A cidade tem seus proprietários, com a conivência daqueles que, eleitos, deveriam ser os representantes da comunidade.
Comum os meios de comunicação apresentarem uma grande discussão sobre o trânsito, mas o fato é: a cidade prioriza os carros em detrimento dos pedestres, dos cidadãos. Esta não é uma questão absolutamente cultural, simplesmente, como se apregoa. A questão é mais simples, trata-se de uma sociedade que valoriza os objetos, quem tem mais recursos econômicos obtém privilégio em um espaço que teoricamente deveria ser de todos, do público. Se há alguma dúvida, basta observar quais são os modelos de carros que invadem as calçadas, furam sinal de trânsito, estacionam em local proibido. São efetivamente carros de luxo, cujo dono tem status social. Isto significa dizer que não é por falta de conhecimento das relações humanas que se cometem infrações no trânsito. Há uma inversão de valores, o que é particular deve ser preservado, o que é do público não é de ninguém, ou melhor, de quem tem mais condições política e econômica.
Recentemente, o próprio órgão que deveria cuidar pelo bom desempenho do trânsito mantinha a cultura de livrar determinadas personalidades de pagar multas por infrações. Ou seja, a prefeitura, através de seus agentes, denomina quem paga e quem não paga por erros cometidos contra o público. Desta forma, o dono de um carrinho deve tomar cuidado, mas o proprietário do carrão não tem porque se preocupar. A cidade tem seus proprietários, com a conivência daqueles que, eleitos, deveriam ser os representantes da comunidade. Daí a falta de guardas para ordenar o tráfico de automóveis, pois este não é, de fato, o objetivo. Estranho.
Nas escolas particulares chega ao ridículo de uma senhora elegante estacionar o seu automóvel de última geração no meio da rua para o filho, mesmo consciente da enorme fila de cidadãos que se formou ao longo da via. Todos esperando a boa vontade da infratora, em pouco tempo começa a buzinação, o que gera outro problema a poluição sonora. Não quer dizer que homens não cometem os mesmo erros, a repetição é constante, independentemente do sexo. A diferença está na condição econômica e participação na estrutura política.
A rigor, a falta de escolaridade não é inteiramente a questão, mas a estrutura em que se forma um país. A classe média não deve entender que tem status para criar o caos, afinal, será vítima dele como ocorre com a segurança, a má educação, a injustiça social que a atinge com prioridade.
1 comentários:
Qualquer pessoa que já tenha viajado para outras capitais de Estado constata: temos em Goiás os piores motoristas do país, inclusive somos assim tachados em todo território nacional.
Embora muitos tentem argumentar que o trânsito está caótico em função do excesso de veículos nas ruas, eu atribuo nossas péssimas condições de trânsito aos péssimos motoristas que somos. Em Goiânia muitos reclamam que existem muitos locais de trânsito engarrafado, porém ninguém pensa em deixar o carro em casa...porque é necessidade imperiosa em nosso cotidiano moderno.
Não conheço local em Goiânia onde se fique absolutamente parado em engarrafamento por mais de cinco minutos, a menos que tenha havido no local algum problema como os comuns acidentes em via urbana, causados por nós mesmos, péssimos motoristas.
Se deixássemos de ser bairristas, procuraríamos ver que engarrafado é o trânsito em SP, RJ e BH. Aqui há muitos carros, o trânsito é lento, mas flui. E só não flui melhor porque temos uma construção de vias de concepção igualmente bairrista, onde há excesso de permissão de conversões à esquerda e muitos, muitos cruzamentos. Nas cidades mais modernas, há que se andar um pouco mais e fazer o retorno, contornando a quadra. Só não flui melhor ainda pelo excesso de motoristas donos das vias, sem noções mínimas de prudência, perícia, e ainda de cidadania, respeito, ética e demais valores humanos.
Em suma, o problema do trânsito não são os carros, nossos objetos, e nem a pouca fiscalização, mas nossa própria ignorância. E que permaneçam os veículos mas sejam banidos de vez os maus condutores.
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