Em essência, uma obra que deve ser lida por jornalista, estudantes e professores que pretendam formar uma juventude que queira conhecer os bastidores da informação mediada.
RESENHA - A comunicação cada vez mais se torna fundamental na sociedade moderna, a qual é responsável pela formação cultural e de identidade, conforme as transformações ocorram, de maneira rápida, nos tempos atuais. Desta maneira, o jornalismo e a comunicação on-line se destacam como forma potencial para a existência de um homem consciente e livre para tomar decisões. Imprensa que é responsável pelas narrativas da história que se desenrola no dia a dia. Desta maneira, o livro "Caminhos da Reportagem: o jornalismo e seus bastidores" torna-se muito importante no sentido de narrar momentos vividos pelos goianos e formar o imaginário social, conforme a emergência dos acontecimentos.
Como toda obra também merece elogios e críticas, comuns para em texto do gênero. Desta maneira, o trabalho feito por três jornalistas (Deire Assis, Rogério Borges e Vinicius J. Sassine) deixou infelizmente de lado os fatos políticos, que em Goiás gera discussão, e nem sempre traz à superfície os bastidores, debate caro para alguns representantes mal intencionados com a coisa pública, principalmente que usurpam os cofres da viúva. Muitas vezes a sociedade fica a mercê dos agendamentos de interesse dos grandes ícones do estado, sem na verdade fazer emergir debates e movimentos de representantes importantes na composição do cenário. No final, os escândalos e interesses, muitas vezes, contraditórios com suas propostas e espúrios, surgem tempos depois de ocorridos. Uma pena, um redundante modo de domínio da consciência do eleitor. De fato, não era esta a proposta dos textos, possivelmente uma área sensível para qualquer grande empresa de comunicação.
O que chama a atenção na obra é a busca de produzir matérias que estejam sendo discutidas pela mídia nacional (o que os autores reconhecem, em alguns momentos, ser o atendimento ao agendamento - agenda setting). Desta forma, o local passa distante do conhecimento da sociedade, que cada vez mais necessita das relações pessoais para saber de acontecimentos próximos, como é caso da política, cultura e até mesmo da literatura. Talvez seja um problema de formação de uma sociedade que sempre foi bombardeada pelos diversos veículos estrangeiros, os quais serviram e permanecem atuantes para estruturação da mídia nativa.
No que se refere ao caderno de cultura de qualquer jornal, não recebe prioridade e tem pouco destaque, inclusive o que primeiro é concluído na edição, muitas vezes com assuntos de lugares tão distantes de nossa realidade que mais parece um guia turístico ou algo que o valha. Sobretudo é importante destacar que antes de um bom texto, que se escreva de maneira diferente da regra do jornalismo tradicional é estabelecer um discurso, cuja profundidade e informação não sejam conservadoras ao ponto de impedir a percepção de realidades que passam despercebidas pela falta de visibilidade. Mais vale a comunicação em profundidade do que uma forma inusitada de contar uma história.
Num texto jornalístico não é fundamental simplesmente a descoberta de um tema que vá ao encontro dos interesses dos leitores ávidos por resultados imediatos, que é legítimo, mas que também faça emergir de um tema análises profundas que permitam a reflexão e formação do espírito critico, de pessoas capazes de pensar e debater. Possivelmente, a prostituição seja uma realidade brasileira e uma vergonha goiana, mas afinal, a ramificação desta questão não chega ao campo político, econômico? Talvez fosse um lugar importante para entender a resistência de uma realidade que incomoda e preocupa localmente.
Um dos importantes textos do livro é exatamente o caso "Parque Oeste Industrial" que se transformou em manchetes na imprensa nacional e tristeza, devido à ineficiência da política local, entretanto, questão pouco enfatizado pela reportagem. Muito estranho o jornalismo se voltar, imediatamente, contra os excluídos, pois exatamente é isso que ocorre em um país de diferenças aviltantes de renda. Quatro mil famílias que invadem uma área com dívidas que causam danos ao erário público não podem ser tratadas como simplesmente invasoras. Pior ainda como uma maioria formada por indivíduos que promovem especulação imobiliária. A propósito, Goiânia é um lugar complexo para discutir este tema, em função de sua história de movimentos de ocupação de terrenos, tanto por trabalhadores, quanto pela classe alta, no período de construção da nova capital. Vale lembrar: alguns políticos se tornaram eleitos em função de suas ações neste terreno, promovendo mutirões.
A própria jornalista reconhece a dificuldade de tratar tais assuntos no jornalismo local, pois, "A ação do jornal exercera um papel importante na forma como a ocupação passou a ser vista pela sociedade especialmente pelos agentes públicos". E complementa, "A ação da polícia foi absurda, de uma violência extrema e desnecessária. Eu precisava me convencer de que isso era o que estava errado, não o trabalho de investigação desencadeado pela reportagem".
Sem dúvida o jornalismo é um espaço fundamental para a formação da esfera pública, embora não seja o único nesta tarefa. A comunicação, sendo social, ultrapassa a competência dos temas mediatizados, entretanto, os meios de comunicação ganham notoriedade para a formação do imaginário social, que resulta na estruturação da realidade social.
A obra em questão merece ser reconhecida pela sua importância na luta dos jornalistas em narrar a história a partir do local, permitindo os leitores, sempre críticos, contato com textos que seriam esquecidos. A rigor, não somente os autores são avaliados, mas o jornal enquanto empresa também passa pelo crivo das análises, com sua linha editorial, a qual não está isenta de parcialidade no universo complexo das notícias. Em essência, uma obra que deve ser lida por jornalista, estudantes e professores (especialmente goianos) que pretendam formar uma juventude que queira conhecer os bastidores da informação mediada.
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