Neste momento está em jogo, não exatamente a fé cristã, mas de fato a ordem sistêmica de modelo capitalista que passa pelo processo eleitoral. Não seria este um ato de desinformação?
ELEIÇÕES - A religião ganhou destaque neste momento eleitoral, talvez fazendo relembrar momentos históricos, em que o mundo recebia os primeiros lampejos da ciência derrubando mitos, os quais sustentavam crenças as mais diversas e pouco racionais. As rupturas nem sempre são simples, pois as estruturas assentam comportamentos e pessoas que por milhares de anos repetem os mesmos discursos. Neste momento, porém, a defesa religiosa da não-descriminalização do aborto é legítima e honesta, afinal, a discussão gira em torno da vida. Mas não estaria com o olhar somente para a ponta do iceberg, sendo o problema mais profundo, o qual não se vê com clareza?
Para os autores sistêmicos, a religião foi importante na consolidação do capitalismo, que afinal não pode sobreviver fora da ordem, a rigor, a segurança faz parte da estabilidade econômica, apesar do capitalismo mesmo estar sempre em crise, no sentido de atender as novas necessidades sociais, muitas delas criadas artificialmente. Uma sociedade alegre e feliz, portanto, passiva poderia ser um lugar tranquilo para o desenvolvimento econômico e manutenção da ordem vigente – sem dúvida excludente.
Embora, os homens e mulheres vivem em torno dos mitos, pois fazem parte da nossa realidade, não estão plenamente ordenados, o que gera sempre tensão, e deve ser controlada. Não seria o caso, então de possibilitar mais informações para que se possa, coletivamente, chegar a um posicionamento?
As imagens eleitorais são no mínimo irônicas, pois se tornou comum se deparar com fotografias dos tucanos José Serra, nos grandes jornais, e Marconi Perillo na imprensa local com ar de religiosos, ao lado de símbolos da Igreja. Por outro lado, Dilma Rousseff (PT) distante da crença, com olhar fixo no horizonte, enquanto que Íris Rezende (PMDB), se apresenta preocupado apenas com os movimentos políticos.
A mídia constrói o seu discurso sem trazer informações sobre a estrutura abaixo da superfície (do iceberg), o que poderá ocorrer depois das eleições. Neste momento está em jogo, não exatamente a fé cristã, mas de fato a ordem sistêmica de modelo capitalista que passa pelo processo eleitoral. Não seria este um ato de desinformação? O aborto e casamento gay necessariamente estão ligados as lógicas simplesmente religiosas? E o governo de um país se resume a apenas a estes temas? Não seria o caso de pensar que outros assuntos tem relação com os interesses religiosos, como por exemplo, a exclusão social, a fome, a miséria?
O grande risco que se corre é a valorização do símbolo em função apenas das lógicas de capitalismo que vão contra até mesmo a imagem de um mundo de inclusão. Sobre as questões apresentadas são realmente para serem pensadas e discutidas.
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