Redes sociais, o fora e dentro do poder

Há uma frase com sentido que diz: “Fora Marconi”; cabe ao governo se mostrar o “Dentro Marconi”, o que exige ações e comprometimento com a coisa e opinião pública

Política regional – A internet ainda é meio de comunicação que precisa ser entendido na sua inteireza, quanto às possibilidades de mobilização e informação. No entanto, em Goiás se mostra efetiva e com resultados que precisam ser considerados.

A manifestação no centro da capital do Estado, em torno do palácio do governo estadual, simbolicamente onde atua o poder político, oferece a condição para tentativa de entender a opinião pública regional, e a participação de grande parte de populares nas decisões sociais.

O “Fora Marconi” chamou a atenção das mídias, mesmo que alguns veículos preferiram tratar o assunto como apenas um movimento de esquerda radical, ou, no caso de jornais nacionais, fez de conta que nada existiu.

Os movimentos sociais, às vezes, silenciosos se formam a partir de um consenso das várias pessoas que entendem viver injustiçada pela atuação de seus representantes eleitos, o que gera uma sensação de ter cometido erros, tendo sua consciência atingida, no sentimento de confiança partidária e liderança.

A resposta do público se mostra cada vez mais imediata e, por vezes, necessária. Embora haja a imprensa que se volta para as massas, o público se mostra heterogêneo e crítico, quando há acontecimentos que o atinge, com se vê, sobretudo no político.

A quantidade de pessoas que fizeram parte do movimento não dá conta de todo o significado do evento – mais de três mil pessoas, conforme alguns jornais da capital -, pois certamente seria apenas a ponta de um iceberg, com inúmeras outras que não estiveram ali, mas fazem parte do consenso.

As manifestações exige atenção dos políticos quanto a sua visibilidade dos dias atuais, com as mídias sociais e novos meios de informações que surgem, dentre eles os blogs, além da imprensa tradicional, e a postura crítica de uma sociedade que convive com frequência sob injustiças, locais e globais.

Há uma frase com sentido que diz: “Fora Marconi”; cabe ao governo se mostrar o “Dentro Marconi”, o que exige ações e comprometimento com a coisa e opinião pública.

Blogueiros progressistas

Outro evento importante em Goiânia, realizado no auditório da Câmara Municipal, foi o debate sobre tema ‘‘O Estado, a Lei e a ação social – a força do ativismo em prol da democratização das comunicações, nos termos da lei e das políticas públicas vigentes’’.

Sendo uma discussão nacional, o encontro na capital do Estado, revela a busca de dar fluxos à informação pública. Como objetivo permitir mais acesso à população as mensagem sobre os acontecimentos sociais em diferentes regiões.

O aumento na quantidade de fontes na comunicação se revela um dos pontos a serem atacados para uma comunicação verdadeiramente democrática. Longe de ser uma questão simples, trata-se de um assunto que deve continuar em pauta para o bem da humanidade que se comunica.

Jornalismo, entre o discurso e a prática

Se realmente as análises são pertinentes, corroborando com o pensamento da editora-chefe, com as novas mídias de informações e ampliação da comunicação na sociedade, o jornalismo oficial vai perdendo terreno e sendo questionado pela opinião  pública

Imprensa regional - A análise da Jornalista e editora do jornal O Popular de Goiânia é muita lúcida, de questionar o uso excessivo de fontes oficiais na imprensa brasileira, regional e local. Uma discussão difícil para se chegar a um consenso, mas é possível observar que algumas empresas, apesar de não admitir atitude de conivência com governos, o fazem com frequência.

O maior jornal de Goiás realmente dá mostras de seu interesse em tratar a operação Monte Carlo, mas há sempre a dúvida qual a linha editorial do jornalismo, quando a opinião pública não está sensibilizada, como é o caso do momento, em que o Brasil está informado sobre as relações ilícitas de partes da política Goiânia e Brasília. As informações tem fluxo de externo para o externo e vice-versa.

Acreditar em imprensa revolucionária não seria de fato prudente, nos dias que seguem. A rigor, as transformações sociais se relacionam exatamente com a comunicação e não com movimentos violentos, fomentados por jornais radicais – sempre raros. O debate e mudanças passam pela participação social e mobilização da opinião pública, pela informação e tomada de decisões.

Neste terreno jornais como o Popular ganham importância e pode, em determinados momentos, não responder à tentativa de alternância no poder. Aqui há uma discussão difícil sobre a questão “negócio” da empresa de comunicação, que afeta as redações. Mas este não é o único ponto a ser analisado.

Como entende-se, já senso comum, não há veículos de comunicação neutros ou que definem a objetividade como meta, pois não existe – talvez o que se busca é o mais próximo do objetivo. A definição de uma matéria em rodapé, como é o caso das manifestações em praça pública, definem a posição da editoria de política.

Outro fator importante, que o Popular negligencia, é a falta de uma opinião eclética, pois o seu editorial e as opiniões se isentam das discussões em pauta. O debate precisa ser feitos, com ampliação de vozes no jornalismo.

Em tempo, o Jornal O Popular, não há dúvida, tem grande importância para o debate público. Afinal é o mais lido pelos formadores de opinião, o que no final apenas ratifica a abordagem crítica, inclusive feita pela jornalista.

Se realmente as análises são pertinentes, corroborando com o pensamento da editora-chefe, com as novas mídias de informações e ampliação da comunicação na sociedade, o jornalismo oficial vai perdendo terreno e sendo questionado pela opinião  pública.

Notória a dificuldade de sobrevivência de algumas empresas de comunicação neste “mercado de ideias”, como é o ícone deste processo do americano New York Times, que sofre com a perda de audiência no seu jornal tradicional e caminha para o nervoso do mundo digital.

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Jornal O Popular / Opinião
Da redação
Cileide Alves

Imprensa e crises

A Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) em 29 de fevereiro, revelou ao Brasil o esquema grandioso montado por Carlos Augusto Ramos, o Carlos Cachoeira, para sustentação de jogos ilegais e também de uma teia envolvendo autoridades no lobby de negócios milionários de empresas com governos e prefeituras.

A complexidade dessa ramificação, que levou o PF e o MPF a denunciá-lo e a mais 80 pessoas não apenas por contravenção, mas também por corrupção ativa e passiva, tem surpreendido a sociedade. Entretanto, quem acompanhou O POPULAR nos últimos anos tinha noção dos interesses e da forma de agir do empresário.

Em 7 de dezembro de 2005, O POPULAR publicou a reportagem Denunciada venda de sentença para Cachoeira, informando sobre denúncia contra um juiz, um procurador de Justiça aposentado e Cachoeira, acusados de compra de sentença favorável à Gerplan, empresa de loteria do empresário. O jornal acompanhou essa denúncia, que segue sem decisão e em segredo de Justiça no Tribunal de Justiça de Goiás.

Em 21 de maio de 2006, O POPULAR mostrava em Os negócios suspeitos do lixo que licitações irregulares, contratos superfaturados ou não executados e troca de favores no jogo político eram vícios comuns na prestação terceirizada de serviços de limpeza urbana e que uma empresa do empresário estava entre as beneficiadas nessas licitações em Goiás.

A suspeita de envolvimento de policiais militares com o esquema de jogatina montado pelo empresário também já foi muito retratada pelo jornal. Caso da reportagem, Bingos funcionam sob vista grossa da polícia (19/12/07), com flagrantes fotográficos de carros da polícia dando proteção a casas de jogos em Goiânia. Novamente o assunto apareceu em Policiais coniventes com jogatina estão impunes (5/1/08).

Esse histórico mostra a gravidade do assunto, a necessidade da defesa da legalidade e do Estado de Direito e a relevância do assunto para a sociedade goiana. Por isso, desde que a Operação Monte Carlo foi desencadeada, O POPULAR tem dedicado intensa cobertura do caso e em 46 edições impressas desde então ele foi manchete 29 vezes. Nos dias em que não foi manchete, ganhou chamada de destaque na capa do jornal. A maioria com informações inéditas.

A imprensa precisa aprimorar-se, encontrar caminhos para fugir do oficialismo, da burocratização e da inércia, males que ainda assolam muitas redações. Há pelo Brasil veículos que se enquadram no primeiro time, como também veículos que buscam aperfeiçoar-se e fazer um jornalismo que seja cada vez mais relevante para seus leitores e para a sociedade. O POPULAR, que completou 74 anos dia 3 de abril, se inclui neste segundo grupo.

Censura, que viver verá

O coronelismo eletrônico ainda não veio a óbito, mas está enfraquecida em vários lugares no Brasil. A tendência otimista é que a comunicação permita mais participação social, o que aumenta a visibilidade e atos de corrupção e ilegalidade
 
 Jornalismo em questão – A operação Monte Carlo instalou em Goiás criou uma instabilidade política jamais pensada pelos críticos do jornalismo, nem mesmo pelos mais pessimistas. A exploração das denúncias pegou de surpresa grande parte da opinião pública e evidenciou, por sua vez, a fragilidade da imprensa regional. Cada vez mais comum ouvir entre colegas a dificuldade de tratar do assunto em alguns veículos de comunicação, sem ser advertido.

Pode ser que, diante da dependência financeira do Estado, alguns órgãos prefiram sacrificar o funcionário com demissão a perder sua cota de publicidade institucional. Condição que coloca alguns jornalistas em alerta durante a apresentação de seus programas “jornalísticos” e mesmo de entretenimento.

Os sinais de autocensura da imprensa regional demonstra a falta de uma política democrática, com direito a liberdade de expressão que chegue à população. Caso a mídia seja cerceada, por dentro de suas redações, evidencia os intransponíveis filtros que se estabelecem nos meios de comunicação. Ainda pior, alguns profissionais são contratados conforme seu posicionamento político e confiabilidade de sua fala, quanto ao grupo no poder, em sintonia. Lastimável.

Mas há um fato que precisa ser evidenciado, as informações sobre Monte Carlo chegam ao Estado agendado por diversos veículos de comunicação – revistas e jornais – de outras regiões, inclusive de blogs com alto índice de audiência. A rigor, não é possível nem em Goiás e outras regiões acreditarem numa política apenas localmente. As informações fluem formando redes de interesses, ademais, com partidos cada vez mais dependentes de suas relações regionais. Os movimentos são rápidos.

O coronelismo eletrônico ainda não veio a óbito, mas está enfraquecida em vários lugares no Brasil. A tendência otimista é que a comunicação permita mais participação social, o que aumenta a visibilidade e atos de corrupção e ilegalidade.

Os governos – políticos especialmente, mas representantes sociais – estão cada vez mais vigiados do que em tempos dos coronéis do sertão. Num olhar pessimista, há ainda os líderes políticos que acreditam na falta de informação para a perenidade no poder. Quem viver verá!

Escola para o jornalismo

Alguns veículos exageram, transformando suas páginas em apenas assessoria de governo. Uma lástima
Imprensa – Os brasileiros que se informam diariamente mantém uma questão que se arrasta por séculos: o jornalismo é realmente isento? Responde a jogo de interesses, principalmente nos campos político e econômico? A dificuldade da resposta está exatamente no sim e não, pois a imprensa deve buscar constantemente a ética, ou seja, tratar os fatos objetivamente, mesmo considerando a subjetividade do jornalista e empresa. No entanto, um meio de comunicação não sobrevive, nos dias atuais, sem recursos públicos e das empresas – sua fonte de renda.

Parece óbvio, mas nem sempre foi assim, em muitos casos, a imprensa viveu na dependência de partidos políticos. De fato, não é o caso dos dias contemporâneos, de mercado e riquezas capitalistas.

O mais importante, portanto, é saber que não é possível viver sem os meios de comunicação, diante de um mundo cada vez complexo e rápido. Entretanto, entender como se constituem a grandes imprensas é uma tarefa obrigatória do leitor/espectador/consumidor. No interior do Brasil, por exemplo, é consenso dos profissionais midiático a dificuldade de perseverar no setor sem verbas públicas, o que no final amarra linha editorial e políticos de plantão – nem sempre com interesses públicos, mas particulares.

Alguns representantes políticos, por seu turno, usam deste mecanismo para impedir o livre fluxo de informação que chega à população, e diz respeito às críticas contra o seu governo. Alguns veículos exageram, transformando suas páginas em apenas assessoria de governo. Uma lástima.

Mas e os grandes jornais, dos grandes centros econômicos? O esquema aí é outro: a relação se dá com a política, evidentemente, mas se relaciona profissionalmente com as grandes indústrias, empresas tradicionais e comércio, de onde saem os seus recursos. Desta forma, são ressalvados os interesses, o que tem reflexo no território político.

A revista Veja, para citarmos apenas um exemplo, é emblemático, pois na sua defesa está o liberalismo econômico globalizado, o qual angula suas matérias, conforme a predisposição do mercado. Contudo, não se pode desprezar sua importância e capacidade para formar opinião. Deste modo que, insistimos, deve-se conhecer suas prerrogativas de relações.

Evidentemente que isso não ocorre em São Paulo e Rio de Janeiro, mas em Goiás, Brasil. Neste sentido, o pesquisador da comunicação Pedrinho Quareschi tem razão, toda criança deveria ter na escola uma disciplina que estudasse a mídia. Certamente, haveria mais participação e exigência dos direitos de consumidor e cidadão.

Crise política e a legimitidade das fontes no jornalismo

Não é verdade, contudo, que o jornalismo seja apenas interesses políticos e econômicos. Mas entender de mídia certamente deveria fazer parte da educação de um país como o Brasil
 
Comunicação democrática – Para as pessoas mais atentas um fato chamou a atenção sobre o caso Monte Carlo, que envolve o senador da oposição Demóstenes Torres (DEM): a credibilidade das fontes. Se o democrata passeou pela mídia conservadora, de um instante para outro se transformou, com o escândalo, no ícone da falta de moral, comprometimento com a ilegalidade e desrespeito com a coisa pública.

O que se percebe, então, é que há um contrato tácito que se diz: “apoiamos o seu discurso, mas a responsabilidade é inteiramente sua, caso algum dê errado vou dizer que suas afirmações foram realmente levianas”. Entretanto, o jornal folha lamentou a perda de poder do político, quando afirma, em editorial na edição de 30 de março, que:  “A legenda perderia um de seus principais quadros, mas essa decisão cabe apenas ao DEM”. Evidentemente não ao jornal paulista.

Com exceção de Carta Capital que se posiciona crítico aos partidos conservadores de direita, as demais linhas editoriais da imprensa brasileira manteve relações estreitas com o democrata, capaz de criar constrangimento ao governo petista no senado, com repercussão nos jornais, das capitais, posteriormente com notícias agendadas para o “interior” brasileiro.

Assim, com uma oposição sem capacidade para se mobilizar, o discurso categórico do senador ganha notoriedade e apoio na comunicação midiática das grandes empresas. Caso emblemático ficou por conta das denúncias da proximidade de jornalista da revista Veja com a fonte ilustre, em Brasília.

Talvez seja mesmo tempo de prestar atenção nas vozes das fontes, ou seja, quem está permanentemente falando nos jornais. Será que a entrevista é decidida pelo jornalista ou segue uma linha editorial pré-definida por um grupo comunicante com o poder, conforme estratégia política? Portanto, as pessoas que passeiam na mídia revela a política do veículo, mas que convive com o insuportável peso da audiência, chamada de opinião pública.

Não é verdade, contudo, que o jornalismo seja apenas interesses políticos e econômicos. Mas entender de mídia certamente deveria fazer parte da educação de um país como o Brasil, em desenvolvimento social e cultural. Uma nação, que por direito, precisa ser pensada por todos, o que passa pela polifonia nas mediações – democráticas