A MAIORIA E O ECONÔMICO













As pesquisas eleitorais para a sucessão de Lula ao Palácio do Planalto fazem parte desse jogo duro, concernente à definição da política que norteará o país a partir do ano que vem.


POLÍTICA
- A cada dia a América Latina ganha destaque nesta ordem global como uma região que pode mudar a dependência dos países centrais (Inglaterra e Estados Unidos, principalmente) e seguir o seu caminho, conforme identidade de uma sociedade marginalizada das grandes discussões e de uma maioria sem voz. Neste sentido, torna-se fundamental a definição dos presidentes desses países. No Brasil - importante neste processo -, a eleição presidencial não movimenta somente os brasileiros que defendem seu partido e candidato, mas a decisão vai além. O movimento dos grandes grupos financeiros, inclusive a mídia, não deixa dúvida.

Embora o governo Lula não trilhar os grandes dogmas da esquerda, evidentemente, que Dilma Rousseff está mais concernente com esta lógica do que o candidato tucano José Serra, por herança, defensor de uma ordem liberal, voltada para redução do estado do bem-estar-social e mais individualista. Certamente, se estas afirmações estiverem corretas, o PSDB estaria mais alinhado ao perfil de um consenso econômico e não prioritariamente social. Como se vê o debate está acima de uma visão apenas pontual, mas envolve interesses os mais diversos e mexe com estruturas globais. Talvez seja a mesma condição que envolve países como Argentina, Venezuela, Equador, Bolívia em período eleitoral.

As pesquisas eleitorais para a sucessão de Lula ao Palácio do Planalto fazem parte desse jogo duro, concernente à definição da política que norteará o país a partir do ano que vem. Como veremos durante as eleições, muitas pesquisas serão publicadas, com números diferentes conforme metodologia disponibilizada, que se alinham às datas de escândalos e ritmo das denúncias do jornalismo, em diferentes veículos. Não se trata de apenas um enfrentamento eleitoral, voltamos a repetir, mas uma luta que relaciona grupos sociais e interesses empresariais.

Dois pontos a serem analisados, entretanto: deve se atentar para uma sociedade com mais condições de participar das discussões sociais, sem a submissão aos meios de comunicação tradicionais, substancialmente. Além disso, vive-se em tempos de mais esclarecimento, com pessoas/eleitores que reúnem condições nos embates para defender interesses, conhecedores de sua realidade cotidiana. Por outro, lado os meios de comunicação de massa têm grande poder em uma sociedade moderna, capaz de difundir em várias mídias o mesmo discurso, principalmente àqueles ligados aos grandes grupos financeiros mundiais. Desta forma, têm-se de um lado a força do poder econômico local e global, alinhados, de outro a participação da grande maioria, eleitores.

Boaventura Sousa Santos, em entrevista a Revista Caros Amigos, desta semana, nesta análise, traz uma visão complicadora: "a esquerda nas duas últimas décadas comprou as teses neoliberais. Aquela esquerda que tem a pretensão de chegar ao governo em muitos países – com exceção de alguns países do continente, como Equador, Bolívia ou Venezuela – acabou por aceitar que o mercado é um princípio de eficiência fundamental, que é melhor que o Estado, que a desregulação é importante, que a iniciativa privada é importante. Ou seja, a esquerda ficou desarmada.”

Finalmente, desse cabo de guerra fazem parte os partidos políticos e candidatos. Conforme o resultado desse embate será o caminho a ser seguido tanto por Dilma, quanto por Serra. Um lado e outro deverão ser contemplados, a proporção vai depender da força das diferentes tendências. Que vença o social e o interesse da maioria.

Guerra e educação

Às vezes uma foto consegue descrever melhor um fato do que as palavras. Em meio uma guerra entre professores e policiais militares em São Paulo, momento em que há a força de coerção do Estado contra reivindicações dos docentes para melhoria dos espaço educacional, surge o ato de solidariedade de um educador com o seu agressor, este atendendo às ordens institucional.

Contestações a parte, não resta dúvida que o universo da escola é também político, pelo bem da sociedade, pois certamente é o único lugar que se pode teorizar e entender os fundamentos de uma civilização complexa.

Leandro: professor carrega policial ferido. O mundo bizarro de José Serra

Foto e texto retirados do site "Conversa Afiada" do jornalista Paulo Henrique Amorim. Publicada em 27/março/2010.

O nosso Putin faz coisas incríveis

Muito ainda se falará dessa foto de Clayton de Souza, da Agência Estado, por tudo que ela significa e dignifica, apesar do imenso paradoxo que encerra. A insolvência moral da política paulista gerou esse instantâneo estupendo, repleto de um simbolismo extremamente caro à natureza humana, cheio de amor e dor. Este professor que carrega o PM ferido é um quadro da arte absurda em que se transformou um governo sustentado artificialmente pela mídia e por coronéis do capital. É um mural multifacetado de significados, tudo resumido numa imagem inesquecível eternizada por um fotojornalista num momento solitário de glória. Ao desprezar o movimento grevista dos professores, ao debochar dos movimentos sociais e autorizar sua polícia a descer o cacete no corpo docente, José Serra conseguiu produzir, ao mesmo tempo, uma obra prima fotográfica, uma elegia à solidariedade humana e uma peça de campanha para Dilma Rousseff.

Inesquecível, Serra, inesquecível.

Mídia, política e poder

Imagem Wikipédia - Vista da cidade na perspectiva do Zoológico
Goiânia, assim como qualquer cidade brasileira não está solitária no universo, faz parte de um sistema global e visível. O turismo não é o único fator de interesse da sociedade moderna.

MÍDIA - Um fato que deveria gerar algum desconforto à sociedade goianiense, na verdade não mereceu nenhuma discussão a mais, somente análises muito rápidas, dos principais jornais locais, com falas de alguns intelectuais e o chefe do executivo municipal. Uma maneira linear de tratar um tema tão caro a muitas pessoas que vivem à margem da cidadania, que talvez devessem ser ouvidas ou conhecidas. O levantamento divulgado pela ONU de que Goiânia é uma das capitais que tem maior desigualdade de renda do mundo deveria gerar um debate que pudesse elucidar as razões que levam a esta conclusão. A princípio basta desconsiderar os números da pesquisa e está tudo resolvido. Ninguém se lembra e continua-se como antes, ou seja, o esquecimento é o melhor remédio para o que não se “pode” resolver.

Uma cidade que não consegue solucionar os seus problemas certamente não terá um futuro de desenvolvimento e prosperidade que chegue à maioria da população, neste caso mantendo apenas o status quo daqueles que possivelmente sejam de fato os responsáveis pela disfunção social, os quais evidentemente promovem mais fissuras no sistema, que deveria ser igual. O ciclo continua, os jornais continuarão repetindo as informações da violência, dos crimes, da insegurança e com belas fotos de miséria que insiste a fazer parte da cidade, que a quer invisível a todo custo.

A política que se preocupa com a cultura, o esporte, o bem-estar da população reproduz uma realidade inexistente, entretanto eivada de escândalos que persistem nas desavenças eleitorais, mas que se resolverá logo que há uma acomodação dos interesses. Assim vai vivendo com o que se quer mostrar e precisa ser visto por todos. Ocorre então, o distanciamento daquilo que na aparência denuncia a falta de responsabilidade das lideranças, que se acomodaram no poder econômico e político.

A mídia tem um papel importante neste cenário, a agenda diária das notícias talvez não esteja em conformidade com a informação que vai resultar numa sociedade do conhecimento sobre a sua própria realidade, o que impede o desenvolvimento econômico e social. Ao contrário dá-se a manutenção de um sistema que deve ter problema com tantas diferenças sociais. Goiânia, assim como qualquer cidade brasileira não está solitária no universo, faz parte de um sistema global e visível. O turismo não é o único fator de interesse da sociedade moderna.

GOIÂNIA TEM POBREZA E DESIGUALDADE SOCIAL

Imagem Wikipédia
Monumento da Praça Cívica de Goiânia que faz alusão as três raças: branco, negro e índio.


Os mutirões de casas próprias feitos pelo atual prefeito no passado possivelmente seja signo de uma realidade que se arrasta por anos a fio, passando por movimentos sociais que sofreram com a força pesada da mão coercitiva do Estado.



SOCIEDADE - A notícia publicada nos jornais brasileiros, nesta quinta e sexta-feira(20) sobre a desigualdade social de Goiânia, apontada pela ONU em relatório que ainda será divulgado, causa, por um lado desconforto e por outro uma grande dúvida: por que esta disfunção social não é aparente para a comunidade? A defesa do prefeito, Íris Rezende, contestando o relatório da entidade, destacado pelos jornais locais com ênfase, não resolve o problema e possivelmente responde a pergunta, pois é preferível divulgar para todos que aqui é uma cidade em que todos vivem harmoniosamente, mesmo que os dados apontem para outras análises. Talvez fosse o caso de levantar a discussão para encontrar soluções.

A princípio pode-se dizer que os números apresentados pela organização internacional estejam errados e têm um viés político, mas nos últimos meses a prefeitura vem tomando medidas que de alguma forma deixa aparente a realidade da pobreza no município, como é o caso da campanha de retirada dos catadores de lixo do centro e a demolição de prédios abandonados do centro da capital, onde haviam os chamados “muquifos”. Talvez seja mesmo apenas uma medida de tornar invisível aos olhos exigentes de uma sociedade privilegiada sem resolver, de fato, os problemas sociais que existem.

Uma pergunta que deveria ser feita: derrubar edificações onde vivem meninos e meninas sem família resolve o problema dos muitos menores que vivem esquecidos pela coletividade? Evidentemente, que seria o mesmo que jogar a sujeira para debaixo do tapete, o qual vai ficar ali causando desconforto, apesar da estética de limpeza. Certamente este não seja um problema da prefeitura, do Estado, mas de partes da comunidade, grupos formadores de opinião, que reverberam esta realidade na própria mídia, que trata a diferença social como inexistente, com uma visão que distorce o olhar para evitar agendamentos que causariam questionamentos e buscas de mudanças sociais. Assim, a realidade percebida empiricamente seria uma e a mediada seria outra.

Os mutirões de casas próprias feitos pelo atual prefeito no passado possivelmente seja signo de uma realidade que se arrasta por anos a fio, passando por movimentos sociais que sofreram com a força pesada da mão coercitiva do Estado responsável pela ordem, o silêncio de grupos do poder político, como foi o caso mal resolvido do "parque oeste industrial", quando cerca de 12 mil pessoas foram retiradas à força de um terreno esquecido pelos donos e com dívidas com o erário público. Um momento de tensão para aqueles que desejam a invisibilidade da disfunção e descontrole da concentração de renda e educação básica pública desigual. Naquele caso em particular houve uma cobertura isenta dos meios de comunicação locais? Para trabalhos acadêmicos feitos por estudantes de diferentes faculdades não foi o que ocorreu.

Talvez, diante do exposto por um órgão internacional, seja chegada momento de discutir os problemas sociais, que evidentemente não é somente de Goiânia, mas que faz parte de uma cidade que emergiu convivendo com inúmeras invasões, diferentes tratamentos políticos para ricos e pobres e certamente continua escondendo a realidade que alijam muitos dos encantos de uma comunidade próspera e feliz.

Educação e política


No sistema capitalista, o professor também precisa de salários para sobreviver e se qualificar, base para a existência de uma sociedade, como a do discurso.



EDUCAÇÃO
- Lugar comum dizer que o Brasil não valoriza a educação e que uma sociedade mal educada se transforma em massa de manobra. Entretanto, torna-se razoável dizer que a sociedade brasileira se importa com a educação, afinal há transformações substanciais na evolução do conhecimento escolar entre as duas últimas gerações, com pais analfabetos e filhos bacharéis. O que de alguma forma nega a segunda afirmação, pois há comunidades, na contemporaneidade, que tentam participar da esfera pública por canais mais diversos graças, sobretudo, ao conhecimento adquirido nos bancos escolares. Mas há uma verdade: os professores nesta nação continuam recebendo tratamento aquém de sua importância. A começar pelo salário.

No editorial desta quinta-feira (18) o Jornal Folha de S. Paulo destaca que " Lei sancionada em 2008 fixou um piso salarial nacional para docentes, hoje no valor de R$ 1.024,67 (inferior até à renda média do Brasil, R$ 1.117,95). No entanto, seis Estados (GO, TO, RO, CE, PE e RS) ainda pagam salários aquém disso. Sobre as escolas municipais não há dados, mas se presume que a situação seja ainda mais grave".

Embora a política faça parte da educação, esta não conseguiu educar boa parte dos homens públicos que, quando eleitos pelas comunidades, se preocupassem com a formação da grande maioria da população brasileira. Neste sentido, é comum encontrar escolas que caem sobre os alunos, sem infra-estrutura que permita estudantes se sentirem cidadãos. Universidades em que alunos sentam no chão para assistir aula, porque o governo não atinou pela necessidade de adquirir carteiras, mas usa o número de alunos para fazer politicagem no passado e presente. Muitas vezes a educação se transforma em lugar para aumentar a quantidade de cabos eleitorais, com pessoas que sequer entendem a especificidade da área, mas ocupam cargos de direção.

Apesar disso tudo pelo menos o piso salarial aprovado pelos "homens públicos" deveriam valer para os professores. A rigor, dinheiro ao que parece não falta, diante de tantos escândalos que envolvem altas somas de dinheiro, que atravessa o país. Muitas deles, entretanto, ausentes do agendamento dos noticiários das empresas de comunicação.

Em resumo, é chegada a hora de atentar para a importância do docente para a formação de uma sociedade desenvolvida e efetivamente cidadã. No sistema capitalista, o professor também precisa de salários para sobreviver e se qualificar, base para a existência de uma sociedade, como a do discurso.

Cotas para ricos!

A universidade deve ser um lugar para todos, sem privilégios. Os homens da justiça deveriam saber disso.

EDUCAÇÃO - O debate em torno das cotas nas universidades federais que envolvem o Supremo Tribunal Federal, política e sociedade nem chega a ser polêmico, diante da hegemonia de grupo com força para movimentar a justiça e partidos políticos. Levantar debate sobre a injustiça social brasileira traz a idéia de que há um movimento importante vindo das classes menos favorecidas, o que causa resistência em todos os setores, advinda de instituições que durante séculos privilegiam alguns em detrimento de muitos. As cotas no ensino superior no Brasil são legítimas e permite justiça social, em um país que relegou a marginalidade aqueles que não têm educação e voz.

A matéria publicada pelo jornal O Popular desta quarta-feira (10) sobre o assunto é um exemplo desta análise, pois o aluno que conseguiu na justiça a sua matrícula, de acordo com o jornal, "não acredita ser correto corrigir uma injustiça social com outra, se referindo à falta de oportunidades aos estudantes carentes". Para o estudante "isso não se aplica só a mim, mas também aos outros 22 excluídos do curso de medicina". O que sobressai é sua condição de pobreza que sofre com injustiça por ver seu lugar tomado por outra pessoa, o que seria um preconceito. Entretanto, logo abaixo aparece a fala da mãe do garoto, uma bióloga, de acordo com o diário goiano, que defende a meritocracia, pois "a entrada na faculdade tem de ocorrer por mérito do aluno".

Notório que há investimentos altos de famílias para que o filho reúna condições e passe em uma universidade pública, entretanto, possivelmente muitas lares brasileiros não tem condições para tais gastos, que de alguma forma já define uma sociedade que privilegia grupos pelo poder aquisitivo que possui e não, como alega a bióloga, pela capacidade de pensar e o direito da busca de igualdade. Pensar em mérito seria muito complicado, ao analisar pessoas em condições diferentes lutando por um espaço no qual estão estabelecidos os requisitos para a seleção.

O Brasil tem sim uma conta com a população que foi historicamente marginalizada, que deve exigir sua condição de igualdade, sem preconceitos, mas com justiça e respeito à igualdade, de condições e humana. A universidade deve ser um lugar para todos, sem privilégios. Os homens da justiça deveriam saber disso.

Não é de estranhar, todavia, que partidos que defenderam e defendem determinados grupos continue lutando para a manutenção do status quo social. Contudo, fica nítida a reprovação por parte dos eleitores e sua decadência.

Desinformação!

Talvez até mesmo o vizinho, ainda, seja uma boa oportunidade para se buscar informação.

MÍDIA - A cobertura nas eleições deste ano aponta para uma guerra de nervos entre os diversos meios de comunicação que decidiram seguir a lógica, segundo a qual a imparcialidade não existe, e cada empresa jornalística deve ser transparente quanto as suas opções partidárias. Uma discussão e tanto, pois o leitor com dificuldade para fazer comparações em diversos meios deverá realizar escolhas na grande mídia e nas comunidades eletrônicas. Talvez até mesmo o vizinho, ainda, seja uma boa oportunidade para se buscar informação. Como exemplo do problema: em Goiânia a festa promovida pelo candidato ao governo do Estado Marconi Perillo (PSDB) tem números desencontrados entre o Jornal Diário da Manhã que deu destaque para 40 mil pessoas no evento, enquanto o Jornal Opção enumera 16 mil, menos da metade. Quem fez corretamente a contagem?

O Jornal o Popular preferiu recorrer às fontes: “O senador (Marconi Perillo) disse que não tinha conta do número de presentes. O secretário-geral do PSDB, Sérgio Cardoso, falou em 30 mil pessoas. Segundo militares, havia entre 10 e 15 mil. O salão, que ficou lotado, tem capacidade para 7 mil pessoas, segundo a assessoria do Atlanta Music Hall. Desta forma, o número pode ainda mais reduzido, menos de 10 mil?

Num país conservador como o Brasil, cuja estrutura precisa ser mantida tem os veículos de comunicação como mediador para manutenção de uma ordem estabelecida que privilegie grupos sociais, os quais, a rigor, perduram no poder político e econômico. Desta forma, deverá haver um discurso muito concentrado sobre a lei e a ordem, as quais precisam existir desde que não avilta as diferenças sociais e a proposta de democracia, a partir do interesse do público. Não resta dúvida da importância dos meios de comunicação para sociedade moderna, entretanto, deve-se considerar o respeito com a audiência, os seus valores e direito a informação, no mínimo, isenta de interesses, principalmente, econômicos.

A falta de informação que leve a reflexão, e no final traz desinformação, possivelmente seja o motivo pela perda da audiência das tradicionais mídias, pois a construção de um mundo descontextualizado da realidade pode, às vezes, ser percebido por uma sociedade que tem o cotidiano como referência. Além do mais o que não falta no universo das tecnologias é contato virtual que pode resvalar num real, o que talvez minimize a dependência das informações institucionais, e talvez sirva como mais um lugar para saber dos acontecimentos diários numa sociedade complexa.