tentam negociações e fazem junções com agremiações de esquerda. Com isso a ideologia partidária perde seus relatos e uma nova paginação se estabelece. Assim a adequação se efetiva com base nos interesses econômicos, com linguagem que se aproxima do popular. Aqueles que tentaram evitar o diálogo e persiste no poder de decisão autoritária perderam, ao longo do tempo, a capacidade para o enfrentamento e simbolicamente o poder.

Neste instante, no cenário da política brasileira, os Democratas (antigo PFL), partido de direita ortodoxo, desloca-se do centro em virtude das dificuldades de mudanças de modelo, que paradoxalmente o faz existir. O escândalo envolvendo o governador do Distrito Federal complica mais ainda a frágil situação do partido, que nem sempre esteve preocupado com escândalos.

O PSDB que nasceu com a proposta da social democracia, sendo que no governo defendeu os interesses da hegemonia econômica global, passa por dificuldades em virtude do pragmatismo que não serve ao momento, depois de sucessivas crises do modelo financeiro. Mudar o discurso, seria muito complicado, arriscaria perder a própria identidade.

Além destes partidos, que se fazem representativos e à frente da política brasileira, restam o PMDB - que se mostra um misto de todos os matizes, portanto, inatingível, pois qualquer bandeira lhe cai bem - e o PT do presidente da República, com popularidade histórica, com direito a papel principal em filme, o qual provoca filas nas grandes salas de cinema.

A pergunta que sobressai é: será que os petistas entenderam os anseios da opinião da maioria ou descobriram uma nova artimanha para estar no poder? A rigor, mexer na base da pirâmide, possível com o avanço capitalista, pode significar efeitos na estrutura global.