Enfim, como reação, a natureza que também precisa de espaço, alarga e reconstrói os seus caminhos em meio a vidas e sofrimento para uma sociedade que contemporaneamente se comunica em excesso, mas ainda carece de atentar para os saberes sobre o meio onde vive.
Se a princípio não se tinha a dimensão do tamanho do planeta, hoje com as novas tecnologias se sabe, em detalhes, o seu tamanho, com análises de projeção de futuro sobre a terra e o universo, muitas vezes explorado pelo cinema. Como a fala humana, ao longo do tempo, se desenvolveu a ponto de melhorar as trocas de saberes, na atualidade é possível ir além da simples percepção que falar seja uma ação apenas de indivíduos em busca da sobrevivência. Sobressai a certeza de uma comunicação que ocorre em todos os lugares, feita não somente por órgãos humanos (o corpo fala), mas através de signos, como é o caso da natureza. Se assim for, o meio ambiente sinaliza para a falta de diálogo entre pessoas e meio ambiente.
As catástrofes que ocorrem em diversos lugares, neste planeta, é a representação do estrangulamento do crescimento e progresso da sociedade, numa era chamada de pós-moderna ou pós-industrial. Diferentemente de uma lenta produção artesanal do século XVIII, chegamos, hoje, à produção em série, com máquinas inteligentes, cada vez mais veloz, cujo consumo se tornou exagerado e sem planejamento sobre o espaço ambiental. O resultado é a incapacidade da natureza de repor matérias primas, finitas. O esgotamento, então, torna-se inevitável.
Aliado a isso, o próprio movimento de um sistema vivo, que, conforme demonstra alguns pensadores, não estaria estático. Alguma mudança deveria ocorrer nas diversas trocas entre os seus diferentes elementos, provocando mudanças na condição de vida do homem, certamente muito frágil neste embate que se propõe dialógico, mas que pode se transformar numa grande batalha. Aqui não haverá vitórias consagradoras.
Um dos pontos que chamam a atenção da sociedade neste início de ano, com chuvas que se concentram em dias, portanto, com grande volume de água, é o processo irracional de construção de moradias nos grandes centros urbanos. A exemplo do que ocorreu com a chegada da industrialização desde sua origem na Europa, em grande parte dos países pelo mundo, as pessoas migraram para as regiões metropolitanas, as quais oferecem melhor condições de trabalho, formação e, paradoxalmente, qualidade de vida.
Na esteira deste movimento estão as estratégias dos empreendedores que precisam de mão-de-obra, com indústrias multinacionais edificadas nas cidades tecnologizadas, as quais arrebanham multidões em busca dos benefícios do mundo moderno, mas que dependem de condições financeiras para usufruir dos benefícios desta nova geração. No campo se instalou amplas empresas, que necessitam cada vez menos de trabalhadores, expulsa o homem de suas tradições e das grandes famílias. Expropriado do seu espaço, torna-o indivíduos de lugar nenhum.
Assim, alguns pontos precisam ser avaliados: sem lugar para morar e diante de baixos salários o que resta às pessoas são as regiões periféricas, nas encostas de rios, nos manguezais, em cima de palafitas, sobre as montanhas de lixo que se acumulam a céu aberto; a rica especulação imobiliária carece de mais terrenos, abarcando imoralmente até mesmo aqueles ambientalmente condenáveis à moradia; o asfaltamento das inúmeras ruas que surgem a cada dia impede a absorção da água pelo solo, o que forma grande rios dentro das áreas urbanas no período chuvoso; o lixo causado pelo consumo que precisa ser rápido, com materiais descartáveis e não biodegradável, se acumulam nos rios e lagos.
Enfim, como reação, a natureza que também precisa de espaço, alarga e reconstrói os seus caminhos em meio a vidas e sofrimento para uma sociedade que contemporaneamente se comunica em excesso, mas ainda carece de atentar para os saberes sobre o meio onde vive.
As mortes são aos milhares, cujas responsabilidades não estão somente da política, do Estado, das instituições, mas sobretudo no processo implementado pela ordem sistemática de riqueza, em nome do qual o ser humano – muitos por falta de escolha - se marginaliza cegamente. A ciência, consensualmente e cada vez mais, investe nervosamente na busca de resultados pragmáticos do desenvolvimento e não tem olhos para as tradições da vida em sua gênese.
A natureza tem o seu discurso e se comunica com energia. É preciso querer ouvir.
*Artigo deste autor publicado pela Revista Cromossomo Y, em fevereiro de 2011.
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