Neste quesito pode surgir a segurança de que não passe de acontecimento efêmero, e deve ser, mas permite imaginar deformações da estrutura, pouco aparentes ainda – ou não, mesmo que se veja – a ponta do iceberg
Uma
narrativa de filme, ficcional, mas que no final descortina uma
realidade ressurgindo milhares de pessoas nas ruas, numa condição que
não atinge apenas seres marginalizados, do submundo, dos guetos
periféricos. A principal rua do mercado financeiro tornou-se o cenário
para as revoltas, que envolve ficção e realidade em tempos de
tecnologia.
A crise mundial não é de hoje, e os movimentos sociais também não surgiram neste século, sempre houve contestações que geraram constrangimentos e depois acomodação – razão pela qual muitos articulistas definem seu posicionamento, diante dos exemplos imediatos. Entretanto, não se pode afirmar que estes foram em vão, além do que fazem parte de um movimento natural, no terreno da prática de relações econômicas – a pobreza é visível para quem vive nela, ou poderá encontra-la pela frente.
Ademais, os tempos atuais se diferenciam do passado, considerando, então, que o estar no mundo é uma realidade vivida por muitos, na marginalidade de um sistema regulador, aqueles do lado de fora, que sempre quiseram participar da festa do desenvolvimento econômico. A tecnologia da informação apresenta a união de desafortunados em diferentes quadrantes para um só lugar de raciocínio. Algo deverá resultar dos movimentos atuais, mesmo que haja tentativa de esvaziá-los politicamente, logo se mostrando-se apenas como fagulhas – a fumaça demonstra índice para fogo.
Vale lembrar que são multidões nas ruas desde o Egito até Wall Street (EUA), passando por países europeus, como Portugal, Espanha, França. São bandeiras que servem as demandas do momento, as quais se relacionam com algo simples: o desejo de um mundo em que, na realidade, haja quinhão na modernidade para comunidades singulares, inteiras, atualmente vivendo papel de coadjuvante, incluída a classe média.
Talvez seja importante a retomada das instituições, no sentido de se adaptarem aos novos tempos de comunicação rápida, numa interação que gera constrangimentos e exigências. Sem dúvida já era sem tempo, afinal foram séculos de pensamento visto como correto de sociedade passiva, vivendo a reboque das decisões centralizadas. Neste quesito pode surgir a segurança de que não passe de acontecimento efêmero, e deve ser, mas permite imaginar deformações da estrutura, pouco aparentes ainda – ou não mesmo que se veja – a ponta do iceberg.
Como estamos no território de negociações duras, difícil saber de antemão as estratégias para a manutenção da ordem. Talvez um remendo aqui e outro acolá, mas fica no ar a substancialidade das vozes que podem falar. A política da economia moderna tem uma pedra pelo caminho.
0 comentários:
Postar um comentário
Dar a sua opinião é participar, ativamente, do espaço social.