JORNALISMO E JUSTIÇA

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral.

A sociedade a cada dia vive a reboque do poder judiciário, que define as regras no espaço público, muitas vezes sem considerar o espaço vivido social. Não se pode esquecer que a ordem do sistema deve estar numa relação direta com os interesses da maioria, conforme equilíbrio que permita a liberdade de escolhas dos indivíduos. As eleições que passaram pelo crivo dos coronéis e os votos de cabresto, podem estar sendo definidas a partir de um centro que talvez desconheça as características peculiares das relações humanas. A decisão para o voto deve ser do eleitor bem informado, caso contrário, se estabelece a eleição de quem tem mais visibilidade, obtida fora do período eleitoral, por conta da capacidade financeira ou relações políticas. Neste sentido, nos pequenos municípios brasileiros o excesso de restrição da justiça intimida os meios de comunicação a exercer sua prática: a informação. O resultado é um leitor mal informado e a dificuldade de surgirem novas lideranças políticas. Um mundo que gira sem sair do lugar.

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral. Afinal, o que não é divulgado não é público. Desta maneira, quem se apresenta como candidato a um pleito deve se mostrar à sociedade, com liberdade, desde que não infrinja contra o bem público. Logo, deverá estar aberto ao crivo da crítica e ser questionado pelos mediadores sociais – ao contrário de cooptar líderes de opinião -, maneira pela qual será conhecido por suas propostas e enquanto autoridade capaz de exercer um cargo representativo. Infelizmente o Brasil continua sendo pensado e organizado a partir de determinados grupos de líderes institucionais, o que torna o homem social, em um sistema fechado, apenas participante de uma massa, avaliado como um ser, por natureza, incompetente para definir as suas próprias escolhas.

Sem dúvida, em muitos momentos as mídias locais preferem se ausentar da responsabilidade pela informação, com cuidado excessivo, temendo as pesadas multas. Entretanto, torna-se importante a sua participação no espaço que lhe é conferido pelo público, qual seja, a de informar os fatos ocorridos na sociedade, inclusive, no caso de período eleitoral, que diz respeito à vida pregressa, relacionamentos partidários e projetos apresentados pelos candidatos. Evidentemente, tendo como base a ética e isonomia entre os pleiteadores de cargos públicos.

Todavia, o entendimento de uma visão funcionalista continua na ordem do dia. Ou seja, a melhoria da sociedade passa pelas lideranças pensantes e capazes, as quais devem ser seguidas pelo homem ainda alienado, incapaz de decidir por suas escolhas. Sendo assim pessoas iluminadas devem zelar pelo excesso de estímulos que pode contaminar o seu parco conhecimento do homem-massa, caso contrário, o resultado será uma sociedade pouco funcional e ludibriada por espertalhões que usam da inocência alheia para atingir os seus interesses particulares. Não se pode esquecer que o excesso de ordem pode levar a desordem ou mesmo à disfunção. Cabe destacar que mudanças de paradigmas, ao longo do tempo, existem, o que, de fato, é importante no equilíbrio social, causando rupturas nos modelos autoritários. Exemplos não faltam.

Finalmente, a rigor, não existe outra forma de sociedade democrática sem a participação popular – neste ínterim estão os mediadores sociais no que se refere à comunicação - que resulta em decisões e escolhas com liberdade, considerando, sobretudo, que a sociedade está sempre em transformação, pois a comunicação é permanente.

PÓS-MODERNIDADE SEM JORNALISTAS

A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas.

A discussão sobre o fim do diploma para jornalistas novamente vem à tona em debate público que se arrasta por décadas, sem muita visibilidade, embora diga respeito a uma categoria e a toda sociedade. A comunicação midiática, afinal, perpassa toda sociedade que depende dela para seu equilíbrio e funcionamento. A grande questão é exatamente entender a importância e o que representa a sua desestabilização, considerando que há interesses os mais diversos no fim da obrigatoriedade do diploma para profissionais que se dedicam as notícias da cotidianidade, estrutura basilar para manutenção da ordem em um sistema de instabilidades. A grande questão é saber se por trás do tema agendado está realmente o desejo pela liberdade de expressão, impedida pela exigência do diploma, como advogam alguns juristas e empresários; interesses econômicos das empresas de comunicação pelo aumento do número de pessoas disponível para o trabalho; ou realmente a preocupação está na manutenção da estrutura do sistema social capitalista, que freqüentemente passa por crises.

Mesmo considerando que o diploma não seja uma exigência de todas as nações mundiais ditas democráticas, não se pode confundir a realidade brasileira com as demais, sob pena de errar nas análises, pois, há peculiaridades aqui que não se acham acolá. A história brasileira deve ser observada inclusive pela sua colonização que macula muitos espaços importantes da sociedade moderna, a começar pela corrupção política, as leis que se originaram pelos interesses coloniais, dentro da ordem política e econômica. O jornalismo tem suas raízes, no Brasil, neste imbricado meio, não de maneira passiva como se imagina, mas muito ao contrário. Transformou-se ao longo do governo monárquico como ponta de lança das mudanças sociais que culminaram com o fim do absolutismo e começo do governo republicano. Importante destacar que nesta época nem se pensava em diploma, nem os incipientes jornais lembram a imprensa que conhecemos. Evidentemente que são tempos de uma sociedade em que se discutia a situação de milhares de pessoas sem escolas boas ou ruins. Os chamados jornais pasquins – tratados de maneira pejorativa e pouco conhecidos pela historiografia - serviram ao propósito: apoiar necessárias mudanças da ordem estabelecida em meio às grandes diferenças sociais que, vergonhosamente, persistem no País.

Nesta mesma análise o jornalismo passa a ter importância efetiva, a começar nos Estados Unidos, exatamente com as crises sociais causadas pelas guerras mundiais atingindo a instabilidade das lideranças nacionais. A comunicação passa a ser a preocupação das autoridades econômicas e políticas no sentido de buscar o equilíbrio e estabilidade social, daí as primeiras pesquisas, na década de 30, sobre os meios de comunicação e sua atuação na formação do consciente coletivo, a então, denominada, de maneira equivocada, sociedade de massa. A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas. Os quais são responsáveis pela angulação das notícias publicadas, que no mundo do jornalismo os pensadores chamam de Gatekeeper. Isto é, o jornalista tem papel sumário na definição do que será publicado pelo meio de comunicação – uma espécie de filtro -, embora a linha editorial do veículo seja definida pela direção da empresa conforme suas relações comerciais e ideológicas.

Sem entrar nos termos técnicos, o fato é que o diploma no Brasil, seja ele para que área for, deve ser pensado pela sua capacidade de expressar o seu papel, qual seja, permitir que pessoas qualificadas exerçam sua função que resulta em reflexos para toda a sociedade. Neste ínterim está o campo jurídico, com pessoas preocupadas com a ordem, a justiça. Para tanto, o profissional deve passar pelo crivo de uma rigorosa seleção, para obter a tradicional Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). São operadores do direito selecionados por uma organização que representa uma classe, como conseqüência os interesses sociais. Neste sentido, os brasileiros além de exigirem jornalistas diplomados deveriam pensar na qualidade da formação destes profissionais. Pois, a democracia - ainda mais neste mundo globalizado - passa pela comunicação midiática, que deverá se relacionar com ética, honestidade, com o claro propósito de permitir ao homem sistêmico conhecer os seus diferentes espaços. Impossível na atualidade o indivíduo sobreviver sem as informações advindas dos meios de comunicação. Os tradicionais líderes de opinião responsáveis pela defesa de grupos sociais, hoje, dependem do agendamento midiático para definirem caminhos, principalmente nas comunidades ainda distantes dos modernos aparatos comuncacionais.

As empresas de comunicação, apesar dos investimentos tecnológicos, não reúnem condições efetivas de formar profissionais competentes, numa visão ética, com capacidade reflexiva e percepção apurada de um mundo complexo em que sobressaem os enfrentamentos simbólicos. A academia ainda é o lugar para formar pessoas com vigor reflexivo e com conhecimento transformador, que emergem das teorias e práticas, que, de fato, são indissociáveis. O resultado na prática eficiente do jornalismo, cabe ainda lembrar, depende da formação de pensamento crítico, inovador e responsável. Indubitavelmente, para tanto, têm papel importante as universidades e faculdades com professores competentes, em que a pesquisa seja um dos pilares destas instituições, responsáveis, sobremaneira, pela existência de profissionais competentes e vitais para a sociedade, inclusive para as empresas de comunicação de massa. Caso contrário, que se acabe com todos os diplomas, inclusive de advogados, médicos e engenheiros.