Torna-se fundamental afirmar que a prática do jornalismo é uma atividade complexa e exige sintonia com a coletividade.
SOCIEDADE - Uma das questões neste momento eleitoral é entender a influência dos meios de comunicação tradicionais nas campanhas e o comportamento como participantes na esfera pública. Sem dúvida que, com a chegada das novas tecnologias, a sociedade na contemporaneidade passa a ter mais lugares para se informar, retirando das mídias tradicionais, principalmente o domínio do impresso, sobre o discurso social. Contudo, é substancial sua capacidade para publicizar acontecimentos que se tornam conhecidos do público, e norteia num primeiro momento, a visão dos eleitores. Desta forma, a responsabilidade do jornalismo é imensa e deve zelar pela ética e democracia. Mas de fato isso ocorre?
Uma pergunta difícil de responder dada a complexidade social, e de entender em essência como se forma o discurso. Mas cabem algumas análises rápidas, ainda que superficiais. A princípio o jornal, assim como os veículos de comunicação de grande audiência, são empresas, cujo objetivo a priori é a lucratividade, ou seja, num sistema capitalista quem não participa de suas lógicas se marginaliza e a sobrevivência fica comprometida. Portanto, os meios, contudo, não visam apenas a difusão ideologias de grupos ou comunidade.
Um segundo ponto a ser ressaltado é o da direção de um empreendimento defender discurso que vai ao encontro de seus interesses, que garante estabilidade para o seu negócio e o torna consciente de sua territorialidade de atuação. Por último, o veículo de comunicação se aproxima de pessoas, grupos econômicos e políticos, que permitem manter boa performance nos espaços sociais dominantes, sobretudo. Não seria estranho imaginar que estes três pontos destacados podem prevalecer conjuntamente: interesse econômico, discurso sistemático e defesa de grupos hegemônicos.
Desta forma, não se pode pensar que a sociedade esteja distante destas nuances em que os meios de comunicação fazem parte. Como exemplo o Jornal Folha de S. Paulo, na sua fundação defendia os interesses agrários, depois buscou se acomodar com discurso de esquerda até os anos 80, e posteriormente, na atualidade, difunde idéias liberais, muito próximas do mercado global.
Isso significa dizer que, conforme a essência de determinados grupos e movimentos sociais caminha a comunicação-empresa. Desta maneira, as lutas e enfrentamentos se tornam comuns e, muitas vezes, necessárias no sentido de negar o domínio de determinado pensamento estabelecido como único. As críticas contra jornais locais como Diário da Manhã e O Popular, os mais influentes em Goiânia, por exemplo, se mostram como forma de uma disputa que envolve grupos sociais legítimos e interesses os mais diversos.
O surgimento de novas idéias e discursos é fundamental para o desenvolvimento social, entretanto, se deve destacar que o enfrentamento leva a algumas perdas tanto para a empresa de comunicação, quanto para a comunidade que pode ver frustradas as suas expectativas democráticas e éticas.
Afinal, os meios de comunicação não deveriam zelar pelos interesses da sociedade de maneira a bem informar? Sem dúvida. Entretanto, é difícil o conceito de ética e de boa informação. Alguém pode defender suas ideias intransigentemente como únicas em um momento, e negá-las depois. Todavia, a rigor, a comunicação é social e não se efetiva de fato somente da grande mídia, o que inevitavelmente levará a perda de credibilidade de grupos que serão desmentidos a posteriori.
Logo, torna-se fundamental afirmar que a prática do jornalismo é uma atividade complexa e exige sintonia com a coletividade. Prova disso são exatamente as eleições para a presidência, pois, as grandes empresas de comunicação defendem o discurso do tucano José Serra (PSDB), como o faz a Folha de S. Paulo, que divulga através de sua agência a mesma mensagem, reproduzida por todo o país pelos pequenos jornais. Entretanto, como se vê o presidente operário, diferentemente de uma elite bem educada, tem 80% de aprovação, e sua candidata pode ganhar as eleições ainda no primeiro turno. Realmente!