QUEM VAI PAGAR A CONTA?

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil.

Com a crise cravada no coração da principal potência econômica mundial, nos países ricos seguem um debate, simulado, na mídia sobre as formas de “salvar” o mundo da grande depressão econômica. Embora, o governo de George W. Bush tenha se decidido – embora isto já estava em curso nos bastidores políticos, com apenas aparência de discussão social – pela ajuda de bilhões aos bancos e agências financeiras atolados no pântano da economia global. Terreno movediço que se formou depois de várias décadas de resultados astronômicos e enriquecimento de um número reduzido de investidores nas bolsas de valores. Neste momento, entretanto, cabe uma pergunta: com o fim da festa – com um prejuízo incalculável – com a gastança exagerada na manutenção de status e riqueza, quem vai pagar a conta? Pelo que se percebe será a sociedade, de preferência global-periférica. A velha máxima de lucros particulares e prejuízos socializados. A festança é privada, a conta é pública.

Nos Estados Unidos e Europa a socialização dos prejuízos está definida, o que gerou descontentamento no país norte-americano, acontecimentos públicos que não receberam destaque da mídia, embora ocorressem manifestações populares nas ruas da nação vista pela mídia como um lugar de paz, ordem e desenvolvimento permanente – um porto seguro devido ao liberalismo econômico. Na verdade, o resultado será o aumento do número de pobres que serão responsáveis pela conta salgada que deve chegar a trilhões de dólares.

No país mais rico do mundo, agora em crise, resta esperar a tomada pelo poder de um governo capaz de resolver a aparente depressão econômica. Duas alternativas: um conservador, com pensamento parecido com o do atual governo, John McCain ou Barack Obama, um intelectual que se mostra liberal, embora de origem humilde, filho de pai africano. O fato é que qualquer um deles terá que prestar conta aos grandes donos do capitalismo mundial, certamente numa infindável discussão que resultará numa solução simples: a manutenção do modelo econômico vigente. Cabe a sociedade aceitar ou não, desta forma, responsável pelas mudanças indispensáveis para um modelo que se apresenta esgotado.

No Brasil, torna-se assustador o discurso recorrente dos meios de comunicação de massa, puxado pela revista Veja e Folha de S. Paulo, veículos de grande audiência, sobre a necessidade do governo de custear a derrocada de empresários “empreendedores” que investiram pesadamente no mercado financeiro, e, agora, tem uma conta a ser quitada.

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil. Pessoas responsáveis pela luta diária para manter-se viva em um país cuja estrutura de tão capenga que os nativos já se acostumaram com as enormes filas nos hospitais públicos, humilhação cotidiana a ser destaque nos grandes centros financeiros como pela falta de educação de qualidade, infraestrutura básica. A rigor, convivem com a falta de recursos para se adquirir o básico necessário. Mas diante da crave crise que assola tais empresários visionários, o resultado apresentado pela mídia é o endividamento do Estado, ou seja, dinheiro público para financiamento da crise edificada nos espaços particulares.

A cada dia os enunciadores midiáticos aprofundam o problema, com alarde de uma crise que deverá chegar aos subdesenvolvidos, que, de fato, não está imune a quebradeira, embora em melhores condições que há décadas. No caso do Brasil numa situação menos dramática daquela sob gestão do Fundo Monetário Internacional (FMI) – instituição criticada devida a incapacidade de prever a crise, possivelmente partícipe do jogo que culminou com a depressão.

Talvez os meios de comunicação, produzido por jornalistas que conhecem a realidade melhor que muitos dos cidadãos do país, e suas respectivas fontes, devessem esclarecer melhor a real situação da derrocada financeira global, sem os simulacros que além de desnecessários, pode aprofundar a situação de penúria que vive milhares de pessoas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, em benefício daqueles que sempre tiveram a proteção do Estado, com gastança do dinheiro público.

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