Além das informações!

A máxima cartesiana “Penso, logo existo” na perspectiva de uma educação libertadora, revolucionária inverte a máxima: “Existo, logo penso!”

As férias certamente são o momento mais importante para se pensar sobre a educação. Se a internet aumenta o fluxo de informação, porém, não se deve entender que resolva a formação de conhecimento, para a liberdade e democracia social.

Neste sentido, abaixo reproduzimos um texto de um excelente educador, o qual temos estima e consideramos um grande amigo.Vale a pena ler e analisá-lo, embora seja um texto publicado, há alguns anos, em jornal da cidade de Uberaba, mas uma discussão atual .

"Já é senso comum de que não é bom, ou ótimo, ou excelente professor que transmite conhecimentos, mas é o que proporciona, causa, propicia aos estudantes a busca, a conquista do conhecimento. Em outras palavras, é o provocador! O desequilibrador! O estimulador. Assim, professor é quem coloca o processo de aprendizagem em ação. É quem corre primeiro numa corrida de revezamento! Quem cruza a linha de chegada não é o professor! Nessa corrida, todas as condições emocionais, cognitivas, corporais têm de ser ou estar favoráveis, num esforço individual e coletivo, contínuo e dinâmico, constante e motivado. A sala de aula é o ponto de partida! A realidade é o ponto de chegada!

O conhecimento sem sabedoria é inútil. É um simples acúmulo, agrupamento e conjunto de dados. A sabedoria organiza os dados e lhes dá significados, sentidos, valores. Essa é a razão por que muitos estudantes falam assim: “Aquele professor sabe muito, sabe tudo, mas não consegue comunicar-nos o que sabe!” falta-lhe sabedoria! Mais ou menos a mesma coisa acontece com a memória dos computadores, na Internet... Tem todas as informações e dados, mas computador continua “burro”. Cheio de informações vazias!

É função/missão do professor ser o trampolim para os estudantes darem salto da informação para o conhecimento, do conhecimento para a sabedoria, da sabedoria para o futuro! Isso é o que se chama “salto de qualidade.”

A máxima cartesiana “Penso, logo existo” na perspectiva de uma educação libertadora, revolucionária inverte a máxima: “Existo, logo penso!” no fundo, a existência determina o pensamento, a consciência. A escola é a única instituição capaz de inverter essa máxima cartesiana, porque é a única capaz de informar, formar e transformar.

Uma escola racionalista e, por extensão, uma sociedade racionalista – privilégio da razão – só agravam o individualismo, destroem a natureza subjetiva do homem, talvez a usa maior riqueza. Para Habermas, “o intersubjetivismo compartilhado é que cria a base da ação comunicativa.” E a comunicação é ato da vontade e não conseqüência de conhecimentos. E como ato da vontade passa, perpassa, transpassa, repassa pelo jogo de interesses e intenções, desejos e necessidades, valores e ética.

O fato é que o racionalismo tem meios de unificar comportamentos e atitudes – o que é um grande mal! Os contrários, os adversários, os contrários, as discordâncias... é que alimentam as idéias e os ideais. Sem a discordância, não há crescimento, porque coloca fim na reflexão. Nesse sentido, uma escola tem de ser a harmonização dos contrários, dos opositores, como pensava Carl Marx em relação à política: “A política é uma atividade provocada pelo conflito.”

Uma revolução nas escolas, todos sabemos, não é fácil, porque as escolas e as universidades são resultados das relações sociais de produção, portanto dependentes da economia e da política. Cortar o cordão umbilical da economia e da política é doloroso, dolorosíssimo e sem esse corte, essa ruptura não haverá também novos caminhos na busca do eqüidade social.

Muitos desafios estão sendo postos diante dos olhos das universidades, libertas da economia e da política, para produzirem saberes por excelência; aplicarem os conhecimentos para o bem comum, para o bem social; manterem vínculos com a cultura universal; ajudarem a construir o cidadão regional, nacional e planetário; formarem homens e mulheres eticamente preparados para aplicarem tecnologias sem causar danos às pessoas, a todos os seres da natureza; estimularem a participação de todos na sociedade de informação, nas redes de intercâmbio e interação; proporem ações que promovam as pessoas, diminuindo as distâncias entre elas..."

• Décio Bragança Silva é professor da Universidade de Uberaba.

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