Não se deve pensar em estabelecer ordem que favoreça a minorias privilegiadas, que usa do temor da prisão em benefício da manutenção do modelo de grandes diferenças sociais
Nas últimas semanas alguns agentes políticos e da justiça levantaram uma discussão no mínimo intrigante: a prisão de pequenos vendedores (os aviõezinhos) de drogas para reduzir o tráfico. Conforme o argumento é preciso combater o crime no seu início para evitar o surgimento de novos líderes, os quais seriam difíceis de combater diante de seu poderio, estratégias e ligações no mundo da criminalidade. Sem dúvida uma sábia dedução, se considerasse a realidade vivida pela justiça e prisões brasileiras, que muitas vezes antes de ressocializar pessoas as torna mais conhecedoras dos caminhos da marginalidade e suas peculiaridades.
Infelizmente a prisão no Brasil (talvez no mundo) ainda merece grande debate, com pessoas realmente interessadas em melhorar a qualidade de vida das pessoas que encontram pela frente, como saída, o universo do crime. Não se trata de apenas desejar ocultar ou excluir da sociedade a ilegalidade, como se a sociedade conseguisse atingir a racionalidade divina da justiça e liberdade de escolha. Um problema que não somente brasileiro, mas que aflige as nações ditas desenvolvidas que preferem também ocultam suas prisões, e quando são mostradas pela mídia mascara sua realidade.
A prisão de adolescentes que fazem tráfego pelas esquinas das grandes cidades no Brasil ao invés de reduzir a formação de lideranças para a venda de drogas poderá resultar, ao longo do tempo, de mais disseminação das drogas, a permitir o aumento de seus representantes mais escolarizados. A rigor, é senso comum dizer que "a cadeia é um lugar de formar delinquência". Torna-se fundamental pensar na ordem social estabelecida que prefere ocultar ou eliminar os problemas de maneira abrupta e autoritária sem considerar a necessidade de oferecer condições para a igualdade e verdadeira justiça social.
Não se deve pensar em estabelecer ordem que favoreça a minorias privilegiadas, que usa do temor da prisão em benefício da manutenção do modelo de grandes diferenças sociais. O temor pela falta de representação da maioria pode levar a mais ilegalidade e o descrédito da própria justiça, que muitas vezes servem aos propósitos políticos de governantes, os quais vislumbram sua perenidade no poder, com discurso que apenas leva a desinformação e desejo inatigível, se considerados os sinais clarividentes.
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