EMPATE NO DATAFOLHA

Não tem mágica, trata-se de uma escolha que vem apontando para os desejos dos muitos pobres, que enxergam a presença do Estado.

POLÍTICA - Os principais institutos de pesquisa, desta vez, ao contrário do que ocorreu mês passado, o que gerou processos na justiça envolvendo partidos e empresas, aponta empate técnico entre a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra. Ambos, conforme o Datafolha publicado hoje (22) tem 37%, sendo que Marina Silva continua com os seus 12%, seguida por um público fiel, que resiste a mudança de comportamento. Entretanto, na espontânea, em que o pesquisador não oferece o nome do candidato ao entrevistado, a pré-candidata do PT abre vantagem em relação ao seu concorrente, com 19% contra 14% do ex-governador paulista. A pergunta que sobressai é o que levaria uma senhora desconhecida desafiar um político de tantos anos na política brasileira? Talvez a resposta fosse às circunstâncias sociais.

De fato, história política de José Serra é longa, iniciando pela liderança estudantil, passando pelo ministério da saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, além de governador de São Paulo, principal cidade brasileira, em termos de orçamento. Dilma Rousseff, além de ser conhecida pela sua luta pela esquerda durante o regime militar, quando diz ter sido torturada, foi ministra do atual governo e apoiada pelo carismático e ex-operário Lula, com popularidade de 76% de ótimo e bom. Comparando a biografia, o tucano leva enorme vantagem, entretanto, por isso mesmo carrega uma herança maldita vinda das propostas do governo de FHC que passou a faixa presidencial desprestigiado pelo eleitor, diante da privatização das principais estatais estratégicas brasileiras, feito pelo qual sempre será lembrado. Nem mesmo a telefonia, a qual por muito tempo defendeu, dizendo ser um bem que deveria estar ao alcance de todos resultou em ganhos sociais, de fato, pois nas mãos da iniciativa privada houve mais concentração de renda, pois os valores cobrados pelas ligações brasileiras estão entre os mais caros do mundo.

Além do mais, o governo que Serra fez parte é lembrado pelas propostas do chamado consenso de Washington dos anos 90, que reunia os maiores bancos mundiais com o objetivo de definir caminhos para a economia mundial, mas as bases eram a política das nações capitalistas, muitas delas com problemas econômicos. Assim, a crise do ano passado não deixou dúvida que as regras seriam não somente perigosas para os subdesenvolvidos, como foi um desastre onde foram empregadas com prioridade. Ademais, a própria América Latina sinaliza para uma formação política sem apreço pelos países ditos centrais, os quais Serra parece representar. O agendamento do candidato tucano na mídia com insistência o coloca como o representado do liberalismo econômico, difundido pelo centro e reproduzido nos grandes veículos de comunicação brasileiros e do exterior.

No final, as explicações para uma ilustre desconhecida de a política empatar, com possibilidades de vencer o já conhecido, está exatamente na falta de opção política e, talvez do capital de confiança de muitos nomes que aparecem. Além do mais o momento vivido pelo governo é peculiar, que, afinal, consegue fazer migrar a classe E do país para a C, com direito a realizar mais de uma refeição por dia e ainda educar os filhos em escolas públicas e privadas, num ensino que se expandiu nos últimos anos e recebe investimentos e financiamento público. Não tem mágica, trata-se de uma escolha que vem apontando para os desejos dos muitos pobres, que enxergam a presença do Estado.

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