Na Alemanha, na França os presidentes se revezam no discurso de um mundo melhor depois que o povo sai às ruas clamando por liberdade política e igualdade, e, com efeito, atinge momentaneamente o seu objetivo – tudo resolvido a contento
Imagem de capa do jornal Folha de S. Paulo - sábado |
Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama traz a mensagem de comemoração da saída do chefe da nação do Egito, que enquanto esteve no poder foi aliado dos norte americano e europeu, numa estratégia clara de manutenção do domínio sobre uma região, a qual convive com as diferenças e as guerras, um lugar que pode explodir a qualquer momento. Afinal trata-se de um território em que o petróleo jorra pela força da natureza e interessa ao mundo ocidental, capaz de vender a alma para manter a estrutura feudal, num capitalismo que dá sinal de cansaço e resistência.
Antes perder os anéis do que os dedos, todavia é necessário dizer isso em rede de televisão para não deixar dúvida sobre de qual lado o centro do pode econômico está, o do bem, ou seja, do povo, da massa – aqui já há contradição no discurso, pois como a massa pode ascender ao poder?
Na Alemanha, na França os presidentes se revezam no discurso de um mundo melhor depois que o povo sai às ruas clamando por liberdade política e igualdade, e, com efeito, atinge momentaneamente o seu objetivo – tudo resolvido a contento. Um teatro em que a platéia precisa acredita nas palavras de seus atores, que no instante seguinte faz as contas do que perdeu, como evitar mais problemas nos caixas e dar a volta por cima. Sem dúvida um momento delicado, pois neste contexto os movimentos demonstram potencialidade para mais levantes, e em qualquer lugar, agora ou depois. O poder está em alerta nesta fase de pessoas na rua aos gritos, aos milhões.
Difícil entender os lugares dos repórteres da televisão e as palavras usadas para ratificar uma verdade sempre conhecida: a democracia é o lugar mais precioso que deve ser conquistado. Em Jerusalém o alerta de que se esperam boas relações com o vizinho em mudança política. Os Estados Unidos nunca foram tão favoráveis as massas sublevadas, embora tenha depositado ao longo de décadas milhares de dólares para a manutenção da ordem egípcia, dinheiro que chega aos militares. Os países europeus acreditam que agora reina a paz em um mundo de relações complexas. Não haveria outro discurso.
Na verdade, Mubarak passou a representar, em alto e bom som o mal para permitir ao centro do poder econômico manter a ordem como antes. Paradoxalmente, na transformação nada se muda. A democracia deve ser a mesma desde o feudalismo, ou seja, de quem comanda a ordem mundial. As pessoas, e não as massas como repetem os atores, é que devem dizer. A rigor sinaliza mais uma vez potencial para exigir transformações no poder.
1 comentários:
"Paradoxalmente, na transformação nada se muda." Verdade! Quando olhamos para esse quadro percebemos que ao lado das mudanças edificantes, no sentido de trazerem avanços consideráveis para boa parte da população, vemos que, no fiz das contas, quem detém o poder continuará no poder, simplesmente vestidos com uma nova roupagem e com um novo testa de ferro. Enquanto isso a população saboreia uma ‘vitória’ puramente imaginária. Triste!
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