Na essência a formação do sistema depende da participação da opinião pública, entretanto, está envolta a definições tomadas de maneira tão-somente racionais e que agrega valores pré-estabelecidos que formam o conhecimento, a passividade e a aceitação.
Comum discutir os problemas sociais com base simplesmente no campo político, o que se efetiva um engano. Frases são repetidas na ordem do dia sem avaliar, de fato, o que significam. “O Brasil vai bem, mas o povo vai mal,” “ a culpa é do governo” ou ainda “todo político é ladrão,” etc. O que pouco se questiona é como o sistema social funciona na sua amplitude. Afinal, imaginar que a política é o ponto para todos os problemas seria muita ingenuidade do homem em sociedade, que depende do sistema para existir, principalmente em um mundo cada vez mais urbano, pós-moderno e complexo. A construção do pensamento passa antes pela estrutura em que se solidificam as instituições que conduzem as ações do indivíduo em sociedade.
A política faz parte desta estrutura, mas de longe é a mais importante para edificação deste espaço. Podemos enumerar outros tantos lugares fundamentais como a mídia, a religião, o mercado, as instituições não-governamentais, chamadas de terceiro setor e, talvez por último – no contexto que se vive na contemporaneidade - a organização social em comunidade, imbricada pelas diversas culturas.
Na essência a formação do sistema depende da participação da opinião pública, entretanto, está envolta a definições tomadas de maneira tão-somente racionais e que agrega valores pré-estabelecidos que formam o conhecimento, a passividade e a aceitação. Se há divergência e convergências não nascem do nada, mas das relações que perpassam primeiro um jogo que envolve vários agentes sociais.
Na sociedade capitalista, primeiro a força econômica que exige de todos a busca por um determinado caminho, a partir das definições no cenário dos movimentos sistematizados pelo mercado. A ordem não ocorre efetivamente nos interesses de uma maioria (opinião pública), simplesmente, como se faz parecer, mas conforme a necessidade de manutenção e funcionamento deste sistema. Verdadeiramente não há nenhuma novidade nesta afirmação, apenas importante avaliar que as mazelas sociais não estão efetivamente em um ponto: a política. No Brasil o fim da monarquia se dá em função dos interesses econômicos e políticos para um país, então, democrático. Surge a República. Os militares, para se estabelecerem no poder, contaram com o apoio de importantes lideranças políticas e da chamada grande mídia, bem como também para o seu fim, em função, sobretudo, da falta de entendimento entre poder político e mercado.
Difícil imaginar que a saída de um presidente se dá efetivamente por força da sociedade, um ledo engano. Uma mediocridade tamanha que assusta pessoas que tenham um raciocínio mediano. Afinal, como podem retirar do poder o presidente e manter (eleger) aqueles que o auxiliaram.
Possível inclusive, alguém imaginar que um governo popular se efetiva em função dos desejos sociais, mas não se pode esquecer que as instituições predominantes falham, a sociedade perde os referenciais sistêmicos e dá-se o que na academia chamam de mudanças de paradigmas – os modelos sociais. Contudo, tornou-se necessário que o então candidato dos pobres fosse a público sinalizar mudanças ou manutenção da ordem que fossem aceitas por instituições que se despontam na formação da consciência e dá estrutura a nação. Caso contrário, possivelmente, o presidente seria, sumariamente, outro, mesmo considerando os interesses comunitários localmente.
Desta forma, torna-se simplicidade imaginar que a saída de um senador vistoso, de um deputado de destaque interferirá no processo na ordem que se estabelece em uma nação como a brasileira. As mudanças são, substancialmente necessárias, mas o buraco certamente é mais embaixo, é sistemático.