Velhos tempos da inflação

Seria prudente terceirizar a fabricação de bombas atômicas? Portanto, não dá para esquecer o “povão” em favor da ordem do mercado, simplesmente

COMBUSTÍVEL – No Brasil histórico existem alguns períodos que é melhor esquecer, quando, por exemplo, havia uma inflação de cerca de 80% ao mês, obrigando as famílias ao estoque de mercadorias em casa. A lucratividade das empresas comerciais era fenomenal, pois os empresários viviam mais de especulação do que da venda de produtos nas prateleiras – bem verdade que é uma prática estrutural das grandes empresas. Nesta semana, a sensação foi de volta ao passado, com o aumento do combustível, com carros lotando os pátios dos postos, na noite de terça para aproveitar o preço “antigo” da gasolina.

Neste momento se pode pensar em dois fatores básicos para a volta das especulações em torno do produto brasileiro. De um lado, o governo deixou de dar atenção a um setor sensível e cada vez mais expressivo na vida dos brasileiros. Com uma política determinada da Petrobrás seria possível evitar a submissão aos empresários brasileiros, sempre ávidos por resultados econômicos, mesmo considerando o respeito com a população brasileira.

Depois, como reflexo no capitalismo, fica claro a importância do Estado na regulação da economia, pois não há explicação suficiente para afirmar que o aumento do etanol se ocorre sucessivamente em função simplesmente da entressafra, afinal, para toda produção existe controle que se faz a médio e longo prazos – uma categoria que tem estratégias permanentes. Havia, portanto, previsão de que em determinado momento o governo brasileiro ficaria vulnerável, diante do aumento do preço da gasolina e não estaria preparado para impor a manutenção dos valores cobrados nos postos.

Ganham os usineiros, os quais acreditam que a inflação é uma alternativa para desmobilizar o governo; perde a população que cada vez mais depende do carro para sobreviver. Redundante dizer que o transporte coletivo público, uma concessão pública, não funciona adequadamente o que leva a população ao transporte individual. A rigor, em Goiânia faltam explicações e sobram descontrole – ou seria gestão? – dos órgãos municipais para um serviço de péssima qualidade.

Não se discute aqui alternativas ao capitalismo, mas se faz fundamental entender como funciona na sua essência a busca do lucro e organização social em torno da produção e consumo, da oferta e procura. Aqueles que defendem um Estado mínimo, ou seja, o mercado responsável pelo desenvolvimento social, cabe uma pergunta: seria prudente terceirizar a fabricação de bombas atômicas? Portanto, não dá para esquecer o povão em favor da ordem do mercado, simplesmente. Neste sentido a participação efetiva da opinião pública torna-se indispensável em um Brasil que se imagina da justiça, igualdade e democracia.

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