FIM DA HISTÓRIA E DO NEOLIBERALISMO?

A sociedade pode não estar simplesmente mais bem informada, entretanto, sente mais rapidamente o descontrole de um sistema que exige passividade diante da necessária atividade produtiva constante – num ritmo alucinante.

A vitória de Barack Obama gerou uma discussão na imprensa brasileira e internacional sobre a sua capacidade ou não de mudar a ordem mundial, estabelecida a partir das ênfases econômicas e beligerantes. A rigor o grande debate que se apresenta é se haverá alterações na estrutura social e financeira do mundo, globalizado. Para esta questão os enunciados nem precisam de verbo simplesmente, pois está explícito: o resultado das eleições do país mais rico do mundo leva a alguma mudança. Não exatamente porque determinados grupos hegemônicos tenham este tipo de desejo, mas simplesmente em função de atitudes políticas que não mais se sustentam numa realidade que atemoriza pessoas pelo mundo. A rigor, uma nação isolada, com discurso único, em período de globalização possivelmente põe fim a qualquer grande império. Desta forma, eis uma questão difícil de analisar e não deve ser percebida a partir apenas de visões pragmáticas, como se a realidade fosse uma conta exata. Os defensores da ordem capitalista ortodoxa precisam buscar novas estratégias de condução do espaço social, que se movimenta numa dinamicidade, decidida a partir da própria mediatização.

Para aqueles que olharem para trás vai perceber referências importantes das mudanças, afinal, na história as mudanças de paradigmas (modelos políticos e econômicos) sempre existiram, todavia, as rupturas passam a ser esquecidas exatamente como forma de fazer surgir a imagem de uma história dinâmica. Entretanto, perder de vista os momentos importantes das rupturas, torna-se ponto de alienação, ou melhor, perda de identidade, pois se esquecemos o passado nos tornamos sem origem. Com efeito, a esfera social vem sofrendo alterações em sua estrutura, a começar das duas grandes guerras que promoveram reorganização do sistema, com inserção de novas tecnologias com mais investimento na ciência, principalmente na área bélica, além do recrudescimento das políticas de determinados países que gerou a chamada guerra fria envolvendo duas poderosas nações – teoricamente, de um lado capitalismo e de outro socialismo. O Brasil vive de rupturas, ainda mais na política. Poderíamos dizer que há permanentemente uma luta entre grupos hegemônicos e classe desprivilegiada que com muita mágica passa despercebida do imaginário social. Estratégias para este fim não faltam.

O fim da história não se efetivou como muitos pensaram, ao contrário, a história continua sendo contada, que neste fluxo de comunicação contínuo aumentou sua dinâmica. A sociedade pode não estar simplesmente mais bem informada, entretanto, sente mais rapidamente o descontrole de um sistema que exige passividade diante da necessária atividade produtiva constante – num ritmo alucinante. As trocas informacionais são inevitáveis e inexoráveis no sentido de promover alavancas nas relações entre o desejo e o permitido, no seio da sociedade. A rigor, o efeito latente forma no homem globalizado o sentimento de pertencimento e participação – mesmo que seja apenas um simulacro - num mundo que muitas vezes não lhe diz respeito. Como não é possível construir uma estrutura única, as alterações promovidas lentamente levam a todos para rumos antes desconhecidos e não esperados. Eis a essência.

A eleição nos Estados Unidos ressalta essa dinâmica, de uma sociedade pertencente ao espaço global público mediatizado submetido às práticas locais com suas identidades. Logo, vale dizer, o que menos importa neste momento é saber se Barack Obama vai ou não ser eficiente, pois neste sentido, cabe uma análise pragmática complexa. Possivelmente vai repetir fórmulas anteriores e arriscar alterações na ordem estabelecida. O que importante, entretanto, é perceber a resposta da sociedade as negociações na esfera pública. Afinal, como poderia se imaginar um negro na Casa Branca, cosmopolita, de origem Africana? E mais, um intelectual, com carisma e capacidade de convencimento, o que vai contra determinados princípios norteadores de exclusões que apregoavam questões genéticas para definir os melhores, com a palavra os positivistas.

Se alguém pensou o fim da história equivocadamente, não cabe aos exaltados imaginar o fim do neoliberalismo, entretanto, cabe ressaltar a necessidade de repensá-lo, pois, na sua essência há fissuras, se não vistas rapidamente haverá sua implosão e novos paradigmas serão inevitáveis. O que de fato não será negativo, pois, os excessos contaminaram a única fórmula de pensamento existente. As estratégicas são disfuncionais, as engrenagens estão bambas, que em alta velocidade ganha estabilidade, mas não há nada que se equilibra sem “reparar” algumas peças vitais, uma delas é a razão humana.

UM ÍCONE NA CASA BRANCA

As mudanças não midiáticas são inexoráveis ao redor do globo e no centro. Se confirma a vitória de Obama, o mundo terá um ícone da alternância de idéias no comando, mesmo considerando que as mudanças sejam somente virtuais.

Analisar a sociedade como dinâmica certamente é uma tarefa árdua para quem deseja manter um modelo eternamente. Evidentemente que aqueles que estão no comando do poder, seja econômico ou político, não têm razão para apear do status quo e viver perigosamente em meio às dificuldades que assolam a grande maioria, alijada do jogo em que as regras lhe são desfavoráveis. Entretanto, o número faz a diferença, embora não seja, de fato, uma soma simples, com resultados previstos. Afinal, no social se forma o chamado efeito latente, idéias que ao longo dos anos vão se desenvolvendo, as quais provocam mudanças na estrutura, que não seria possível imaginar imediatamente, mas com o passar do tempo se tornam possíveis e necessárias. Neste propósito estão as eleições nos Estados Unidos, que provavelmente levarão ao poder um homem de origem simples, cujos requisitos faz emergir preconceitos que remontam a períodos tenebrosos da história ocidental.

Como não é possível conceber a idéia de que o governo de um império econômico, como os Estados Unidos, seja dirigido por apenas um homem, faz ressaltar a razão que há estratégias das lideranças econômicas e políticas na elevação ao poder de um homem que representa, de alguma forma, os menos afortunados, para não dizer muitos marginalizados. As mudanças de representação certamente vêm embasadas de sinais que se apresentam para os grupos líderes da nação americana e, desta forma, prevêem os anseios sociais, os quais demonstram necessidade de trocas de comando no poder. Neste sentido, muitos que deixaram transparecer conservadorismo quanto às mudanças, apostam na necessidade de trocas - é o que evidenciam os números das pesquisas eleitorais que apontam vitória de Barack Obama, democrata, e derrota de John MacCain, republicano e conservador, um homem conhecedor da guerra.

Afirmar que o democrata é progressista seria um erro, pois num império o conservadorismo é indispensável para manter a ordem. A rigor, o sistema precisa se estruturar não apenas internamente, como externamente; daí as medidas sempre adotadas na economia e no poder coercitivo (bélico) no sentido de ampliar o terror aos fora da lei imperial e a publicização dos prêmios para os conservadores dos bons costumes do país ordenador. Neste sentido, seria lúcido avaliar que os governos se tornam marionetes diante da força das leis tácitas que se apresentam na organização de um sistema global, com economia mundializada. Os meios de comunicação de massa se apresentam, nesta lógica, como o elo mediador para punições e premiações. Nada pode ficar às escondidas, tanto o sofrimento quanto a alegria em função dos resultados econômico e político. Obama tem o apoio de tradicionais empresas de comunicação e de grandes multinacionais americanas, o que fortalece a tese da manutenção da ordem econômica, pelo menos.

Entretanto, cabe ressaltar que o candidato democrata, diferentemente do republicano, tem mais a cara do popular. O que indica alterações na forma do núcleo ordenador de perceber a importância de valorizar o pensamento de uma maioria, que nem sempre foi ouvida, com exceção em alguns espasmos, devido à falta de controle, o que não parece ser a questão no momento, diante das mudanças de poder ocorridas em diversas nações globalizadas, principalmente nos países periféricos. Exemplos não faltam, a começar pela América Latina que não segue integralmente os desejos estruturantes dos países centrais. Assim como, o enfrentamento do oriente médio contra as determinações centrais e o crescimento econômico e participação das decisões mundiais de China e Índia, vistos como socialistas, ou comunistas radicais, dependendo do enfoque dado no momento.

As mudanças não midiáticas são inexoráveis ao redor do globo e no centro. Se confirmada a vitória de Obama, o mundo terá um ícone da alternância de idéias no comando, mesmo considerando que as mudanças sejam somente virtuais. Mas como todo signo tem a potencialidade de símbolo, isto nos arremete a alterações no modelo vigente. Caso isto não ocorra devemos esperar mais crises latentes, com resultados mais próximos.

QUEM VAI PAGAR A CONTA?

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil.

Com a crise cravada no coração da principal potência econômica mundial, nos países ricos seguem um debate, simulado, na mídia sobre as formas de “salvar” o mundo da grande depressão econômica. Embora, o governo de George W. Bush tenha se decidido – embora isto já estava em curso nos bastidores políticos, com apenas aparência de discussão social – pela ajuda de bilhões aos bancos e agências financeiras atolados no pântano da economia global. Terreno movediço que se formou depois de várias décadas de resultados astronômicos e enriquecimento de um número reduzido de investidores nas bolsas de valores. Neste momento, entretanto, cabe uma pergunta: com o fim da festa – com um prejuízo incalculável – com a gastança exagerada na manutenção de status e riqueza, quem vai pagar a conta? Pelo que se percebe será a sociedade, de preferência global-periférica. A velha máxima de lucros particulares e prejuízos socializados. A festança é privada, a conta é pública.

Nos Estados Unidos e Europa a socialização dos prejuízos está definida, o que gerou descontentamento no país norte-americano, acontecimentos públicos que não receberam destaque da mídia, embora ocorressem manifestações populares nas ruas da nação vista pela mídia como um lugar de paz, ordem e desenvolvimento permanente – um porto seguro devido ao liberalismo econômico. Na verdade, o resultado será o aumento do número de pobres que serão responsáveis pela conta salgada que deve chegar a trilhões de dólares.

No país mais rico do mundo, agora em crise, resta esperar a tomada pelo poder de um governo capaz de resolver a aparente depressão econômica. Duas alternativas: um conservador, com pensamento parecido com o do atual governo, John McCain ou Barack Obama, um intelectual que se mostra liberal, embora de origem humilde, filho de pai africano. O fato é que qualquer um deles terá que prestar conta aos grandes donos do capitalismo mundial, certamente numa infindável discussão que resultará numa solução simples: a manutenção do modelo econômico vigente. Cabe a sociedade aceitar ou não, desta forma, responsável pelas mudanças indispensáveis para um modelo que se apresenta esgotado.

No Brasil, torna-se assustador o discurso recorrente dos meios de comunicação de massa, puxado pela revista Veja e Folha de S. Paulo, veículos de grande audiência, sobre a necessidade do governo de custear a derrocada de empresários “empreendedores” que investiram pesadamente no mercado financeiro, e, agora, tem uma conta a ser quitada.

Uma questão: se houvesse lucratividade no negócio sacramento pelo alto retorno e riscos, com o sucesso esperado, certamente os investidores ficariam mais ricos e os demais brasileiros, na sua grande maioria, continuaria sua luta pertinaz pela sobrevivência nem sempre fácil. Pessoas responsáveis pela luta diária para manter-se viva em um país cuja estrutura de tão capenga que os nativos já se acostumaram com as enormes filas nos hospitais públicos, humilhação cotidiana a ser destaque nos grandes centros financeiros como pela falta de educação de qualidade, infraestrutura básica. A rigor, convivem com a falta de recursos para se adquirir o básico necessário. Mas diante da crave crise que assola tais empresários visionários, o resultado apresentado pela mídia é o endividamento do Estado, ou seja, dinheiro público para financiamento da crise edificada nos espaços particulares.

A cada dia os enunciadores midiáticos aprofundam o problema, com alarde de uma crise que deverá chegar aos subdesenvolvidos, que, de fato, não está imune a quebradeira, embora em melhores condições que há décadas. No caso do Brasil numa situação menos dramática daquela sob gestão do Fundo Monetário Internacional (FMI) – instituição criticada devida a incapacidade de prever a crise, possivelmente partícipe do jogo que culminou com a depressão.

Talvez os meios de comunicação, produzido por jornalistas que conhecem a realidade melhor que muitos dos cidadãos do país, e suas respectivas fontes, devessem esclarecer melhor a real situação da derrocada financeira global, sem os simulacros que além de desnecessários, pode aprofundar a situação de penúria que vive milhares de pessoas ao redor do mundo, inclusive no Brasil, em benefício daqueles que sempre tiveram a proteção do Estado, com gastança do dinheiro público.

O PENSAMENTO ÚNICO RUIU

Embora tenhamos muitas questões a serem analisadas neste momento de quebradeira dos bancos, ícones da globalização, devemos analisar como as informações continuam na direção de ratificar o pensamento único, advindo de uma realidade que nunca existiu.

O sistema global começa a implodir, finalmente, depois de várias décadas de expansão exagerada do setor financeiro e a disseminação da desigualdade social. Na verdade este é o resultado de um mundo que se tornou excessivamente homogêneo, numa visão singularmente econômica, com grandes dificuldades de estar nele para uma população que se tornou refém das redes financeiras, sustentada pelo discurso dos meios de comunicação de massa, sempre em expansão, como suporte de informação e publicização de imagem de força, ordem, igualdade e crescimento. Infelizmente, a realidade que se mostrou e que se mostra não é esta como se vê, mais nitidamente agora, com a crise dos mercados globais, o motor deste sistema de fluxo financeiro contínuo e imediato está com a engrenagem avariada.

Embora tenhamos muitas questões a serem analisadas neste momento de quebradeira dos bancos, ícones da globalização, devemos analisar como as informações continuam na direção de ratificar o pensamento único, advindo de uma realidade que nunca existiu, sempre construída a partir de interesses tão-somente particulares de grandes grupos centrados no financeiro e político. Neste sentido, até mesmo os representantes simbólicos desta estrutura, que por ora está em xeque, são colocados como bode expiatório. Como exemplo o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, aparece para a mídia brasileira como uma figura do fracasso, incapaz de dar suporte para a resolução do problema, como se fosse o responsável pela crise que abate o setor bancário e países centrais. Se um dia representou a figura capaz de liderar uma ordem global, livrando o mundo do caos, cujo epicentro viria das regiões periféricas, agora o chefe estadunidense aparece como incapaz, uma autoridade sem carisma e competência. O líder liberal impopular jogado a própria sorte, de um destino inevitável.

O surgimento dos chamados bode expiatório se faz uma estratégia muito simplista, para não dizer maldosa, que visa apresentar para a sociedade pessoas culpadas pelos erros que assola comunidades inteiras espalhadas pela aldeia global. A rigor, estratégia se mostrou eficiente no Brasil por muitos momentos, como no caso Collor de Melo, governos militares, crises no parlamento brasileiro, com emblemático caso Renan Calheiros. No final, apenas uma atitude de agradar pessoas atingidas pela crise, como forma de compensação por algo que sensibiliza negativamente a opinião pública. O problema continua do mesmo tamanho, ou talvez mais complexo, entretanto, com o alento público. Indubitavelmente, Bush não é o único culpado pela crise, afinal, não existe país de apenas uma pessoa que o dirige. Por trás de qualquer governo há grupos que representam interesses os mais diversos. No mundo globalizado liberal, na base de um governo está o setor financeiro, primordialmente – consensualmente, o que representa o desenvolvimento e as grandes transformações sociais. No Brasil não é diferente.

As grandes questões que se surgem neste instante: a rigor, estamos ou não numa grave crise? Haverá mudanças na estrutura do sistema liberal que, ao longo das últimas décadas, quis um estado submetido aos interesses econômicos, simplesmente? Continuará a pressão política pela redução do Estado do bem-estar social? Questões difíceis de responder, entretanto, na mídia é possível perceber a busca de relatos de personalidades do setor financeiro para reforçar que se trata apenas de uma crise passageira, que no final estaremos todos muito bem, e, certamente, melhores, numa sociedade dirigida por pessoas da mais alta competência, até porque as crises no capitalismo são inevitáveis. O que não se mostra tão simples é imaginar que muitos ficarão na miséria enquanto aqueles os quais sempre foram privilegiados continuarão bem financeiramente e em condições para liderar a passagem para um sistema que se mantém como antes, ou seja, centralizador, sistematizador. Como discurso tal afirmação pode não se materializar.

Os discursos, ou melhor, as notícias estampadas nos meios de comunicação de massa, salvo exceção, dão conta da crise, mais apresenta o terror de uma sociedade diferente daquela idealizada como a ideal, ou seja, de mercados liberais. Deste modo, a mídia se torna, como sempre se apresentou, como importante veículo para difundir os mesmos ideais, apesar da aparência de mudanças. Ademais, mantém-se como o importante meio para evitar tensões e estabelecer manutenção da ordem, apesar do derretimento de um sistema que se passa por eficiente, mas determinante. Depois da turbulência, o pensamento econômico não continuará único, pois, a comunicação fora das redes tem seu fluxo.

MÍDIA, DISCURSO E LIBERALISMO


A revista Veja, encarnando o discurso do liberalismo, teve mais trabalho diante dos caos e da realidade incontestável. Destampou em sua capa uma imagem emblemática.


Nas últimas semanas o mundo econômico tremeu com a avalanche das empresas do mercado financeiras, a começar pelos bancos dos centros econômicos mundiais. O que já era esperado por analista, de fato, ocorreu deixando as bolsas de valores em polvorosa, e não somente isto, os tradicionais meios de comunicação de massa se viram numa situação delicada: como sustentar, apesar das evidências, discurso de um Estado mínimo e instrumento de um mercado livre regulador da sociedade? A tarefa realmente não se mostrou fácil. No final, as capas das revistas e as manchetes dos jornais não deixavam dúvidas, quantas dificuldades teriam para construir um discurso que reduzisse o pessimismo de uma sociedade que poderia despertar – ou já estava desperta - para o problema.

Todo sistema que se preze precisa de reajuste permanentemente, afinal a sociedade é dinâmica, e as mudanças são inevitáveis. Considerando uma condição extrema, a revolução de uma estrutura se faz necessária, afinal, a alternância de um modelo depende de sua eficiência, enquanto resultados na vida prática e sua capacidade de gerar informações que o sustente. Nestas últimas semanas as duas coisas não ocorreram: o símbolo máximo do liberalismo econômico ruiu, e as informações não conseguiam convencer as pessoas, que percebiam, nas imagens globais, o fracasso do governo dos Estados Unidos de conter a quebradeira e a queda acentuada das bolsas de valores.

O mais irônico disso tudo é que os países subdesenvolvidos – na verdade os países periféricos, a margem dos países centrais - não sofreram grandes perdas de capitais e conseguiam se sustentar, sem muitos desgastes. Ou seja, a avalanche não atingia os pobres, que depois de muito sofrer com os espirros do centro resolveram imunizar-se das doenças de um sistema centralizador e dominante. Em outras palavras, lentamente a periferia resolver buscar seus medicamentos e se revigorou contra os vírus que inexoravelmente deveria espalhar a curto ou longo prazo.

Nesta batida, os meios de comunicação de massa globalizados precisavam estampar em suas capas e no seu interior, símbolos (imagem) e texto (discurso) que dessem exemplos de força e capacidade de tomar medidas razoáveis para salvar o sistema.
A rigor, a crise não passou e a pergunta que não se cala é: o liberalismo econômico se mantém ou finalmente sucumbe aos eventos de uma economia sem controle que envolve os interesses de grandes empresas e cifras de trilhões, numa chamada bolha especulativa. Na linguagem econômica créditos apresentados como bons que na verdade não tem liquidez. Em outras palavras são cifras milionárias em créditos não têm valor, o que resulta em pura mágica do mercado financeiro – no final todos os americanos pagarão a conta. Como ninguém quer ficar com prejuízos todos correm se salvar – o que não ocorre com os contribuintes. Um salve-se quer puder de um grupo que sempre foi privilegiado pelo Estado liberal.

A revista Veja, encarnando o discurso do liberalismo teve mais trabalho diante dos caos e da realidade incontestável. Destampou em sua capa uma imagem emblemática. Tio Sam aparece com o dedo apontado para o leitor – neste contexto para milhares de brasileiros – dizendo “Eu Salvei Você!”, como subtítulo: “O governo americano evita o colapso financeiro mundial e nunca mais Wall Street será a mesma”. Talvez devesse dizer: o liberalismo, depois do último colapso deverá sofrer mudanças. De fato, o Estado deverá tomar o seu lugar, ou seja, o regulador da economia sem regras, e, evidentemente, se preocupar com o bem-estar-social, pois a doença que atinge bancos é diferente daquela que deixa enferma milhares de pessoas que vivem na miséria – não somente de alimentos, mas de informação, conhecimento e educação. Contudo, fica uma lição, o mercado muito concentrador certamente não tem condições de se responsabilizar pela vida em sociedade.

Ressalta aos olhos a dificuldades de alguns meios de comunicação de massa ao perceber a realidade não fazem jus a sua função, que é a de informar com isenção. Maquiar informações talvez não seja uma boa saída para uma sociedade que se informa por outros meios. A notícia tem mais rapidez que nos tempos de Gutemberg – o inventor da prensa no século XV -, com os adventos tecnológicos. Apesar do monopólio para o comércio global, a comunicação em rede também abre caminho para fluxo de trocas de informação.

Contudo, vale uma ressalva, a questão da enfermidade ainda não está resolvida, ainda será necessário muito medicamento para tratar a doença. Embora lentamente pode chegar a outros lugares. Afinal, estamos numa aldeia global.

JORNALISMO E JUSTIÇA

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral.

A sociedade a cada dia vive a reboque do poder judiciário, que define as regras no espaço público, muitas vezes sem considerar o espaço vivido social. Não se pode esquecer que a ordem do sistema deve estar numa relação direta com os interesses da maioria, conforme equilíbrio que permita a liberdade de escolhas dos indivíduos. As eleições que passaram pelo crivo dos coronéis e os votos de cabresto, podem estar sendo definidas a partir de um centro que talvez desconheça as características peculiares das relações humanas. A decisão para o voto deve ser do eleitor bem informado, caso contrário, se estabelece a eleição de quem tem mais visibilidade, obtida fora do período eleitoral, por conta da capacidade financeira ou relações políticas. Neste sentido, nos pequenos municípios brasileiros o excesso de restrição da justiça intimida os meios de comunicação a exercer sua prática: a informação. O resultado é um leitor mal informado e a dificuldade de surgirem novas lideranças políticas. Um mundo que gira sem sair do lugar.

A chamada grande mídia tem capacidade financeira para arcar com as prováveis e pesadas multas, o que define e elege a ordem econômica como base da liberdade de expressão. Portanto, Meios de Comunicação que mantém sua capacidade de agendamento dos fatos e o estabelecimento da percepção dos espaços sociais, antes e durante o pleito eleitoral. Afinal, o que não é divulgado não é público. Desta maneira, quem se apresenta como candidato a um pleito deve se mostrar à sociedade, com liberdade, desde que não infrinja contra o bem público. Logo, deverá estar aberto ao crivo da crítica e ser questionado pelos mediadores sociais – ao contrário de cooptar líderes de opinião -, maneira pela qual será conhecido por suas propostas e enquanto autoridade capaz de exercer um cargo representativo. Infelizmente o Brasil continua sendo pensado e organizado a partir de determinados grupos de líderes institucionais, o que torna o homem social, em um sistema fechado, apenas participante de uma massa, avaliado como um ser, por natureza, incompetente para definir as suas próprias escolhas.

Sem dúvida, em muitos momentos as mídias locais preferem se ausentar da responsabilidade pela informação, com cuidado excessivo, temendo as pesadas multas. Entretanto, torna-se importante a sua participação no espaço que lhe é conferido pelo público, qual seja, a de informar os fatos ocorridos na sociedade, inclusive, no caso de período eleitoral, que diz respeito à vida pregressa, relacionamentos partidários e projetos apresentados pelos candidatos. Evidentemente, tendo como base a ética e isonomia entre os pleiteadores de cargos públicos.

Todavia, o entendimento de uma visão funcionalista continua na ordem do dia. Ou seja, a melhoria da sociedade passa pelas lideranças pensantes e capazes, as quais devem ser seguidas pelo homem ainda alienado, incapaz de decidir por suas escolhas. Sendo assim pessoas iluminadas devem zelar pelo excesso de estímulos que pode contaminar o seu parco conhecimento do homem-massa, caso contrário, o resultado será uma sociedade pouco funcional e ludibriada por espertalhões que usam da inocência alheia para atingir os seus interesses particulares. Não se pode esquecer que o excesso de ordem pode levar a desordem ou mesmo à disfunção. Cabe destacar que mudanças de paradigmas, ao longo do tempo, existem, o que, de fato, é importante no equilíbrio social, causando rupturas nos modelos autoritários. Exemplos não faltam.

Finalmente, a rigor, não existe outra forma de sociedade democrática sem a participação popular – neste ínterim estão os mediadores sociais no que se refere à comunicação - que resulta em decisões e escolhas com liberdade, considerando, sobretudo, que a sociedade está sempre em transformação, pois a comunicação é permanente.

PÓS-MODERNIDADE SEM JORNALISTAS

A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas.

A discussão sobre o fim do diploma para jornalistas novamente vem à tona em debate público que se arrasta por décadas, sem muita visibilidade, embora diga respeito a uma categoria e a toda sociedade. A comunicação midiática, afinal, perpassa toda sociedade que depende dela para seu equilíbrio e funcionamento. A grande questão é exatamente entender a importância e o que representa a sua desestabilização, considerando que há interesses os mais diversos no fim da obrigatoriedade do diploma para profissionais que se dedicam as notícias da cotidianidade, estrutura basilar para manutenção da ordem em um sistema de instabilidades. A grande questão é saber se por trás do tema agendado está realmente o desejo pela liberdade de expressão, impedida pela exigência do diploma, como advogam alguns juristas e empresários; interesses econômicos das empresas de comunicação pelo aumento do número de pessoas disponível para o trabalho; ou realmente a preocupação está na manutenção da estrutura do sistema social capitalista, que freqüentemente passa por crises.

Mesmo considerando que o diploma não seja uma exigência de todas as nações mundiais ditas democráticas, não se pode confundir a realidade brasileira com as demais, sob pena de errar nas análises, pois, há peculiaridades aqui que não se acham acolá. A história brasileira deve ser observada inclusive pela sua colonização que macula muitos espaços importantes da sociedade moderna, a começar pela corrupção política, as leis que se originaram pelos interesses coloniais, dentro da ordem política e econômica. O jornalismo tem suas raízes, no Brasil, neste imbricado meio, não de maneira passiva como se imagina, mas muito ao contrário. Transformou-se ao longo do governo monárquico como ponta de lança das mudanças sociais que culminaram com o fim do absolutismo e começo do governo republicano. Importante destacar que nesta época nem se pensava em diploma, nem os incipientes jornais lembram a imprensa que conhecemos. Evidentemente que são tempos de uma sociedade em que se discutia a situação de milhares de pessoas sem escolas boas ou ruins. Os chamados jornais pasquins – tratados de maneira pejorativa e pouco conhecidos pela historiografia - serviram ao propósito: apoiar necessárias mudanças da ordem estabelecida em meio às grandes diferenças sociais que, vergonhosamente, persistem no País.

Nesta mesma análise o jornalismo passa a ter importância efetiva, a começar nos Estados Unidos, exatamente com as crises sociais causadas pelas guerras mundiais atingindo a instabilidade das lideranças nacionais. A comunicação passa a ser a preocupação das autoridades econômicas e políticas no sentido de buscar o equilíbrio e estabilidade social, daí as primeiras pesquisas, na década de 30, sobre os meios de comunicação e sua atuação na formação do consciente coletivo, a então, denominada, de maneira equivocada, sociedade de massa. A comunicação midiatizada longe de ser uma preocupação de muitos, se faz sumariamente o meio para a ordem ou instabilidade, equilíbrio ou desequilíbrio de uma estrutura. A rigor, o agendamento social passa pelas informações pautadas, apuradas, produzidas e veiculadas por jornalistas. Os quais são responsáveis pela angulação das notícias publicadas, que no mundo do jornalismo os pensadores chamam de Gatekeeper. Isto é, o jornalista tem papel sumário na definição do que será publicado pelo meio de comunicação – uma espécie de filtro -, embora a linha editorial do veículo seja definida pela direção da empresa conforme suas relações comerciais e ideológicas.

Sem entrar nos termos técnicos, o fato é que o diploma no Brasil, seja ele para que área for, deve ser pensado pela sua capacidade de expressar o seu papel, qual seja, permitir que pessoas qualificadas exerçam sua função que resulta em reflexos para toda a sociedade. Neste ínterim está o campo jurídico, com pessoas preocupadas com a ordem, a justiça. Para tanto, o profissional deve passar pelo crivo de uma rigorosa seleção, para obter a tradicional Carteira da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). São operadores do direito selecionados por uma organização que representa uma classe, como conseqüência os interesses sociais. Neste sentido, os brasileiros além de exigirem jornalistas diplomados deveriam pensar na qualidade da formação destes profissionais. Pois, a democracia - ainda mais neste mundo globalizado - passa pela comunicação midiática, que deverá se relacionar com ética, honestidade, com o claro propósito de permitir ao homem sistêmico conhecer os seus diferentes espaços. Impossível na atualidade o indivíduo sobreviver sem as informações advindas dos meios de comunicação. Os tradicionais líderes de opinião responsáveis pela defesa de grupos sociais, hoje, dependem do agendamento midiático para definirem caminhos, principalmente nas comunidades ainda distantes dos modernos aparatos comuncacionais.

As empresas de comunicação, apesar dos investimentos tecnológicos, não reúnem condições efetivas de formar profissionais competentes, numa visão ética, com capacidade reflexiva e percepção apurada de um mundo complexo em que sobressaem os enfrentamentos simbólicos. A academia ainda é o lugar para formar pessoas com vigor reflexivo e com conhecimento transformador, que emergem das teorias e práticas, que, de fato, são indissociáveis. O resultado na prática eficiente do jornalismo, cabe ainda lembrar, depende da formação de pensamento crítico, inovador e responsável. Indubitavelmente, para tanto, têm papel importante as universidades e faculdades com professores competentes, em que a pesquisa seja um dos pilares destas instituições, responsáveis, sobremaneira, pela existência de profissionais competentes e vitais para a sociedade, inclusive para as empresas de comunicação de massa. Caso contrário, que se acabe com todos os diplomas, inclusive de advogados, médicos e engenheiros.

A VOLTA DO ESTADO

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes.

Como ocorreu nos anos 90, o Estado voltou a ser discutido na imprensa, na academia e pelos economistas, entretanto, sem a ênfase dada naquela época. Em voga estava o fim ou não do Estado. Várias correntes eram contrárias a abertura das fronteiras entre as nações para o livre domínio de mercado, que passaria a regulador da sociedade. Na outra linha, os chamados neoliberais, defendiam o funcionamento da economia com pleno vapor sem fronteiras que permitisse um mundo desenvolvido, com uma sociedade à mercê das regras estabelecidas pelos bancos centrais mundiais.

Para dar início a essa aventura foi realizada, no início daquela década, uma reunião em Washington nos Estados Unidos – o chamado consenso de Washington - para se decidir as novas metas para a economia globalizada. Um verdadeiro embate de idéias envolvendo a opinião pública, intelectuais e autoridades políticas. Chegou-se a ventilar, com grande repercussão, o fim do Estado.

Com a quebradeira na economia estadunidense, com reflexo na Europa, passadas quase duas décadas, finalmente chegou-se ao consenso de que cada nação deveria regular suas fronteiras e principalmente ser responsável por suas economias que têm características peculiares. A globalização não poderia formar uma sociedade homogênea, simplesmente, afinal, a regras estabelecidas não diziam respeito aos interesses de países pobres, na periferia do sistema global. Um mundo sem fronteiras, com crescimento atrelado entre nações, numa clara referência ao sistema integrado, não condizia inteiramente com a realidade cultural e social, como se pode perceber atualmente, com a crise econômica envolvendo os mercados centrais. Pois, sem dúvida, o princípio da globalização se baseia na centralização de poder – seja econômico, político ou militar -, numa clara estratégia de avanço dos Estados centrais com bloco formado pelos Estados Unidos, alguns países da Europa e Japão. Nos dias atuais, ao contrário de uma economia sem Estado, aparecem na lista de globalizados a China e a Índia.

O que ressalta nos tempos atuais é a falta de percepção do importante papel do Estado como ordenador, voltado para o bem-estar social, que foi contestado pela grande mídia e por inúmeros intelectuais brasileiros no passado e ainda hoje. Se, de fato, as nações, principalmente os países periféricos, tivessem seguindo as propostas liberalizantes apregoadas, certamente conviveríamos com mais concentração econômica para uma inconseqüente desterritorialização social e cultural imensurável, com graves reflexos no mundo. O que se percebeu de algum modo foi a materialidade de outro caminho, sobremaneira na América Latina, com governos eleitos que deveriam se posicionar em favor de um Estado regulador, com construção de fronteiras para a defesa dos interesses locais. Logo, torna-se forçoso afirmar que um sistema não funciona sem a participação efetiva dos diferentes ambientes sociais, apesar da força do discurso externo, universalizante.

A globalização, no contexto, o da economia global com resultados de crescimento equânime, não passou mesmo, em grande parte, de discurso, pois, as barreiras limítrofes abertas para o mercado estiveram fechadas para a sociedade que continua sofrendo com a discriminação pelos países centrais, que resguardam seus interesses comerciais e expõem preconceitos contra nações inteiras, tratadas pelo eufemismo de emergentes. Casos de xenofobia aparecem com freqüências nas páginas dos jornais, com aparente crise entre centro e periferia. No que se refere à tecnologia continuamos a importar, principalmente, da comunicação, sem reunir (estrategicamente) as condições devidas de produção localmente. Os meios de comunicação de um modo geral refletem informações obtidas pelas grandes agências noticiosas com direcionamente a repercussões que agendam os assuntos tratados pela opinião pública a cada dia.


Paradoxalmente, entretanto, as novas tecnologias oferecem condições para um mundo mais informado e com desenvolvimento econômico que atenda a exigência do homem moderno, que no seu cotidiano, convive com mais qualidade de vida, principalmente devido aos avanços da ciência no campo da medicina; maior difusão de conhecimento e aumento da produção de alimentos, apesar de insuficientes, em conseqüência do aumento do número de pessoas que passam a se alimentar, na periferia, embora ainda milhares permanecem excluídos.


Finalmente, o capitalismo – essencialmente globalizante - não vive os melhores de seus dias, passa por enfermidade que vai levar tempo para se curar, o que trará reflexos para todos. A dúvida é o que virá depois. Os Estados, fundamentalmente, ganham destaque nessa ordem sistêmica global, apesar da construção de senso comum sobre um mundo sem fronteiras.

COMO EXPLICAR A VIOLÊNCIA

Sobra estranhamento a quantidade de discussão em torno da violência definindo-a como simplesmente uma questão de educação, religiosidade, moralismo, enquanto que os índices sígnicos não deixam dúvidas quanto a sua origem.

Comum imaginar que a violência seja o resultado da barbárie humana, ou seja, a falta de civilidade do homem que atravessa os tempos sem atingir o grau intelectual desejado. Entretanto, as revoltas humanas modernas podem estar relacionadas com as lutas travadas na construção do espaço social. Seria estranho imaginar que em uma grande cidade não aparecessem os problemas peculiares como o trânsito caótico, a falta de estrutura para uma população cada vez mais volumosa, a falta de educação para todos com qualidade, os crimes cada mais freqüentes, etc. À medida que se têm avanços surgem, por sua vez, os reflexos das mudanças no meio ambiente em que as pessoas vivem. Notoriamente, o sistema não é justo como se faz mostrar, ao contrário, há neste contexto diferentes espaços de enfrentamentos que se estabelecem pela necessidade de se definir o lugar de ordenação. Dito de outra forma, os enfrentamentos são o reflexo da ordenação deste sistema. A violência pode estar nesta frágil relação de poder.

A cultura, na verdade, apresenta-se complexa em virtude de se formar a base para contestações e percepção da realidade, longe de querer evidenciar aqui que o letrado tem mais conhecimento que o não escolarizado. Afinal, a formação da sociedade passa pelo conhecimento das relações dos espaços sociais. Desta maneira, é possível perceber na política as contradições que se explicam dentro deste campo de enfrentamentos. O atual presidente brasileiro foi eleito pela classe menos abastada deste país que contava – e, certamente, ainda conta – com um governo que atendesse os seus interesses, de pessoas distantes do centro de poder - seja político, social e econômico. Entretanto, o governo de esquerda tendeu ao centro em decorrência de estrutura formada, que tem suas prioridades estabelecidas conforme organização prevista.

As pérolas dos políticos neste ínterim são inevitáveis, como foi o caso de Fernando Henrique Cardoso ao afirmar para a imprensa a emblemática frase “esqueçam o que eu escrevi”, quando os jornalistas apontavam incoerência entre suas atitudes políticas e os textos acadêmicos publicados em livro. Ou mesmo de Luís Inácio Lula da Silva que era vociferante contra a dívida externa brasileira no período em que militava no sindicalismo. Entretanto, na sua gestão , o país cumpriu rigorosamente o compromisso de pagamento ao Fundo Monetário Internacional.

Recentemente, os embates na Argentina deixam claras as diferenças sociais entre agricultores e a família Kirchner. Exatamente, o vice, quem deveria zelar pelos interesses de cúpula partidária, definiu a derrota dos companheiros em nome de grandes exportadores de produtores agrícolas, que venceu – dentro das regras estabelecidas - a batalha contra o poder político, tido como de esquerda.

Mas onde entra a violência nesta discussão? Grande parte da sociedade, embora desmobilizada no que se refere a solidificação de regras para condução da sociedade entra no campo de luta, demonstrando as diferenças e a não aceitação. Isto resulta em dizer que a pobreza não leva à violência, de fato, entretanto, resulta da concentração exagerada, que no final torna a sobrevivência em sociedade impossível, dentro do estabelecido, apenas racionalmente. Como exemplo, os mais notórios casos midiáticos de corrupção que assalta o país a cada dia em bilhões, sendo que, paradoxalmente, os agentes condenados recebem premiação posterior em circunstancia de uma aposentadoria vitalícia de plena fartura. Ao contrário da maioria, que se vê diante de regras cada vez mais rígidas que devem ser cumpridas conforme o rigor da lei.

Sobra estranhamento a quantidade de discussão em torno da violência definindo-a como simplesmente uma questão de educação, religiosidade, moralismo, enquanto que os índices sígnicos não deixam dúvidas quanto a sua origem. A concentração de riqueza regional, nacional e global torna a sociedade moderna sem saída. Talvez a solução esteja exatamente na comunicação, embora se fale muito, mas falta o mais importante: diálogo. O qual somente se efetivará caso o controle esteja na relação recíproca da fala, na alteridade.