Política, pedras pelo caminho


Neste quesito pode surgir a segurança de que não passe de acontecimento efêmero, e deve ser, mas permite imaginar deformações da estrutura, pouco aparentes ainda – ou não, mesmo que se veja – a ponta do iceberg


Movimentos sociais – Não há dúvida que os movimentos sociais, promovidos substancialmente pelos jovens mundo a fora, hoje, representam um momento importante da sociedade moderna. A rigor, são vozes que surgem em favor de um sistema econômico que está – e permanentemente – na contramão de uma globalização que sirva aos interesses do grande número de populares, mas que permite apenas uma porcentagem mínima de cidadãos, de fato, trafegarem pelo globo terrestre, como se o encurtamento das distancias territoriais formasse fisicamente uma aldeia global, na geração de domínio em todas as instancias sociais – poder eficiente. Ao seu alcance todas as novidades e desfrutes de produtividade em ritmo acelerado, enfim um paraíso, o qual seleciona de maneira feroz os iluminados e os produtores.

Uma narrativa de filme, ficcional, mas que no final descortina uma realidade ressurgindo milhares de pessoas nas ruas, numa condição que não atinge apenas seres marginalizados, do submundo, dos guetos periféricos. A principal rua do mercado financeiro tornou-se o cenário para as revoltas, que envolve ficção e realidade em tempos de tecnologia.

A crise mundial não é de hoje, e os movimentos sociais também não surgiram neste século, sempre houve contestações que geraram constrangimentos e depois acomodação – razão pela qual muitos articulistas definem seu posicionamento, diante dos exemplos imediatos. Entretanto, não se pode afirmar que estes foram em vão, além do que fazem parte de um movimento natural, no terreno da prática de relações econômicas – a pobreza é visível para quem vive nela, ou poderá encontra-la pela frente.

Ademais, os tempos atuais se diferenciam do passado, considerando, então, que o estar no mundo é uma realidade vivida por muitos, na marginalidade de um sistema regulador, aqueles do lado de fora, que sempre quiseram participar da festa do desenvolvimento econômico. A tecnologia da informação apresenta a união de desafortunados em diferentes quadrantes para um só lugar de raciocínio. Algo deverá resultar dos movimentos atuais, mesmo que haja tentativa de esvaziá-los politicamente, logo se mostrando-se apenas como fagulhas – a fumaça demonstra índice para fogo.

Vale lembrar que são multidões nas ruas desde o Egito até Wall Street (EUA), passando por países europeus, como Portugal, Espanha, França. São bandeiras que servem as demandas do momento, as quais se relacionam com algo simples: o desejo de um mundo em que, na realidade, haja quinhão na modernidade para comunidades singulares, inteiras, atualmente vivendo papel de coadjuvante, incluída a classe média.

Talvez seja importante a retomada das instituições, no sentido de se adaptarem aos novos tempos de comunicação rápida, numa interação que gera constrangimentos e exigências. Sem dúvida já era sem tempo, afinal foram séculos de pensamento visto como correto de sociedade passiva, vivendo a reboque das decisões centralizadas. Neste quesito pode surgir a segurança de que não passe de acontecimento efêmero, e deve ser, mas permite imaginar deformações da estrutura, pouco aparentes ainda – ou não mesmo que se veja – a ponta do iceberg.

Como estamos no território de negociações duras, difícil saber de antemão as estratégias para a manutenção da ordem. Talvez um remendo aqui e outro acolá, mas fica no ar a substancialidade das vozes que podem falar. A política da economia moderna tem uma pedra pelo caminho.

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