Talvez, como é aposta da tradicional empresa de comunicação, esta é a era da aldeia global, sem política e debate, mas substancialmente do consumo de mercadorias que se avolumam com as notícias.

Notoriamente, a Folha fez parte do debate sobre as diretas já ocorrido no final da década de 80, que culminou com a abertura política brasileira em 1985, com a eleição de Tancredo Neves, período em que a juventude brasileira entendeu ser o veículo que mais se identificava, diante do teor crítico contra um sistema absolutamente cerceador das lutas democráticas. Entretanto, com o início da abertura e o crescimento dos mercados internacionais que chegavam a países subdesenvolvidos como o Brasil e claramente se mostrava a única alternativa de sociedade, a empresa paulista mudou os seus rumos, de um jornal politizado para a busca incessante pelo discurso liberal globalizante, reproduzido como único pelos Estados Unidos. O reflexo no seu quadro de profissional veio rapidamente com demissão de jornalistas tradicionais e importantes.
Embora, hoje não seja evidente que o princípio de sociedade dos anos 90 seja o ideal, os Frias apostam suas fichas na certeza de um mundo em que a primazia é para o mercado global, e os enunciados que o justifica, sobretudo no campo político e econômico.
Diante de tantas críticas de intelectuais e dos formadores de opinião no passado e na atualidade, a direção prefere apostar na própria consciência em meio a uma geração das novas tecnologias, com inúmeros meios de comunicação que cada vez mais atende públicos específicos. Pressupõe que, estrategicamente, a empresa vai ao encontro do seu segmento das classes A e B, com alto poder aquisitivo, capaz de melhorar a sua performance publicitária em tempos de perda de audiência. Logo, é apenas um projeto econômico e não exatamente jornalístico, afinal, se reconhece que a notícia é o produto a ser vendida como quaisquer bens em um supermercado.
No que se refere à diagramação, o leitor se depara primeiramente com opinião do jornal e logo após com as notícias de mundo - sobressai a aposta na força da globalização, todos assuntos internacionais vêem primeiro. A editoria de política passa a se chamar "poder" e está nas páginas finais, logo após "mercado", a antiga editoria de economia. Em linhas gerais, o seu público inicia absorvendo a opinião do jornal (os editoriais) e seu debate - evidentemente que passa por seleção de assuntos pertinentes com sua linha de pensamento, neste contexto mercadológico, depois por assuntos como cotidiano, ilustrada, saúde. O esporte ganha um suplemente em formato que permite a leitura rapidamente, que pode ser retirado do corpo do jornalão.
A Convergência das mídias é outra aposta da empresa, pois o departamento de jornalismo trabalhará 24 por dia para abastecer as diferentes mídias comercializadas, desde o segmento de telefones celulares que recebem informações até a agência Folha. Assim, o jornalista que produz matéria para a Folha estará com o material publicado em diferentes mídias – difícil saber se isto implica em majoração também dos salários, o que parece pouco provável. Acresce-se assim, o poder de formador de opinião do jornal, que ao mesmo tempo acredita aumentará suas receitas.
No final, o que sobressai em meio a uma sociedade da informação é a busca de estruturar a opinião pública a partir das propostas globalizantes, despolitizada e com olhos voltados integralmente para o mundo das finanças e mercado. Talvez, como é aposta da tradicional empresa de comunicação, esta é a era da aldeia global, sem política e debate, mas substancialmente do consumo de mercadorias que se avolumam com as notícias.
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