No pensamento da maioria da população nacional, a academia seria o lugar para encontrar soluções para as grandes mazelas sociais, por possuir pensadores de alto nível. Não há dúvida sobre a premissa, mas que no seu conjunto não é verdadeira
SOCIEDADE – O Ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso completa hoje (18) aniversário de 80 anos, tornando-se um ícone da relação entre academia e política no Brasil. uma personalidade que gera muitas discussões envolvendo dois campos sensíveis para formação do pensamento e estrutura social. A rigor, trata-se de um dos importantes sociólogos brasileiros, com amplo espaço na mídia nacional, professor de uma das instituições mais prestigiadas da América Latina, a Universidade de São Paulo (USP), em que fazia parte de seu quadro de professores a sua esposa, a antropóloga Ruth Cardoso.
Filho de militar, Cardoso na realidade nunca foi uma personagem da esquerda do país – embora muitos tenham acreditado nesta versão -, pois em nenhum momento se posicionou favoravelmente aos grandes temas sociais, tão caros aos intelectuais que assumem esta posição, como resistência ao capitalismo global e marginalização de pessoas da periferia – sobretudo na América do Sul. Entretanto, manteve diálogo com pensadores de esquerda ao traduzir obras do alemão Karl Marx (autor que faz emergir o termo marxismo) para o português.
Inclusive durante a ditadura preferiu se exilar do Brasil no Chile, como tantos outros que estariam sendo caçados pelo regime. Para muitos de seus adversários sem razão, pois não havia nenhuma referência sobre seu nome entre os procurados – uma precaução, talvez.
Fernando Henrique Cardoso se transforma em um pensador emblemático e intelectualmente representante do Brasil sobre temas internacionais, como fonte confiável da imprensa brasileira e internacional, cujos órgãos evita o discurso antiglobalização. Seleciona os interlocutores no sentido de fazer valer um pensamento previamente estabelecido, mesmo considerando a capacidade teórica do ex-presidente para entender seu lugar de fala e posicionamento, que diz respeito a um país em desenvolvimento e importante, submetido às lógicas dos grandes centros globais.
Como muito foi debatido nos meios acadêmicos, não seria possível acreditar que a América Latina pudesse sair de sua crise puxando seus próprios cabelos, mas não havia possibilidade de se desenvolver na dependência eterna dos grandes centros econômicos – conforme debate dos anos 80 sobre a Teoria da dependência da América.
Não há dúvida que enquanto FHC esteve no palácio do planalto, o Brasil conviveu com uma terceira via política que, no final, apenas tentava maquiar o que seria um sistema de livre comércio, com grande peso da economia das grandes indústrias internacionais, mercado financeiro, sobre os ombros de uma nação apenas emergente. Não dá para negar que o PSDB, partido de Cardoso se aproxima de um sistema de mercado, tendo em vista a privatização de empresas estatais e eficiência burocrática de um sistema liberal, no qual vence quem tiver mais poder econômico, neste jogo inclusive estão os miseráveis da região – desigual.
No pensamento da maioria da população nacional, a academia seria o lugar para encontrar soluções para as grandes mazelas sociais, por possuir pensadores de alto nível. Não há dúvida sobre a premissa, mas que no seu conjunto não é verdadeira. Possível afirmar que boa parte da academia se aproxima dos dogmas de um sistema liberal de pensamento, embora não seja a maioria, mas é a parte que recebe mais visibilidade. Desta forma, não seria de estranhar a grande publicidade de um dos seus ícones, que aparecerá nos jornais durante este período de festa de bolo e velas, e não somente no Brasil.
Em resumo, globalização, América Latina, pobreza, capitalismo e exclusão sempre estarão na moda e nas pautas dos meios de comunicação, e seus seguidores receberão luzes de um cenário, do qual fazem parte como importantes atores e modelos sociais.
Parabéns aos aniversariantes do dia, inclusive Fernando Henrique Cardoso.
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