Se realmente as análises são pertinentes, corroborando com o
pensamento da editora-chefe, com as novas mídias de informações e
ampliação da comunicação na sociedade, o jornalismo oficial vai perdendo
terreno e sendo questionado pela opinião pública
Imprensa regional - A análise da Jornalista e editora do jornal O Popular de Goiânia é
muita lúcida, de questionar o uso excessivo de fontes oficiais na
imprensa brasileira, regional e local. Uma discussão difícil para se
chegar a um consenso, mas é possível observar que algumas empresas,
apesar de não admitir atitude de conivência com governos, o fazem com
frequência.
O maior jornal de Goiás realmente dá mostras de seu interesse em
tratar a operação Monte Carlo, mas há sempre a dúvida qual a linha
editorial do jornalismo, quando a opinião pública não está
sensibilizada, como é o caso do momento, em que o Brasil está informado
sobre as relações ilícitas de partes da política Goiânia e Brasília. As
informações tem fluxo de externo para o externo e vice-versa.
Acreditar em imprensa revolucionária não seria de fato prudente, nos
dias que seguem. A rigor, as transformações sociais se relacionam
exatamente com a comunicação e não com movimentos violentos, fomentados
por jornais radicais – sempre raros. O debate e mudanças passam pela
participação social e mobilização da opinião pública, pela informação e
tomada de decisões.
Neste terreno jornais como o Popular ganham importância e pode, em
determinados momentos, não responder à tentativa de alternância no
poder. Aqui há uma discussão difícil sobre a questão “negócio” da
empresa de comunicação, que afeta as redações. Mas este não é o único
ponto a ser analisado.
Como entende-se, já senso comum, não há veículos de comunicação
neutros ou que definem a objetividade como meta, pois não existe –
talvez o que se busca é o mais próximo do objetivo. A definição de uma
matéria em rodapé, como é o caso das manifestações em praça pública,
definem a posição da editoria de política.
Outro fator importante, que o
Popular negligencia, é a falta de uma opinião eclética, pois o seu
editorial e as opiniões se isentam das discussões em pauta. O debate
precisa ser feitos, com ampliação de vozes no jornalismo.
Em tempo, o Jornal O Popular, não há dúvida, tem grande importância
para o debate público. Afinal é o mais lido pelos formadores de opinião,
o que no final apenas ratifica a abordagem crítica, inclusive feita
pela jornalista.
Se realmente as análises são pertinentes, corroborando com o
pensamento da editora-chefe, com as novas mídias de informações e
ampliação da comunicação na sociedade, o jornalismo oficial vai perdendo
terreno e sendo questionado pela opinião pública.
Notória a
dificuldade de sobrevivência de algumas empresas de comunicação neste
“mercado de ideias”, como é o ícone deste processo do americano New York
Times, que sofre com a perda de audiência no seu jornal tradicional e
caminha para o nervoso do mundo digital.
***
Jornal O Popular / Opinião
Da redação
Cileide Alves
Imprensa e crises
A Operação Monte Carlo, desencadeada pela Polícia Federal (PF) e pelo
Ministério Público Federal (MPF) em 29 de fevereiro, revelou ao Brasil o
esquema grandioso montado por Carlos Augusto Ramos, o Carlos Cachoeira,
para sustentação de jogos ilegais e também de uma teia envolvendo
autoridades no lobby de negócios milionários de empresas com governos e
prefeituras.
A complexidade dessa ramificação, que levou o PF e o MPF a
denunciá-lo e a mais 80 pessoas não apenas por contravenção, mas também
por corrupção ativa e passiva, tem surpreendido a sociedade. Entretanto,
quem acompanhou O POPULAR nos últimos anos tinha noção dos interesses e
da forma de agir do empresário.
Em 7 de dezembro de 2005, O POPULAR publicou a reportagem
Denunciada venda de sentença para Cachoeira,
informando sobre denúncia contra um juiz, um procurador de Justiça
aposentado e Cachoeira, acusados de compra de sentença favorável à
Gerplan, empresa de loteria do empresário. O jornal acompanhou essa
denúncia, que segue sem decisão e em segredo de Justiça no Tribunal de
Justiça de Goiás.
Em 21 de maio de 2006, O POPULAR mostrava em
Os negócios suspeitos do lixo
que licitações irregulares, contratos superfaturados ou não executados e
troca de favores no jogo político eram vícios comuns na prestação
terceirizada de serviços de limpeza urbana e que uma empresa do
empresário estava entre as beneficiadas nessas licitações em Goiás.
A suspeita de envolvimento de policiais militares com o esquema de
jogatina montado pelo empresário também já foi muito retratada pelo
jornal. Caso da reportagem,
Bingos funcionam sob vista grossa da polícia
(19/12/07), com flagrantes fotográficos de carros da polícia dando
proteção a casas de jogos em Goiânia. Novamente o assunto apareceu em
Policiais coniventes com jogatina estão impunes (5/1/08).
Esse histórico mostra a gravidade do assunto, a necessidade da defesa
da legalidade e do Estado de Direito e a relevância do assunto para a
sociedade goiana. Por isso, desde que a Operação Monte Carlo foi
desencadeada, O POPULAR tem dedicado intensa cobertura do caso e em 46
edições impressas desde então ele foi manchete 29 vezes. Nos dias em que
não foi manchete, ganhou chamada de destaque na capa do jornal. A
maioria com informações inéditas.
A imprensa precisa aprimorar-se, encontrar caminhos para fugir do
oficialismo, da burocratização e da inércia, males que ainda assolam
muitas redações. Há pelo Brasil veículos que se enquadram no primeiro
time, como também veículos que buscam aperfeiçoar-se e fazer um
jornalismo que seja cada vez mais relevante para seus leitores e para a
sociedade. O POPULAR, que completou 74 anos dia 3 de abril, se inclui
neste segundo grupo.