O que se espera é a sinalização do governo fluminense e federal para ações que levem a formação de uma estrutura permanente, e não somente circunscrita as lógicas da sazonalidade de eventos.
JUSTIÇA SOCIAL - As novas tecnologias tornam os eventos cada vez mais espetaculosos, e distantes do real, impedindo, quase sempre, uma concepção sem intervenções de imagens produzidas previamente, a custos altos e ampla audiência. O excesso de mídias e a busca de separar o bem do mal, de maneira implacável, explodem com a possibilidade de se usar a razão e, por isso, estabelecer uma visão mais profunda dos fatos descortinados. No Rio de Janeiro a realidade que se apresenta é a de uma limpeza nos morros cheios de bandidos que aterrorizam uma população ordeira e trabalhadora. Será tão simples?
Já se escreveu muito sobre o assunto, tornou-se lugar comum dizer que não basta entrar numa favela para reduzir a criminalidade das grandes cidades, pois para a opinião da maioria são estes os lugares que abrigam marginais perigosos causadores de males a uma sociedade organizada e com potencialidades futuras; em resumo, o crime reduz riquezas.
Talvez o problema seja realmente muito maior se considerarmos que não somente em determinados redutos, que abrigam pessoas humildes, moram somente bandidos. Por outro lado, possivelmente as grandes lideranças não vivam em redutos com poucos recursos tecnológicos e bem-estar. O crime contra a sociedade não tem localidade definida, importante usar a imaginação para entender a dura realidade social de muitos pobres e poucos ricos.
O exagero dos discursos da pacificação da capital fluminense leva ao sentimento que a solução foi encontrada, basta eliminar favelas nas metrópoles tecnologizadas e se estabelece a plena harmonia. Sem dúvida, a presença do Estado do bem-estar-social nestes lugares é fundamental para dar segurança e qualidade de vida às pessoas, na sua maioria trabalhadora. Pois, enquanto não há uma representação será necessária a eleição de lideranças que possam salvaguardar os interesses desta coletividade, o que no final ganha os rumos capitalistas, de concentração de poder e domínio absoluto de todos os quadrantes, em detrimento da população representada.
Como se sabe esta não foi a primeira invasão de cidades cariocas, quando muitas pessoas foram presas, retiradas da sociedade, mas logo alguém reassume o posto, na volta do Estado para os seios de um sistema que vislumbra prioritariamente os espaços econômicos, e aquilo que sirva de propaganda política, cuja eficácia atenda os anseios imaginários de uma audiência ávida por soluções rápidas. Não pode haver dúvida da diferença entre traficantes armados e o poder de uma política treinada para a área urbana e forças federais com amplo poder bélico.
A entrada da segurança estatal nos becos das grandes cidades é uma questão política, com alto custo econômico que no final atende os propósitos de milhares de pessoas que sobrevivem nos espaços marginais, diante da concentração econômica do sistema social.
No caso do Rio, diante da proximidade com grandes eventos esportivos globais, torna-se forçoso analisar que se trata de uma medida instrumentalizada para atender os anseios turísticos. Contudo, não vale a pena ser tão pessimista, talvez seja também a busca de permitir segurança as diversas cidades cariocas que convivem há séculos com a criminalidade desenfreada, a qual muitas vezes nasce no centro organizado. O que se espera é a sinalização do governo fluminense e federal para ações que levem a formação de uma estrutura permanente, e não somente circunscrita as lógicas da sazonalidade de eventos.
Finalmente, a morte de milhares de pessoas, inclusive aquelas envolvidas no crime, certamente não vá resolver a criminalidade e a violência da sociedade moderna. O sistema político e econômico também precisa passar por análises, com invasão de racionalidade, cujas armas abstratas talvez devam ser mais potentes do que aquelas usados no Rio de Janeiro. O desenvolvimento humano seria inexorável.