Enem, mercado e política

Considerando se tratar de um gasto público de quase R$400 milhões para sua execução em todo o país, sendo que apenas e tão somente 639 estudantes tiveram contato com o conteúdo, que fez parte da prova aplicada



A discussão em torno do Enem, que, nos últimos dias, é pauta diariamente de notícias das grandes mídias, vem desvelando a condição da educação brasileira. Notoriamente, o ensino superior caro e seletivo sempre privilegiou uma classe social, em demasia, enquanto a maioria que vive com salários parcos não tem acesso à graduação, com qualidade. Entrar para a universidade no Brasil significa altos investimentos para concorrer com igualdade, com aqueles assistem aulas em luxuosas escolas preparatórias para o vestibular. Para os que não podem pagar para cursos chamados de elites, é estar fora da seleção para vários cursos da moda.

O Exame Nacional do Ensino Médio torna-se uma fórmula que permite estudantes de todo o país participe das provas de seleção, preenchendo vagas em instituições que muitas vezes ficam com lugares ociosos por falta alunos e outras com excessos. Desta forma, realizar apenas uma prova e concorrer em todos os estados é uma forma inteligente e democrática de permitir o funcionamento do sistema de ensino público universitário. Ainda, não há a necessidade de se fazer vários provas, em diversas faculdades, mas basta um exame, o que reduz gastos e oferece isonomia para aqueles que não podem bancar viagens e inscrições em diferentes regiões.

Sobretudo, evita-se o carimbo de ingresso nas universidades com o chamado decoreba, quando o aluno passa meses memorizando fórmulas que no final não servirá para nada, pois os conteúdos são sistemáticos, ou seja, não se efetiva fora das lógicas empíricas. Como resultado se paga para decorar, com professores cantando “musiquinhas” para alunos esgotados, que desenvolvem a aptidão para reproduzir normas, estritamente.

Mas há que avaliar que o exame mexe com um negócio rentável, os cursinhos pré-vestibulares espalhados pelos municípios brasileiros, com preços de mensalidade, para os “tops”, proibitivos para milhares de famílias brasileiras. A concorrência entre as empresas de educação é voraz, cada qual tem necessidade de expor o rosto dos alunos bem colocados nos exames, a cada semestre e estar na mídia cotidianamente. Cada aprovado tem peso nesta soma para obter mais alunos, o que torna explicado o fato de o Colégio Christus, de Fortaleza, disponibilizar de forma questionável, as questões de pré-teste do Enem.

Mas ainda é estranho que a justiça dê como racional anular as 13 questões em todo o país – ventilou-se anular o concurso, mas voltaram atrás, na última hora -, com clara proposta de macular o exame, considerando se tratar de um gasto público de quase R$400 milhões para sua execução em todo o país, sendo que apenas e tão somente 639 estudantes tiveram contato com o conteúdo, que fez parte da prova aplicada.

Bem verdade que o ministro da Educação, Fernando Haddad, será candidato pelo PT à prefeitura de São Paulo ano que vem, mas seria um excesso e falta de responsabilidade com o país inteiro a tentativa de desmoralizar um projeto que atende milhões de brasileiros, a um custo que pesa no bolso de todos. A política deve ser o campo das falas, das ideias, não simplesmente das artimanhas midiáticas e de classe.

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