Diálogo possível entre governo e professores

O campo da pesquisa tem seus discursos e determinações. Ninguém melhor para conhecer a educação do que o docente. Nem só de méritos vive um Estado, as pessoas fazem parte dele


Educação - No mínimo é sensata a atitude do governador do Estado de Goiás Marconi Perillo (PSDB) de ser reunir, ouvir e dialogar as reivindicações dos professores da rede pública de educação. As medidas de cortes de salário e defesa de um sistema de ensino que não observa as especificidades da escola, sobretudo, não seria suficiente para resolver um problema grave de qualidade escolar.

Neste quesito o secretário, Thiago Peixoto (PSD), não tem sido eficiente, sem traquejo para tratar de política com grupos politizados e formadores de opinião.

Nas ruas pode se ver afixado nos para-brisas adesivos que pode se ler: “sou educador, Marconi nunca mais”. Antes de ser apenas uma frase, talvez esteja evidenciando o sentimento de partes da sociedade, no que refere à educação. Não se trata de criar constrangimento com famílias impedidas de levar as crianças para a sala de aula, mas diz respeito a uma categoria que vive e está na base do ensino. Não se pode pensar escola sem professores.

Não há dúvida que a meritocracia não serve aos princípios educacionais, sendo indispensável o incentivo à titularidade, exatamente, pelo esforço e dedicação à pesquisa e conhecimento. Inquestionáveis as dificuldades enfrentadas pelos professores-estudantes de pós-graduação para obter o seu título, seja de mestre ou doutor. Simplesmente, os que tornam a sala de aula com ensino de melhor qualidade.

O campo da pesquisa tem seus discursos e determinações. Ninguém melhor para conhecer a educação do que o docente. Nem só de méritos vive um Estado, as pessoas fazem parte dele.

Os Serras da mídia

A figura de Serra representaria, neste contexto, a liderança e manutenção de um modelo de governo, que interessa a considerável parte da sociedade

 
Política – As análises nem sempre são pertinentes, pois ao tornar consenso determinadas afirmações chegam-se às verdades que se contestadas tornam o escritor simples, errático, ingênuo. Não há interesse em determinadas discussões, assim seria uma perda de tempo insistir com obviedades irrefutáveis – mas pelo sim pelo não, corremos o risco. Exemplo é o excesso de matérias sobre a campanha para as eleições da cidade de São Paulo nos jornais brasileiros. A sensação é que vivemos as prévias das campanhas presidenciais. Mas tal discussão é pertinente.

Não seria de assustar que jornais das pequenas cidades do país destacassem em suas manchetes o título “Serra aceita disputar a prefeitura paulista”, como se fosse o assunto mais pertinente para os moradores municipais, que sequer tem bons hospitais, escolas… Talvez por detrás dos apelos midiáticos esteja o futuro político do Brasil.

 Afinal, Fernando Haddad do PT é o candidato de oposição – apoiado pelo ex-Lula -, o que levaria a maior cidade brasileira e grande fluxo de capital para outros caminhos, que não o do liberalismo econômico – com a força das medidas apenas econômicas. O que por si só é um erro de análise. O PT, faz muito tempo, deixou de ser um partido de ideologia esquerdista, por razões óbvias, garantir a sobrevivência – mediante a verdade estabelecida na comunicação para “as massas”.

Entretanto, o que há de consenso no meio empresarial brasileiro é de que devemos nos aprofundar nas lógicas capitalistas, sem entraves burocráticos e abertura para interveniência da voz rouca das ruas – sem hospitais, escolas, segurança… Um perigo eminente que vem se descortinando dos grandes centros, com movimentos populares nos Estados Unidos e Europa, com efetivo descontentamento com um projeto financeiro, sobremaneira excludente – cuja lema é 99% versus 1%, sendo que a massa é formada por maioria no mundo e não os ricos.

Voltando para as eleições brasileiras, a figura de Serra representaria, neste contexto, a liderança e manutenção de um modelo de governo, que interessa a considerável parte da sociedade. A manutenção de determinados líderes na ordem do dia e no debate público torna-se vital para a sobrevivência dos ideais de uma sociedade apenas liberal. Portanto, como se vê a política passa pela mídia, formação de pensamento do público e que não exclui ninguém do embate. Quem fica fora do imaginário social, sequer tem direito a ser personagem na história.

As narrativas estão sendo feitas. Qual o final? Boa pergunta.

Política e poder da informação

No Brasil, torna-se cada vez mais patente a dúvida e a falta de interesse dos eleitores pela redução do Estado-do-Bem-estar-social

Sociedade - Se vivemos o tempo do carnaval da alegria das passarelas e avenidas dos municípios brasileiros, os jornais do país extravasam, e cada vez mais, com discurso em apoio ao Brasil privatizado. Na grande imprensa, acompanhada de maneira alienada pelos jornais regionais, a nota é uma só: a única saída para uma nação desenvolvida se dará pela lógica do mercado, pois são empreendedores privados os capazes de promover o progresso. Numa espécie de seleção natural, os melhores sobressaem, como se nessa afirmação contivesse toda a verdade, que no final descreve todo interesse para a administração de um território, o qual deve gravitar em torno de um poder.

Puxado pelos políticos tucanos que representam os interesses neoliberais, as informações jornalísticas – sobretudo nas editorias de opinião – analisam que tudo que o setor privado toca vira ouro, instantaneamente, embora os formadores de opinião esquecem-se dos grandes problemas provados pelo excesso de poder, que culminou com pobreza e perda de controle político nos principais centros econômicos mundiais, como Estados Unidos e Europa.

Na Grécia, Espanha e Portugal, para ficarmos em alguns exemplos, vivem os piores dos seus dias, com população que se depara com a destruição da esfera política e pública. Em contraposição promovem movimentos cotidianos em defesa da democracia e autonomia interna, que se esvai.
No Brasil, torna-se cada vez mais patente a dúvida e a falta de interesse dos eleitores pela redução do Estado-do-Bem-estar-social.

Partidos como PSDB e DEM, em função da falta de apoio popular vão abrindo espaço para legendas com ideologia mais socializantes – mesmo que isso não se revele tão transparente. Não se trata de formar uma nação comunista ou do gênero, mas a busca da opinião da “massa” é pela segurança do público, quanto aos seus interesses elementares, como se alimentar e boa educação para os filhos.

Neste sentido é cada vez mais difícil para as lideranças de partidos que se posicionam contra o Estado ganharem terreno na arena política – apenas sendo ponta de lança de um sistema global. Nacional ou local a administração destes partidos, neste espectro, se submete à administração de falcões dos temidos centros econômicos. Cabe destacar a força do setor diante do apoio financeiro de seus parceiros, que vislumbrar uma ordem brasileira e global, conforme modelo financeiro.

Numa análise, que seja superficial, é notório que quanto mais forma-se uma opinião pública mais participativa e contestadora, os textos de partes da mídia aperta o cerco contra a defesa do Estado. Cada vez menos esconde suas propostas e objetivos, afinal enquanto empresas estão no topo de uma hierarquia de poder.

A quem interessa a demora tucana?

Luís Gustavo de Araújo*
Colaboração para NODEBATE

Os tucanos tem por característica fazer campanhas profissionais, com estratégias bem definidas com antecedência, e esse suspense todo é mais uma arma para tentar voltar ao comando de Goiânia
Imagem – Site O Popular
Eleições 2012 Goiânia – Tenho alguma dificuldade em acreditar que um partido que conta com políticos tão hábeis e experientes como o PSDB, que possui equipes de marketing e comunicação tão profissionais, possa incorrer no erro estratégico de largar atrás da disputa pela prefeitura de Goiânia. Muito pelo contrário, acredito que a demora em apresentar o candidato tucano para o pleito de outubro faça parte da estratégia.

Tende-se a confirmar a candidatura do deputado federal licenciado e atual secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Leonardo Vilela, pela base marconista. Leonardo tem base eleitoral no sudoeste goiano, filho que é da cidade de Mineiros. Sem arranhões iniciais na imagem do secretário, a estratégia pode ser mantê-lo blindado de acusações, investigações e denúncias o máximo de tempo possível.

A configuração do cenário para as eleições deste ano é a seguinte: o prefeito Paulo Garcia (PT) irá à reeleição, o PSDB representa parte maciça da oposição municipal, e o deputado federal Jovair Arantes (PTB), se confirmar sua candidatura, é a terceira via, rachando a base do governador Marconi Perillo (PSDB). Outras candidaturas menores por certo aparecerão, contudo sem poder de capitalização eleitoral.

Pois bem, o primeiro a confirmar a intenção de entrar no páreo foi Paulo Garcia, e é o candidato natural, já que o atual prefeito. Desde que assumiu a pré-candidatura o petista e sua administração são alvos constantes. A artilharia é vasta, desde os vereadores de oposição, com destaque para Elias Vaz (PSOL) e suas denúncias sobre as obras no Mutirama, passando pelo deputado estadual Túlio Isac (PSDB), que vez ou outra ataca Paulo na Assembleia Legislativa, até os auxiliares diretos do governador, que não perdem as oportunidades de colocar o dedo nas feridas do governo municipal.

Em um ano de obras o caso Mutirama já acumula 13 denúncias de irregularidades, muitas delas sem fortes subsídios, porém, sempre mal respondidas pelo Paço. A secretaria de Esporte e Lazer e a Agência Municipal de Obras também foram atingidas. Todas as mazelas apresentadas até agora, mesmo que não tenham sido provadas, foram impregnadas a imagem do prefeito. Até agora isso é empírico, mais ou menos no “olhometro”, mas deve ser comprovado nas próximas pesquisas de intenção de votos.

O segundo a declarar que era pré-candidato foi o deputado Jovair. Então veio o bombardeio. Primeiro a denúncia de tráfico de influência junto ao INSS em Goiás, e um processo por improbidade administrativa. Depois veio a denúncia de que o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Evangevaldo Moreira, indicado por Jovair, estaria ligado a fraudes do exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Depois o próprio deputado e Evangevaldo foram acusados de tentar extorquir Osmar Pires Martins Júnior, para que ele fosse reconduzido a presidência secretaria de Meio Ambiente.

Houve a tentativa de estigmatizar Jovair, assim como Paulo, como agente público corrupto que suborna, desvia, extorque. A sociedade há tempos tende a condenar e rejeitar de maneira sumária aqueles políticos tidos, em vocabulário recente, como ficha suja. Então, dos três projetos postos até então, qual o único que não possui nenhum desgaste frente à população? Aquele que ainda não está personificado, o do PSDB.

Os tucanos deixaram a administração da capital em 2000, quando o então prefeito Nion Albernaz, hoje condutor master do processo eleitoral no partido, não conseguiu eleger Lúcia Vânia (PSDB) como sua sucessora. Assumiu Pedro Wilson (PT), que depois cedeu lugar a Iris Rezende (PMDB), reeleito em 2008.

A oposição pode se desgastar, mas não foi o que aconteceu nos últimos 12 anos em Goiânia. Vale lembrar que, em 2004 e 2008, o candidato de Marconi Perillo foi deputado Sandes Júnior (PP), em detrimento a candidaturas próprias dos tucanos. Assim, desde a derrota de Lúcia Vânia, será a primeira vez que o PSDB irá para o embate como cabeça de chapa. Para que então se expor antes da hora?

Leonardo deve surgir como o novo, o diferente, a renovação. Mesma estratégia usada por Marconi em 1998 para derrotar Iris Rezende. Depois de 12 anos é hora do poder mudar de mãos, esse deve ser o discurso tucano. Um jovem, arrojado, cheio de gás e ideias inovadoras para capital, essa pode ser a construção da imagem de Leonardo, que poderia ser abalada caso sua candidatura fosse antecipada.

Agora, penso que beira a inocência imaginar que o PSDB está inerte, esperando o anúncio do nome do candidato para começar a trabalhar, como muitos pregam. Como disse acima, os tucanos tem por característica fazer campanhas profissionais, com estratégias bem definidas com antecedência, e esse suspense todo é mais uma arma para tentar voltar ao comando de Goiânia.

 * Luís Gustavo Araújo é Jornalista e assessor de comunicação. Twitter @luisgustavoa

Direitos e tutela

O filtro eleitoral está definido desta forma, mas o que chama a atenção é saber que o judiciário brasileiro por natureza é um agente político e não, neste sentido, um agente neutro, como o foi na era monárquica

Justiça política – A aprovação pelo Supremo Tribunal Federal pela ficha limpa, forçosamente, faz lembrar-se do período monárquico, do começo do milênio passado, com seus nobres e a plebe marginalizada das decisões,  de modo que os desejos dos cidadãos de segunda classe estivessem submetidos ao designo da primeira. Assim, o gosto do palácio seria lei, e sobre o qual não haveria o apontar de dedos maliciosos ou condenações populares.

Aos súditos a única razão de viver estaria em servir a família real, de modo que a corte fosse intocada e arbitrasse aquilo que dissesse respeito à nação. Se os reinados existem, na atualidade, carregam apenas a capacidade de fascínio da população, nada mais. Talvez a tentativa de domesticação do povo nunca tenha acabado de fato, sequer no instante de escolha de seus representantes, pois a cortes ainda buscam preservar o seu matrimônio de poder dos tempos absolutistas.

Recentemente, um dos ministros do STF, ao proferir sua análise sobre classificação indicativa dos horários dos programas de televisão, afirmou categoricamente que havia por parte do governo a determinação de tutelar a sociedade, que efetivamente teria condições de decidir o que assistir, portanto, não sendo necessário impor aos meios de comunicação regulamentações injustas.

Em debate, como sempre o direito à liberdade de expressão e a competência do povo em decidir. No entanto, a lei da ficha limpa tem o efeito refutado, pois, qualquer nome que se apresente para a representação popular deverá passar pelo crivo da justiça, sem o qual estará impedido de ser votado, de assumir cargos públicos. Em essência define-se como consenso nacional medidas para alavancar poder de ordem política e social, com justiça e tutela.

Ora, haverá a cada eleição uma corrida frenética à “corte” de justiça de tal maneira que sua voz passa a ser a decisão do povo na sua coletividade, posicionamento ratificado nas palavras de Gilmar Mendes, conforme matéria publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. “Não se deve esquecer que essa tal opinião pública ou essa imprecisa vontade do povo é a mesma que elege os chamados candidatos fichas-suja”. Afinal de contas está se falando do que, se não do direito de determinação da opinião pública, no que diz respeito a ela sem domesticação?

Para outro ministro, “Enquanto o indivíduo é gente, o membro do poder é agente. Para sair da condição de gente para a de agente é preciso maior qualificação e essa é a razão de ser da Ficha Limpa”, disse Ayres Britto. O filtro eleitoral está definido desta forma, mas o que chama a atenção é saber que o judiciário brasileiro por natureza é um agente político e não, neste sentido, um agente neutro, como o foi na era monárquica.

No seu discurso está a definição que a sociedade precisa ser ordenada, mesmo considerando a prerrogativa do cercear da liberdade de escolha e política dos indivíduos. Ademais, nem sempre os maus políticos, candidatos, tem conta a cumprir com a justiça. Vamos ver no que vai dar.

Entre Goiânia e Brasília

Seria erro de estratégia deixar o senado com toda visibilidade que o cargo dá, considerando discurso bem aceito pela grande mídia conservadora, para estar na prefeitura de Goiânia – portanto, longe dos apelos do poder de Brasília 

 
Eleições municipais – Como a opinião pública já sabia Demóstenes Torres (DEM), finalmente, declarou que não será o candidato ao paço municipal de Goiânia para as eleições deste ano, deixando caminho livre para os postulantes tucanos apresentarem de fato suas candidaturas – sem um nome de peso, com destaque.

Embora não tenha afirmado, se imagina que o democrata neste momento sonha com projetos maiores, como a candidatura a Presidência da República em 2014, para a vaga de Dilma Rousseff (PT). Mas esta certamente não é toda a explicação, ainda mais com um partido esvaziado como é o do senador.

Inicialmente estar à frente em pesquisa eleitorais, meses antes do pleito, não diz muito coisa, a não ser pelo reconhecimento social por estar de posse de um cargo importante, que é o de Senador e boa visibilidade na mídia nacional, principalmente nos órgãos paulistas, que fazem oposição ao governo petista de Lula/Dilma. Quando a campanha entra em ritmo de disputa tudo pode acontecer, com denúncias, enfrentamentos, questionamentos e debates de ideias. Logo, não se ganha eleições na véspera.

Não há dúvida que os democratas precisam do senador goiano para tentar oxigenar o partido, com problemas de identidade, caminhando rumo ao ninho tucano, e cada vez mais. Caso não haja um candidato com discurso “aglutinador de lideranças” nas próximas eleições, torna-se quase insustentável a existência do DEM no cenário político brasileiro.

Talvez seja mesmo uma jogada eleitoral que definirá o destino da agremiação que já viveu seu apogeu ao lado dos tucanos, na presidência de Fernando Henrique Cardoso, quando havia no Brasil a figura representativa de Antônio Carlos Magalhães. Torres acredita ser o nome, assumindo este papel de aglutinador democrata, uma tarefa difícil.

Depois, seria erro de estratégia deixar o senado com toda visibilidade que o cargo dá, considerando discurso bem aceito pela grande mídia conservadora, para estar na prefeitura de Goiânia – portanto, longe dos apelos do poder de Brasília – e dependendo do apoio do governador Marconi Perillo (PSDB), no Palácio das Esmeraldas.

Pois, o tucano administra o Estado com olhos voltados para objetivos maiores, também, no horizonte o Palácio do Planalto. Pode-se imaginar que em pouco tempo haveria uma disputa entre dois nomes fortes, liberais, com possibilidade de inviabilizar a ordem política de grupo no Estado – a oposição agradeceria.

Assim, como é necessário o candidato da oposição ao prefeito petista Paulo Garcia ganhar as ruas, o tempo de Torres de publicidade em torno de seu nome chegou a fim. Sem dúvida o democrata fará falta nesta campanha, que se continuar assim, será mesmo mais para o silêncio, das jogadas intramuros, do que para discursos ideológicos, públicos, o do bom combate.

Modelo de privatização

A mídia não levantou muita discussão sobre o tema, por entender que os empreendedores que arrebanharam o quinhão pública são pessoas desconhecidas, e não representam grande fatia do mercado global


Estado do bem estar social - No fechamento da semana, depois de muitas notícias na mídia, sobre o processo de privatização dos aeroportos – Cumbica, Viracopos e Brasília – fica evidente que a medida desagradou grandes empresários brasileiros do setor, mídia e partes da opinião pública. Se o governo Lula (PT) negou qualquer negócio de venda de instituições públicas, Dilma Rousseff (PT), não levou tão a sério o debate ideológico.

Após a batida do martelo a notícia chamou a atenção: o governo obteve R$24,5 bilhões no negócio, com ágio estratosférico sobre o preço mínimo – mantendo 49% das ações para a União. Daí em diante a discussão ganhou força em ano de campanha.

Na política nada é seguro, apesar da alta popularidade de Dilma de 2014 nada se sabe, quando deverá disputar a reeleição para a presidência, e nos seus calcanhares está a copa do mundo no Brasil – com todos os seus apelos da mídia global. A oposição não deve deixar por menos caso haja algum fracasso, ainda mais considerando a visibilidade do evento.

Os aeroportos vem se mostrando um território difícil de organizar. Antes a segurança de evitar a pecha de incompetência do que a crítica do momento de privatista, o que será certo caso haja fracasso no setor, que agora passa para as mãos dos empresários – tornando difícil o discurso da oposição.

Contudo, a mídia não levantou muita discussão sobre o tema, por entender que os empreendedores que arrebanharam o quinhão pública são pessoas desconhecidas, e não representam grande fatia do mercado global. As empresas são modestas com experiência na administração de aeroportos em país como a Argentina. Então, no discurso dos grandes jornais liberais brasileiros se o governo abre mão da manutenção do poder do Estado, não atingiu o requisito básico: abrir as portas para os megainvestidores globais. Sem contemplação.

Por outro lado, parte dos petistas sofreu ao ouvir o grito dos tucanos jogando nas suas costas a marca de privatizador. Com a medida, o Partido mordeu a língua ao chamar os peessedebistas de entreguistas dos bens públicos por várias campanhas? A rigor, muita gente falando dos dois lados, num processo de cacofonia, para nenhuma análise precisa. Houve a privatização, o que vai dar ninguém sabe.

No final, a análise de que a política ideológica vai perdendo suas cores, de modo que as definições ocorrem conforme as circunstancias de poder. Depois, as decisões se efetivam mais no enfrentamento partidário do que exatamente a partir das análises da opinião pública. Muitas vezes o discurso vale mais do que as ações.

Embates políticos em Goiânia

Embora o que a mídia mostra em suas páginas ainda é apenas a ponta de um iceberg, cuja estrutura está o poder estadual, com ramificações nacionais. De lados opostos: Perillo e “novas” lideranças locais, mas ambos vislumbram política com lastro federal, cujo olhar está em 2014
 

Eleições – A campanha ao governo municipal em Goiânia está em pleno vapor neste começo de 2012, com jogadas eleitorais que ganham corpo e densidade. Os enfrentamentos partidários se mostram claros, com grupos destacando suas forças, de modo a definir suas armas para embate público. Matérias publicadas pelos jornais ainda não evidenciam o que está por detrás deste campo de luta.

Em essência, o mutirama vem se tornando a pedra de toque do processo político que se desenrola, tendo de um lado o interesse do candidato Paulo Garcia (PT), atual prefeito em demarcar as grandes obras e de outro lado Marconi Perillo (PSDB) em ofuscar o possível brilho das ações do poder municipal. No meio do processo, como sempre, as denúncias com ações da justiça e posicionamento da mídia, também entes político, por natureza.

Neste momento, o que menos importa, de fato, são as obras que se mostram irregulares, conforme apontado pelos jornais, mas sim a sucessão municipal. A rigor, não há política de um só nome, mas são grupos que se enfrentam para a tomada de poder ou se organizam com mais eficiência em torno da política local, que diz respeito ao futuro regional e até nacional.

Os fatos

O governador Marconi Perillo enfrenta não exatamente Garcia, o candidato com mais condições de vencer as eleições, mas está pressionado pelo partido para demarcar território na oposição ao governo federal, o que colocariam os peessedebistas em condições melhores para as próximas eleições em 2014. Assim, os tucanos precisam arrebanhar as principais cidades brasileiras, ações observadas bem de perto pelo governo petista que busca manter hegemônico o seu modelo de governo. Portanto, não se trata de uma eleição apenas localizada, a priori.

Outro ponto,  é a própria condição do governador de Goiás, que está numa situação de fragilidade política em função de ter às costas a pouca vontade do governo de Dilma Rousseff (PT) em conceder recursos para a oposição, sobretudo de Perillo, pessoa que tem a desconfiança do líder do partido, Luiz Inácio Lula da Silva – da própria presidente, como já relatou em discurso no passado. Os jornais favoráveis ao tucano tentam, com imagens, demostrar ao público, o imponderável: o diálogo entre o governador e governo federal é muito difícil. Cada qual em busca de se posicionar nos campos opostos.

Em Goiás

O grupo que apoia Paulo Garcia tem dura missão em Goiás: sinalizar condições reais de governar um estado de lideranças conservadoras. A rigor, o Estado que sustenta e dá visibilidade aos democratas, que se organizam em torno de discurso de direita e liberal econômico.

Neste momento, ao que parece, em decorrência das denúncias que atingem Paulo Garcia de maneira direta, a liderança petista goiana prefere o silêncio e acreditar que os resultados finais esclarecerão a realidade. O que não dizem, mas parece evidente, é o reconhecimento de que os tucanos não tem regras nas denúncias e tem muito poder em difundir informação, com apoio dos jornais locais, regionais e até mesmo nacionais – além de bom trâmite no judiciário. Pode não ser uma boa estratégia, o que hoje é apenas especulação pode se tornar fato amanhã, sem tempo para esclarecê-lo em tempo de formar a opinião público, se espera, positivamente.

Portanto, embora o que a mídia mostra em suas páginas ainda é apenas a ponta de um iceberg, cuja estrutura está o poder estadual, com ramificações nacionais. De lados opostos: Perillo e “novas” lideranças locais, mas ambos vislumbram política com lastro federal, cujo olhar está em 2014. O que se espera é que o eleitor não seja o grande perdedor deste embate duro que virá.

Educação e consumo

Na realidade, com estruturação do sistema social nos valores econômicos, com base no consumismo, a educação vai se tornando apenas instrumento para se chegar a um fim: a condição de consumidor

Escola – As pesquisas na área de educação no Brasil, que atestam a deficiência do ensino no país, não trazem novidades ao qualificar negativamente as crianças fora da escola, as notas aquém do desejável nas disciplinas de matemática e português, por exemplo. O ensino não se resume a sala de aula como faz crer o senso comum brasileiro, replicado por parte da grande mídia. A dinâmica da sociedade, no seu todo, tem influência substancial na formação para o conhecimento escolar.

Uma das análises pertinentes está na diferença de renda, em um país com poucos ricos e muitos pobres, estes vivendo à margem daquilo que o desenvolvimento tecnológico e social pode oferecer. Desta forma, quando se verifica a classe de melhor poder aquisitivo se observa uma condição melhor no aprendizado dos jovens no Brasil, mas também não atinge o ideal. Na realidade, com estruturação do sistema social nos valores econômicos, com base no consumismo, a educação vai se tornando apenas instrumento para se chegar a um fim: a condição de consumidor. A velha máxima do ter e não do ser. Mais vale os bens que possuem, do que a capacidade de pensar, criticamente.

Em resumo, se observa os efeitos das causas, sem chegar a base do problema. Nesta mesma batida está a ordem política que assola o país, o de governos que visam a redução do Estado e o aumento da normatização da economia pelos grandes empreendedores – a privatização do setor público, em essência. Assim não se tem a escola como formadora de pessoas para a reflexão, com capacidade de realizar cálculos eficientemente, redação com bom português; mas profissionais competentes para realizarem tarefas complexas, sim, todavia de maneira apenas especializada.

Na realidade, os homens de negócios que se destacam pela riqueza, nem todos, ou talvez boa parte, não obtém seus resultados financeiros em decorrência de seu tempo na escola, nas pesquisas acadêmicas. A rigor, pode se afirmar que riqueza monetária e educação nem sempre dialogam com facilidade. Contudo, o desenvolvimento de um país está correlacionado com o aprimoramento do ensino, o que requer professores qualificados, bem remunerados, politizados para a formação de pessoas também com visão política e com criticidade.

Resta saber se realmente o que se espera da educação como resultado é o de uma sociedade formada por pessoas pensantes, crítica ou apenas alunos consumidores de um modelo de sistema, prioritariamente com base no econômico. Se este último prevalecer, então não haverá outra realidade e os jornais terão muitas páginas para reproduzir o mesmo discurso.

Menos Política e Estado, mais empresas

A política e o Estado parecem o alvo de interesses particulares, sendo que a massa se faz somente coadjuvante de uma história conhecida
   
Privatização – No Brasil há dois assuntos complexos e que merecem atenção em virtude de seus reflexos na sociedade. O primeiro deles é a avalanche de informação sobre a ineficácia da instituição política. Diariamente os jornais repetem com insistência sobre a corrupção e incapacidade dos representantes sociais em lidar com os interesses sociais. No final temos a certeza que são todos corruptos. Depois, o excesso de publicidade em favor das privatizações em todos os setores, mesmo aqueles essenciais aos interesses públicos.

Neste momento a discussão em torno entrega do comando dos aeroportos brasileiros à iniciativa privada – já em fase de licitação. Seria a solução dos problemas modernos, mas que no final todos sabem: o brasileiro pagará a conta gorda para o bem de alguns grandes empreendedores.

Como se percebe uma coisa leva a outra, pois o ofuscamento da representação política chega à redução do tamanho do Estado, o que coloca a iniciativa privada no comando dos serviços essenciais, cuja ordem está no pagamento de tarifas e lucros, sem a interferência “direta” da sociedade.
Se a política não consegue representar os eleitores/consumidores, o mercado vem dando mostra de sua ineficácia para o desenvolvimento econômico e social.

Exemplos é o que não faltam, para ficarmos apenas em um está a produção de álcool no Brasil – uma lástima. Nos Estados Unidos as concessões arbitrárias dos governos liberais levaram a chamada “bolha inflacionária” e quebra econômica do país.

Sobre o transporte brasileiro, perguntas devem ser feitas. Por que não há preocupação com o transporte coletivo nos grandes centros urbanos e cidades do interior, com projetos eficientes. Nas mãos da iniciativa privada e ineficaz, problema que não se resolve; a rigor, trata-se de um sistema para as massas. Outro ponto, as rodoviárias, que apesar dos problemas de falta de acomodação, infraestrutura nenhum palavra; também um serviço prestado à massa.

Os aeroportos frequentados por uma classe privilegiada, que por muito tempo esteve reduzida a grupos de pessoas, pequenos, agora se transforma em problema, porque a massa começa a descobrir os voos, com viagens rápidas e baratas. A grita aparece com energia. Preciso, portanto, qualidade na prestação de serviço, com reclamações permanentes nas páginas do jornal – uma voz que merece eco na grande mídia. Como saída para a crise a fórmula mágica: retira o Estado e estabelece a participação das grandes empresas.

O resultado pode não ser satisfatório como a classe média espera.
Além do que, a venda de empresas como Telebrás e Vale do Rio Doce como se sabe não melhorou a qualidade da prestação se serviços e reduziu a desigualdade social, embora as riquezas e tarifas de serviços brasileiros estejam sempre sendo exploradas.

A política e o Estado parecem o alvo de interesses particulares, sendo que a massa se faz somente coadjuvante de uma história conhecida. Neste sentido, de fato, os representantes sociais na política precisam encontrar soluções.

Comunicar e valorizar a democracia

Portanto, a política inevitavelmente passa pelo processo comunicativo. Não saber disso é clara demonstração de ingenuidade e incompetência

Indústria cultural – Na política os meios de comunicação se tornam fundamentais no sentido de difundir conhecimento, o que alguns grupos políticos reconhecem e fazem uso. Desta forma, em ano eleitoral, as empresas do setor vão se organizando em torno dos partidos e agremiações, de maneira reverberar ou não determinados discursos que favorecem postulantes a cargo público. Ficar fora deste espaço é se reservar ao direito de se comunicar com a opinião pública, a qual sem informações não poderá emitir sua participação no espaço social.

Portanto, a política inevitavelmente passa pelo processo comunicativo. Não saber disso é clara demonstração de ingenuidade e incompetência. Os canais de comunicação, de todo modo, por por onde os eleitores obtém informação carecem de pautas, notícias. Em outras palavras discursos, posicionamentos políticos claros e honestos.

Não há dúvida que nas negociações há questões financeiras. Ora, mas são empresas que tem como meta resultados econômicos. Os donos dos grandes jornais repetem incessantemente que administram negócios e não fazem filantropia. Não é possível ter repórteres, produtores, editores que desfrutam de salários sem dinheiro em caixa. As verbas necessárias são provenientes da publicidade, do comércio e indústria.

Em editorial a Folha de S. Paulo ressaltou recentemente – quando analisa a pirataria na internet – que produções não dão em árvores; é preciso, portanto, de investimento.

A ingenuidade política coloca à sombra competências administrativas, boas intenções sociais e justiça social. Questões que passam pelos espaços públicos, pelo voto. Os partidos e candidatos sabem disso, mas poucos são os que atentam e tomam providência neste sentido.

Em Goiânia, vem de longe o debate sobre o cotidiano de uma imprensa semanal e diária movida pelo retorno econômico em prejuízo da informação de interesse público. Talvez seja mesmo falta de capacidade de se formar boas assessorias de comunicação, ou mesmo entendimento de candidatos de primeira hora sobre os mecanismos da indústria cultural. Eleição não se ganha no grito. As estratégias não ocorrem somente em ano eleitoral. Devemos pensar.